ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 28º

Artes

Trazido por Jandira e Benites, pianista viu Campo Grande mudar ao longo dos anos

Naiane Mesquita | 15/01/2016 06:23
Júlio Cheda é uma memória viva da época de ouro do piano em Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)
Júlio Cheda é uma memória viva da época de ouro do piano em Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)

Ao longo de seus 75 anos, o pianista Júlio Cheda tem uma memória de impressionar. Sabe, com precisão quando deixou a cidade natal, Montevidéu, no Uruguai, com destino a São Paulo. O ano era 1972 e mesmo com a oportunidade de seguir carreira no México, o pianista já estava apaixonado por Vinícius de Moraes e a grande Maysa.

Com lembranças fortes da música brasileira, o jovem cruzou a fronteira e se instalou na capital paulista. Foi apenas em 1978, pelas mãos de Jandira e Benites que ele teve a oportunidade de conhecer Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

“Quem me trouxe para cá foi Jandira e Benites. Eles me contrataram em São Paulo. Na época eu trabalhava em uma churrascaria, nessa casa eu acompanhava um cantor de tango que chamava Carlos Lombardi, era muito famoso na época no Brasil. Eles me viram tocar lá e eu vim com o Lombardi para aqui. O Pedro Pedrossian (ex-governador) falou para a Jandira, tem que trazer esse pianista para tocar aqui”, conta, lembrando que o restaurante "La Carreata" da dupla Jandira e Benites era um dos mais badalados da Capital.

O uruguaio que há muitos anos deixou o país de origem ainda tem um sotaque bem característico. De uma simpatia que encanta, ele confessa que foi humorista quando jovem, mas não conseguiu seguir a carreira no português.

Autógrafo que carrega de Paco de Lucia, guitarrista flamenco, que ele acompanhou em 1973 em São Paulo. (Foto: Fernando Antunes)
Autógrafo que carrega de Paco de Lucia, guitarrista flamenco, que ele acompanhou em 1973 em São Paulo. (Foto: Fernando Antunes)

Seguindo com a história, Júlio relembra que foi contratado para tocar piano no Terraço Cosmo, de um chinês, que também tinha uma churrascaria muito famosa aqui, a Majestic. De lá, seguiu para a fronteira, a cidade de Ponta Porã, onde até hoje mantém a tradição de tocar em hotéis e pousadas.

“Em Campo Grande as pessoas perderam esse costume. Mas, antigamente, o dono de hotel preferia que o cliente gastasse no hotel, então contratava músicos, servia bebidas e o jantar. Pronto, o hóspede desistia de gastar fora e consumia no hotel”, explica.

Entre idas e vindas de Ponta Porã a Campo Grande, Júlio se estabeleceu no Rádio Clube, ainda na década de 80. “Me apresentei também no Hotel Campo Grande, de 1983 a 1988 e morei em Foz do Iguaçú. Vivi ainda o auge do Rádio Clube”, diz.

Dessa época, ele se lembra com clareza da importância do restaurante e bar para a alta sociedade. “Se um médico novo chegasse na cidade ele tinha que se associar ao Rádio Clube ou não era aceito pela sociedade. Todo mundo comentava que chegou alguém novo, isso a alta sociedade”.

As mãos ágeis agora tocam o teclado. (Foto: Fernando Antunes)
As mãos ágeis agora tocam o teclado. (Foto: Fernando Antunes)

De lá, ele ainda carrega histórias de personagens que o tempo deixou para trás. “Tinha o garçom Faixa, que era corretor de imóveis também e enquanto servia as mesas oferecia uma casa ou terreno”, ri. O nome Faixa, era porque “com ele era tudo na faixa”, se diverte.

Para o pianista uruguaio, Campo Grande já viveu o ápice da noite. “A melhor banda que existiu nessa cidade foi Zurique, do Miguelito. Tudo era muito movimentado. Tinha o Cabana Gaúcha, com um trio de música paraguaia, o Rádio Clube que tinha o piano, outros lugares com samba, o clube Surian, o Libanês que concorria com o Rádio Clube. Hoje, os empresários erguem uma casa noturna com todo o luxo e querem pagar R$ 30,00 para o músico. Eles não gostam que o músico faça mais sucesso que a casa”, provoca.

Hoje, o pianista que tocou nos principais hotéis da cidade faz arranjos ao lado da esposa Kelby e shows para buffets, casamentos e festas da Capital. "Continuo tocando e tudo pelo computador. A gente tem que se adaptar as tecnologias", diz.

Curta o Lado B no Facebook.

Nos siga no Google Notícias