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Artes

Única mulher em estúdio com 4 homens, Liu é tatuadora apegada ao estilo clássico

Paula Maciulevicius | 14/07/2014 06:34
No lugar predominantemente ocupado por homens é que Liuana descobriu onde estava sua vocação profissional. (Fotos: Marcelo Victor)
No lugar predominantemente ocupado por homens é que Liuana descobriu onde estava sua vocação profissional. (Fotos: Marcelo Victor)

Na lista de estúdios de tatuagens da cidade a pergunta por mulheres tatuadoras é respondida por um não frustrado. Num espaço até então predominantemente ocupado por homens é que Liuana Domingues de Oliveira, de 29 anos, descobriu onde estava sua vocação profissional.

Conhecida como Liu ela é umas poucas tatuadoras de Capital. A única mulher da loja “Hard Work”, divide o estúdio com quatro homens, um deles o marido, que foi quem lhe ensinou a arte de tatuar como profissão.

Liu cresceu em Amambai, cidade da região Sul do Estado e teve a primeira admiração por tatuagens ao olhar os braços de um professor no colégio. De pele negra, a tinta não fazia contraste e o desenho era quase que imperceptível, mas ainda assim prendia a atenção da estudante.

Conhecida como Liu, uma das poucas tatuadoras da Capital é daqui mesmo, criada em Amambai.
Conhecida como Liu, uma das poucas tatuadoras da Capital é daqui mesmo, criada em Amambai.

“Eu tinha 12 anos, olhava e achava um máximo. Não tinha noção que ia gostar disso, trabalhar com tattoo, mas achava incrível”, conta.

Somente aos 18 anos ela teve a autorização da mãe para fazer a primeira tatuagem. Mesmo maior de idade, a mãe ainda impôs condições, de que teria de ser uma rosa e na nuca. “Tinha emprego, arrumei o dinheiro e fui fazer. É um clássico desenho de tattoo”, explica.

Da primeira para a segunda arte passou-se apenas um mês. “Antes era empolgação ter o corpo fechado por tatuagens, mas não é assim. Não é qualquer coisa que eu quero no meu corpo”, sustenta.

Nas costas, braços, pernas e mãos, a tatuadora contabilizou 14 desenhos ao longo dos últimos 11 anos, desde que fez a primeira. E foi justo num estúdio, ao fazer uma das tatuagens é que ela conheceu o marido, também tatuador, Hugo Guaracy.

“Eu sempre gostei de desenho, mexia com pintura em tecido. Conheci o Hugo, ele já era tatuador e me mostrou a facilidade que eu tinha”, descreve. Os primeiros passos para encarar o hobby como atividade profissional partiram dali, 9 anos atrás.

“Eu impulsionei, mas ela já era envolvida, já gostava, já pintava e desenhada, então por que não? Era um mercado promissor”, comenta Hugo.

Dos gostos em comum e da profissão que Hugo despertou em Liu, nasceram também os “dois filhos em comum”.
Dos gostos em comum e da profissão que Hugo despertou em Liu, nasceram também os “dois filhos em comum”.
Um dos quadros da casa, foi desenhado por Liu em conjunto com a filha Yolanda. Um tigre com braços e pés.
Um dos quadros da casa, foi desenhado por Liu em conjunto com a filha Yolanda. Um tigre com braços e pés.
Das 14 tatuagens, rosa na mão é a única feita pelo marido até hoje.
Das 14 tatuagens, rosa na mão é a única feita pelo marido até hoje.

Dos gostos em comum e da profissão que Hugo despertou em Liu, nasceram também os “dois filhos em comum”, brinca o marido. Hoje casados, Hugo e Liu tem Matheus de 8 anos e Yolanda, de 4. A casa onde moram não tem nada à vista que denunciem a vocação dos donos e de trilha sonora, a televisão passava o filme “Meu malvado favorito” para as crianças.

A arte também está no lar do casal e em peças de decoração. Um dos quadros da casa, foi desenhado por Liu em conjunto com a filha Yolanda. “Eu estava desenhando a cabeça de um tigre, deixei em cima da mesa, no outro dia, quando fui pegar, ela tinha desenhado. Na hora eu fiquei brava, mas ela chegou e falou viu que eu fiz mãozinha e pezinho no seu tigre?” A mãe se desarmou e se rendeu à linha de pensamento infantil da filha, de que faltavam mãos e pés para o tigre ficar completo.

No estúdio é onde estão os desenhos de Liu, o amor e a dedicação dos dois por tatuagens. Recentemente, o casal se juntou com três amigos que unidos abriram o Hard Work Tattoo Parlour. A única mulher do grupo passou a atender clientes e encarar a tatuagem como profissão há quatro anos, depois de muito aprendizado.

“A gente aprende todo dia, o tempo inteiro. Eu tenho várias referências, gosto de muita coisa, tudo o que for bom e clássico, vai me servir”, pontua Liu. Os dois trabalham como um conceito de arte por trás dos desenhos tatuados na pele.

“Temos uma proposta diferente de trabalho, mais para o lado artístico. A tatuagem se popularizou e acabou virando comercial. A gente também está vendendo e sobrevive disso, mas acredita que está ligado a arte, ao design do corpo, cada cliente é diferente, não se faz tattoo de momento”, prega o casal.

Questionada sobre a reação das pessoas diante do fato, quase inédito, de ser tatuadora em Campo Grande, Liu fala que preconceito nunca sofreu, mas que é engraçado ver como as pessoas reagem.

“Elas ficam muito surpresas porque a maioria dos tatuadores são homens, como em quase tudo, as mulheres estão alcançando seu espaço e na tattoo é a mesma coisa, se surpreendem, mas é legal”, relata.

Como tatuadora, Liu estuda um estilo mais tradicional da arte e adota o clássico de linhas mais grossas, sem tanta torsão e efeito de pintura mais chapada. “Uma forma de desenho, de estilo que eu admiro é esse, de traços pretos, pintura mais sólida, a cara da tatuagem mais tradicional e clássica”.

Por enquanto, a única tatuagem que tem no corpo, feita pelo marido, é a rosa que desenhada na mão, como presente de cinco anos de casados. O estúdio onde eles trabalham fica na sala 17 da Galeria Dona Neta, na avenida Afonso Pena, Centro de Campo Grande.

A única mulher da loja “Hard Work”, divide o estúdio com quatro homens, um deles o marido. (Foto: Josi Grenge)
A única mulher da loja “Hard Work”, divide o estúdio com quatro homens, um deles o marido. (Foto: Josi Grenge)
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