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Artes

"Ele é o blues" e agora ganha reconhecimento em documentário

Ângela Kempfer | 27/10/2011 13:50
Renato e a cerveja. (Reprodução do Facebook)
Renato e a cerveja. (Reprodução do Facebook)

Renato Fernandes não é bonito, nada dedicado à simpatia explícita, bebe, fuma e diz ser preguiçoso...é tudo que o blues exige. Para o convite da primeira banda, os amigos tiveram de peregrinar por bares do bairro Santo Amaro, até encontrar o músico, na mesa de boteco.

Dentro de um Opala, o guitarrista Fábio Brum e o baterista Pezão fizeram a proposta, criar a primeira banda de blues de Campo Grande. Mostraram algumas experiências em fita K7 e arrumaram um vocalista para a Blues Band.

“Lembro muito bem da reação dele (Renato) quando mostramos o som: ‘Porra, era isso que eu procurava”, conta Fábio

Hoje, depois de 21 anos entre algumas letras sarcásticas e acordes doídos, Renato “É o Blues”, um documentário já disponível no You Tube que fala o tempo todo do personagem, mas serve para contar história da música em Mato Grosso do Sul.

O “homem blues” é entrevistado em casa, com retratos de Marilyn Monroe ao fundo, um copo de bebida e caixa de fósforos ao lado, o cigarro na mão, além de Elvis no adesivo do violão, instrumento que Renato explora sem nem uma aula durante a vida.

O filme de 1h06 é assinado por Kleomar Carneiro e Vinícius Bazenga, realizado como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo. Com as limitações de uma estrutura acadêmica, os dois tiraram dinheiro do bolso, aprenderam a técnica e investiram na ideia que agora ganha repercussão na internet. “Tem gente de outros estados comentando. Uma menina até reclamou que o Renato não vai para São Paulo e disse que vai vir para Campo Grande para ouvir a música dele”, conta Kleomar.

Vinícius, o fã, trabalhava a ideia desde que entrou na faculdade. Apesar de 11 anos acompanhando o blues como ouvinte, não tinha qualquer relação com Renato, o que rendeu boas surpresas. “O Renato é meio mitológico na noite, fechado, parece nada acessível, mas deu uma entrevista de 2 horas e meia, foi surpreendente”.

No palco, com bêbados Habilidosos.
No palco, com bêbados Habilidosos.

Com o documentário ele espera registrar o que o músico representa. “As pessoas têm de saber que se hoje tem banda tocando em bares de Campo Grande,é porque a Blues Band teve a manha de começar e que os grupos de hoje só dão continuidade ao que o Renato cavou, com a música autoral”, justifica Vinícius.

Selvagem - Já de saída, a entrevista com o amigo Clayton Salles resume Renato: “É um selvagem. Ele é o nosso blues. Ele consegue criar o nosso blues sem cantar as coisas regionais. Ele não canta as maravilhas do Pé de Cedro, as grutas de Bonito...Ele canta Renato”.

A história do vocalista referência do blues sul-mato-grossense e a mesma da música e da persistência diante dias e mais dias de casa noturna vazia.

Apareceu com a Blues Band em 1990 e quando a curtição acabou a banda partiu-se ao meio, em dois dos melhores grupos hoje na ativa: Bêbados Habilidosos e o Bando do Velho Jack.

Renato ficou com os Bêbados e Fábio com o Bando, na mesma época em que muita gente vinha de fora e descobria que Mato Grosso do Sul era bem mais que os ritmos regionalistas.

As bandas iam se formando com garotos recém chegados de São Paulo e Rio de Janeiro, surpresos com a qualidade do que ouviam na noite de Campo Grande.

“Eu tinha mudado de São Paulo para cá e não imaginava que aqui ia encontrar banda de blues. Se hoje ainda é música sertaneja carro-chefe do Estado, imagina antes, não tinha espaço para o rock”, lembra o baixista do Bêbados Habilidosos, Marcelo Rezende.

O baixista do Bando do Velho Jack, Marcos Yallouz, teve sensação semelhante ao descobrir o blues por estas bandas, depois de anos no Rio de Janeiro. “De repente eu vejo um cartaz: Show da Blues Band, na chácara São José, onde hoje é o Parque das Nações Indígenas. Fiquei contando os dias para ver”.

E assim segue o filme, com muitas histórias pessoais, como o casamento que começou com uma brincadeira. “A aposta foi ver quem ia namorar com ele por uma semana”, diz a ex-mulher Sara Messa.

O documentário renderia muitos outros parágrafos, mas o melhor é assistir a história de um cara que não persegue a fama.

"Ele é o blues" e agora ganha reconhecimento em documentário
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