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Artes

Por causa de O Tambor, teatro acabou cheio de cacos de vidro e sem vassoura

Lenilde Ramos | 27/03/2016 07:56
Cena de O Tambor, filme de 1979.
Cena de O Tambor, filme de 1979.

Já vi em alguns filmes, um comitê de recepção aos que batem à porta de São Pedro. Do jeito que a coisa vai aqui embaixo, esse setor deve estar fazendo hora extra lá em cima. Entre os que partiram em 2015, está o escritor alemão Günter Grass, autor do livro O Tambor, que fez sucesso no cinema.

Tive oportunidade de ver esse filme em 1983, no extinto Auto Cine da UFMS, dentro de um carrinho lotado, com os amigos do Poranguetê, ousado grupo de música instrumental formado por Geraldo Ribeiro, Pedro Ortale, Antonio Porto, Celso Cordeiro, Kaká e eu.

O menino que não queria crescer nos impressionou, porque quando estava descontente com uma situação, tocava seu tambor, soltava um grito e... espatifava os vidros das janelas.

Logo depois do filme, fomos convidados para participar da Primeira Noite da Poesia, organizada pelo amigo Guimarães Rocha no Anfiteatro do Paço Municipal. Nós, jovens rebeldes e inquietos, queríamos provocar a plateia bem comportada e entramos no palco batendo os pés e reproduzindo a música rude e vigorosa dos Xavante. Isso já fez o público se mexer.

Na sequência, soltamos nosso Bovinorock mais alguma coisa que desafiava a expressão musical da época e, como grand finale, resolvemos reproduzir a famosa cena do livro de Günter Grass.

Kaká imitou o tambor, Toninho Porto segurou dramaticamente uma taça e eu enchi os pulmões e soltei o grito do menino Oskar Matzerath, enquanto Toninho deixava a taça cair, espalhando caco de vidro por todo aquele pequeno palco.

O público... ahhhh... não sabia como reagir. Foi novidade demais para aquela noite.

Nós também nos olhamos e... ahhh... nos tocamos que tinha mais gente para se apresentar e o palco era só caco de vidro.

E vassoura? Onde encontrar vassoura àquela hora? Vi a expressão aflita de Guimarães Rocha e, o jeito foi se desculpar limpando a performance. Pena que nossa banda durou apenas alguns anos, mas fez uma revolução na música do Mato Grosso do Sul.

Preciso escrever mais sobre ela.

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