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Artes

Nova geração da música sul-mato-grossense não quer mais cantar o Pantanal

Anny Malagolini | 07/05/2012 11:09
Banda Bella Xu. (Foto: Divulgação)
Banda Bella Xu. (Foto: Divulgação)

A música produzida hoje em Mato Grosso do Sul não canta mais o Mar de Xaraés, o Rio Paraguai, as chalanas ou a boiada. As canções são dia-a-dia menos Pantanal e cada vez mais natureza humana. Assim como no Brasil a MPB é renovada com Criolo, Céu, Tiê, Cidadão Instigado...por aqui a transformação chega ao som de Dombraz, Bella Xu, Vinil Moraes, Curimba...

É o fim do ciclo da geração 60, 70, apesar da vivacidade de Geraldo Espíndola, Guilherme Rondon, Paulinho Simões, Almir Sater e os grandes ícones culturais sul-mato-grossenses, um movimento que há tempos já estava aí com Jennifer Magnética e Dimitri Pellz, sempre na base do “independente”.

As letras agora falam de “Porrada sempre no mesmo lugar”, da “Maldita Zuca” e do amor que “não é dado de graça” e as bandas têm público, vira e mexe lotam bares e festas em Campo Grande.

A viola continua só na transição, nas mãos de Guga Borba, um dos poucos ainda influenciados por elementos “folclóricos”, como “Nossa Senhora do Pantanal” e “Velho do Rio”. “Tento mostrar o lado bom e ruim de se viver aqui”, explica.

Para ele, a nova geração de músicos não viveu a época do Trem do Pantanal e nunca viajou pelo Estado, o que faz uma tremenda diferença. “Nós contamos histórias do que vivemos, e eu vivi isso”.

Vinil Moraes, 29 anos, diz que até conhece o Pantanal, o Rio Paraguai, mas não a ponto de ser influenciado. “Eu até já pensei em escrever sobre isso, mas não rola, não vivo isso, sou douradense e criado na Capital. O mais próximo que cheguei do Pantanal foi quando visitei Corumbá para a gravação de um videoclipe”, justifica o músico que vestiu o reggae para falar de política, drogas, comportamento.

“Eu não tenho contato com o Pantanal, não tenho dinheiro, as viagens não são acessíveis financeiramente. Eu acredito que os músicos mais antigos tinham mais condições, tinham fazendas, podiam observar a natureza. Nossa geração não”.

O Dombraz também tem referências bem mais urbanas. "A banda tem raízes no samba e trilha caminhos por entre a chamada Nova MPB”, deixa claro no perfil do Facebook.

O amor, a saudade e as coisas do cotidiano são recorrentes. “Não fomos influenciados a fazer música pantaneira, nossas referencias é a MPB, livros. Não sou fã, mas conheço e aprecio o trabalho de Geraldo Roca, Paulinho Simões. A antiga geração abriu caminho para nós”, reconhece o vocalista Chris Haicai, de 32 anos.

Na opinião dele, a vida em Campo Grande também tem outros cenários atualmente. “Aqui não tem Pantanal, é uma cidade cinza, cheia de concreto”.

Caçula do clã Espíndola, aos 47 anos Jerry roda o Estado como se ainda tivesse 20. Desde que começou a compor, os elementos urbanos são mais fortes que a tradição.

Na canção mais recente, “Mundo louco”, fala sobre vários lugares do mundo, como Alemanha, Argentina e Bonito, mas não sobre o Pantanal. “A falta de músicas que falam sobre o Pantanal é o retrato da questão urbana”, argumenta.

Vocalista e guitarrista da banda Bella Xu, Jenner Melo, 21 anos, conta que na banda nenhum é genuinamente sul-mato-grossense, mas pelos anos de casa já se consideram verdadeiros conterrâneos.

“Ouvir musica regional, ouvimos, como por exemplo, os músicos da família Espíndola, é um influencia, mas não faz nosso estilo. Nunca pensei em escrever sobre o Pantanal, não faz parte da minha realidade. Somos uma banda urbana. Não erguemos a bandeira pantaneira, mas conheço e aprecio o Pantanal sim. Nossas letras falam sobre o amor”.

Dombraz em dia de show lotado. (Foto: Divulgação)
Dombraz em dia de show lotado. (Foto: Divulgação)
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