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Artes

Uma noite de fazer chorar, com as músicas que Mato Grosso do Sul mais gosta de ouvir

Paula Maciulevicius | 23/05/2012 08:58
Prata da Casa emocionou ao relembrar três décadas. "A gente espera que se repita daqui 30 anos e se der, daqui 60 anos", brincou Almir Sater. (Foto: Simão Nogueira)
Prata da Casa emocionou ao relembrar três décadas. "A gente espera que se repita daqui 30 anos e se der, daqui 60 anos", brincou Almir Sater. (Foto: Simão Nogueira)

"A emoção é a mesma daquele momento. Muitos amigos, autores que a gente não vê todo dia sob o mesmo manto sagrado da música", definia Celito Espíndola. "Pode escrever que vai rolar emoção", antecipava Almir Sater.

Eles já previam parte do sentimento e do público ao voltar ao palco com as mesmas músicas de 30 anos atrás, do LP "A Prata da Casa". Reviver três décadas era o proposto desde o início e se cumpriu, logo na primeira música.

Quem abriu a noite foi o grupo "Acaba". Ao subirem ao palco, ainda nos últimos ajustes, o que se viam eram olhos curiosos, ansiosos e até em êxtase de ver tudo de novo, com um gosto ainda melhor, de pitadas de saudade.

Eles mal haviam começado a entoar os ritmos do Pantanal e as palmas eram calorosas. Aplausos de emocionar quem viveu aquele festival e de quem via pela primeira vez. O público era uma mistura só. Os jovens presentes eram como os rostos da época, hoje acompanhados dos pais.

"Ainda criança aprendi o caminho do pântano e embora sem pena, aprendi a voar", foi cantado em coro. As luzes verdes do cenário contrastavam com o branco usado pelo grupo. Ao fechar a canção o público pediu bis.

Grupo Acaba abriu a noite. Bastou que eles subissem ao palco e ecoassem os ritmos pantaneiros declarando aberta oficialmente a sessão nostalgia. (Foto: João Garrigó)
Grupo Acaba abriu a noite. Bastou que eles subissem ao palco e ecoassem os ritmos pantaneiros declarando aberta oficialmente a sessão nostalgia. (Foto: João Garrigó)

Logo no primeiro intervalo, entre a primeira e a segunda música, uma pausa para homenagem justa. A entrega de uma placa a personagens principais de grandes acontecimentos, ao jornalista Cândido Alberto Fonseca e a pioneira da cultura no Estado, professora Maria da Glória Sá Rosa.

O segundo a subir ao palco foi Cláudio Prates, com a canção "Carne Seca", mas os suspiros vieram com Paulo Gê em "Descuidado". "Não sou nada mesmo, sou um coitado, que num dia descuidado você fez se apaixonar".

As letras da noite eram poesia por si só. A nostalgia do público era sentida a cada começo de canção, em "Solidão", de João Figar, nas primeiras palavras, ele já arrematou aplausos e lágrimas.

Celito Espíndola, depois Hermanos Irmãos, trio composto de Jerry Espíndola, Márcio de Camilo e Rodrigo Teixeira, que homenagearam José Boaventura. Em seguida, foi a vez de Lenilde Ramos roubar a cena. Munida de sanfona e o tom de voz que só ela tem, animou a plateia, já antecipando o que viria. "Cantando moda de viola, só não faço chover, mas bem que eu controlo o tempo", Coração Ventania, de Carlos Colman.

Em determinado momento o teatro parou. Parou para ouvir a voz e o violão de Geraldo Roca: "dança mochileira que eu toco a guitarra". Era possível ouvir a respiração das pessoas mais próximas. O olhar apaixonado de casais que viveram uma história de amor com a trilha sonora da noite. A nostalgia de quem mesmo sem perceber, voltou ao tempo.

"Minha vida cigana me afastou de você", na voz inconfundível de Tetê Espíndola. (Foto: Simão Nogueira)
"Minha vida cigana me afastou de você", na voz inconfundível de Tetê Espíndola. (Foto: Simão Nogueira)
"Quyquyô viu tudo lindo, tudo índio por aqui.
Índio América, teus filhos, foi Tupi, foi Guarani"
(Foto: Simão Nogueira)
"Quyquyô viu tudo lindo, tudo índio por aqui. Índio América, teus filhos, foi Tupi, foi Guarani" (Foto: Simão Nogueira)

O que a Prata da Casa apresentou fez emocionar até mesmo quem não viveu o começo da carreira de cada um deles. Com os mais experientes, alguns de cabelos brancos, filhos e até netos. A mesma música tocou para gerações ali. A voz apresentando o show era do jornalista e locutor Ciro de Oliveira. Cada vez que chamava uma das pratas, uma história que remetia o público às canções tocadas no começo das FM's.

"A primeira vez da maioria deles foi comigo", brincou. O que ele queria dizer era que como locutor, foi ele quem colocou as músicas sul-mato-grossenses nas rádios em uma época em que o ouvido era o caipira.

A mais velha dos Espíndolas roubou a cena com uma música a seu gênero, para lá de ousada. "Só sou mulher o suficiente quando faço amor com gente", cantou Alzira.

Caminhando para fechar o ciclo, Guilherme Rondon subiu ao palco, depois "Quyquyô", de Geraldo Espíndola e "Sonhos Guaranis", de Paulo Simões.

O timbre da voz e a canção de Tetê Espíndola fez o Glauce Rocha todo cantar "Oh meu amor, não fique triste, saudade existe pra quem sabe ter". Ali era saudade pura, sentimento que todos tinham. Dos mais novos aos veteranos. A atmosfera da noite despertou saudade até em quem vivia tudo pela primeira vez.

Enquanto o velho trem atravessava o Pantanal, conduzido por Almir Sater, a plateia era quem fazia viagem. A volta ao ano de 2012 estava pertinho já. A todo momento, uma canção despertava a emoção nos olhos. Havia quem fazia discrição e devagarinho enxugava as lágrimas. Outros que deixavam escorrer mesmo ao som de "como se o sol e a lua se esparramassem pelo chão", Almir e Geraldo entraram no coração do público e o desfecho foi ainda mais nostálgico.

"Velhos amigos nunca se perdem, se guardam para certas ocasiões", cantou a Prata da Casa. (Foto: Simão Nogueira)
"Velhos amigos nunca se perdem, se guardam para certas ocasiões", cantou a Prata da Casa. (Foto: Simão Nogueira)

"Velhos amigos nunca se perdem, se guardam para certas ocasiões, conhecem o perigo, mas fazem de conta que o tempo não ronda seus corações". O Glauce Rocha lotado aplaudiu de pé. Palmas calorosas e um sorriso no rosto de quem reviveu as lembranças de 30 anos em uma única noite.

"Eu já quero comprar para daqui 30 anos", brincava os amigos José Manfrósio e Johny Medeiros. Os dois estiveram ali no festival que originou o LP. "Eles representam a alma de Mato Grosso do Sul, eles conseguem trazer esse sentimento de saudade e de felicidade. Foi o que eu senti", descreveu Manfrósio.

"Eu estive em 1982, sentado naquela parte", apontou. "Eu fiquei emocionado e não é piegas, porque eu chorei quando tocou Descuidado, minha esposa era minha namorada na época, cada hora eu relembrava o passadao e vendo que está todo mundo aqui, foram para frente. Estou muito emocionado", tentava definir a sensação. "Saí diferente, saí diferente para melhor".

"A gente espera que se repita daqui 30 anos e se der, daqui 60 anos". Foi assim que Almir Sater e os demais "Prata da Casa" fecharam a noite de 30 anos de história.

O teatro cheio, principalmente de emoção.(Foto: Simão Nogueira)
O teatro cheio, principalmente de emoção.(Foto: Simão Nogueira)
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