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Artes

Pela 1ª vez em 40 anos de carreira, Geraldo Espíndola assume “culpa” por CD

Ângela Kempfer | 25/10/2011 14:09
Pela 1ª vez em 40 anos de carreira, Geraldo Espíndola assume “culpa” por CD

Desde que começou a compor, há mais de 40 anos, Geraldo Espíndola tem ao lado um aparato de músicos e até maestro. Mas depois de tanta interferência ele resolveu assinar sozinho um trabalho e se prepara para lançar CD com 14 músicas inéditas.

Sem dúvida, um dos maiores compositores de Mato Grosso do Sul brinca ao resumir a proposta. “Sou 100% culpado. O CD é só meu e de um técnico, não há mais ninguém”.

As composições são mais para “Vida Cigana” do que “Kikio”, dois hits do compositor, a primeira regravada mais de 120 vezes, segundo os amigos.

“Estava revoltado comigo mesmo. Sempre tinha alguém opinando, nunca fiz nada com a minha cara. Tenho mais de 400 amigos músicos, muitos queriam tocar comigo de graça, mas agora é a minha vez.”

Extremamente simpático (como sempre) e jovem (como há décadas), Geraldo não tem pudor em comentar que até agora não conseguiu compor o que busca.

“Quero alguma coisa diferente, que ninguém inventou, mas simples, direta. Fico me perguntando até que ponto estou sendo imbecil ou verdadeiro. Só vou lançar o CD quando eu encontrar isso”.

Os Espíndolas...
Os Espíndolas...

Ele tirou algumas canções da gaveta, de parcerias nunca gravadas, mas não em papéis preenchidos. Geraldo garante que guarda tudo na memória, sem precisar escrever uma linha. “Sou capaz de guardar uma música por 40 anos”.

Mas também tem facilidade de esquecer, quando a música é uma decepção. “Ouço e penso, como pude compor essa droga? O que aconteceu comigo? Daí esqueço.”

A diferença que busca é a marca que espera deixar para outras gerações, “para que lá na frente alguém procure e ache nesse CD a janela que estava buscando, o arranjo que queria, a letra que emociona”.

A ideia inicial era concluir o novo trabalho em janeiro, mas ele não tem pressa. É a primeira vez sem direção e também a primeira experiência com recursos do Fundo de Incentivo à Cultura. O músico conseguiu R$ 15 mil, quantia que nem sequer paga o estúdio, reclama Geraldo, mas é uma conquista depois de 40 anos de carreira e músicas símbolos do Estado.

Geraldo assegura que nunca pensou em viver outra vida, de muito dinheiro ou grandes produções. “Gosto de ser palhaço, mas não quando tenho de ser, quando alguém manda eu ser. Gosto quando eu quero ser palhaço”.

Geraldo e a nova geração.
Geraldo e a nova geração.

Sem preconceito, elogia Luan Santana e confessa que quer mesmo é compor um “chicletinho”, aquela música que gruda no ouvido e virá sucesso. “Adoro chiclete”, ri.

Compara o gurizinho de Jaraguari a Almir Sater, pelo preparo e paciência para a fama. “Na nossa geração, o Almir tinha a estrela. Alguém colocou a mão na cabeça dele e disse: você vai dar certo. O mesmo acontece com o Luan. O menino tem alguma coisa que ninguém tem. É a estrela”.

O músico administra o sucesso de anos com pagamentos à associação do Rio de Janeiro, para garantir direitos autorais e recebe, com muito suor, “pequenas fortunas mensais”, diz.

Vovô recente, ao mesmo tempo em que fala com brilho do neto de 2 anos, “que já pega no violão como o avô”, ele diz a gargalhadas que está se preparando para morrer. “Tenho 60 anos, tenho de pensar no que é inevitável e no que eu vou deixar”.

O pai já completou 95 anos, uma mostra de que muita coisa ainda deve sair da cabeça de Geraldo. “Papai é lúcido, tanto que não quer mais ouvir. Ficou surdo, mas diz que não tem nada mais para ouvir mesmo”.

Ele não perde o contato com os músicos mais jovens. “Vivo com eles por aí, mas enquanto tá todo mundo na cachaça, tô na água mineral”. E cita algumas bandas que admira. “”Tem o Louva Dub, o Curimba, tantas outras. Queria que o Estado conseguisse mostrar isso para o Brasil”.

No dia 18 de novembro, Geraldo Espíndola mostra algumas das músicas inéditas em show no Pantanartes, rua Eduardo Santos Pereira, 1231, entre as ruas Brasil e 25 de Dezembro.

No palco.
No palco.
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