ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, QUINTA  28    CAMPO GRANDE 27º

Artes

Por uma questão de "Honra", produtores criam petição para ver filme na telona

Paula Maciulevicius | 10/07/2013 07:18
De experiência em cinema mais do que três décadas. Alexandre Couto, Marcelo Dorval e Reinaldo Dorval tentam emplacar "Honra" nas telonas e quebrar a barreira do círculo restrito da cultura no Estado. (Fotos: Marcos Ermínio)
De experiência em cinema mais do que três décadas. Alexandre Couto, Marcelo Dorval e Reinaldo Dorval tentam emplacar "Honra" nas telonas e quebrar a barreira do círculo restrito da cultura no Estado. (Fotos: Marcos Ermínio)

Nomes que se confundem com a própria história do cinema sul-mato-grossense. Gente que tem de trabalho mais de três décadas dedicadas à paixão por tramas. É um olho na produção, outro na telona e desde 2009, a atenção toda voltada ao primeiro longa em HD produzido, filmado e editado em Campo Grande. O currículo de Alexandre Couto e José Reinaldo Dorval agora inclui a petição pública para conseguir exibir o produto da terra nos cinemas da Capital. É que mesmo com toda essa bagagem, o filme "Honra" esbarra na falta de patrocínio e valorização às produções regionais. Há nove meses, eles, junto do produtor executivo, Marcelo Dorval, recebem 'não' de empresários e só promessas de ver o trabalho reconhecido nas telonas.

Baseado em fatos reais, o trailer, que pode ser visto abaixo, começa com a chamada "nunca brigue com uma mulher", seguido da pergunta "você conhece o homem que ama?" Honra é um drama familiar dirigido por Alexandre Couto, com roteiro e atuação de Reinaldo Dorval, além de Abboud Lahdo e Rubens Ramos no elenco. A história se encarrega de contar a vida de Nora Monteiro e João Cigano. Ele, um administrador de fazenda honesto e dedicado que diante da morte do patrão, se viu como o braço direito da viúva, Nora. A relação dos dois é colocada em cheque quando ela decide se casar com o inescrupuloso e ganancioso Chaves, que passa a administrar a fazenda e cria uma armadilha para ver o protagonista sendo expulso das terras. O desenrolar do filme segue com João tentando provar inocência e desmascarar Chaves.

A petição precisa de 5 mil assinaturas para sensibilizar a diretoria de programação dos dois cinemas locais. No entanto, só houve 78 manifestações até agora. "Eu comecei meio sem autorização dos dois, não acreditando muito neste negócio não. Em Mateus diz que Jesus Cristo fez apenas um milagre na sua cidade. Imagine nós? Na nossa querida Cidade Morena?", levanta a questão o diretor Alexandre Couto.

Nas mãos do produtor executivo, o cartaz do filme, o primeiro longa em HD feito na Capital.
Nas mãos do produtor executivo, o cartaz do filme, o primeiro longa em HD feito na Capital.

O trio de direção, roteiro e produção executiva é unânime em defender que o cinema independente regional precisa ser valorizado, assim como admite que o entrave para ter o aval de exibir o longa nas telonas se resume à dificuldade de patrocínio, até mesmo dentro do orçamento público destinado à cultura. "Por duas vezes tentamos entrar em fundos de cultura e nunca fomos agraciados. Uma das coisas sérias é essa distinção na seleção de trabalho. Só vê gente da Federal, da UCDB e os ligados à políticos. Cadê o resto do povo que faz arte?", indaga o produtor Marcelo.

A resposta mais perto de ser concretizada veio da rede Cinemark que aprovou de cara o material, mas apenas para o projeto escola, que não reverte os valores de bilheteria aos produtores do longa. Em questão de valores, segundo eles, é impossível mensurar diante de tanto gasto financeiro e de tempo, além do acúmulo de funções. Alexandre é quem dirige, edita, regula o som e cuida dos efeitos especiais. Reinaldo foi roteirista, ator e assistente de direção.

"Não há interesse de investir, a primeira indagação é se tem alguém de fora, da Globo. É preciso valorizar o investimento, que foram de anos e fazer um filme como a gente faz sai mais caro ainda. A questão está em elevar o trabalho que está sendo feito aqui. Valorizar quem produz, gente da terra e que esse dinheiro fique aqui". Quem sintetiza as reivindicações é o produtor executivo.

Segundo o cineasta Alexandre Couto, o último longa produzido essencialmente em Campo Grande foi em meados de 1962. "Todo mundo diz que faz cinema na cidade. Mas faz uma cena aqui e vai tudo para o Rio de Janeiro. Isso é fazer aqui?", pontua o diretor.

Baseado em fatos reais, drama familiar conta a história de João Cigano e Nora.
Baseado em fatos reais, drama familiar conta a história de João Cigano e Nora.

Foi do próprio bolso, por exemplo, que eles arcaram com refeição, água e locomoção de atores e figurantes. Em um domingo, dentre os três anos de produção, eles tinham de dar condições para 70 pessoas do elenco. "Quando se fala em verba, ninguém quer deslumbrar. A gente quer dar para figuração R$ 200, é uma pessoa que vai gerar economia, vai gastar aqui. A gente tem mania de valorizar o de fora. Nós somos brasileiros, é a nossa língua, vamos valorizar o que é nosso", completa o roteirista Reinaldo.

A primeira exibição, depois de muita batalha, será no auditório do Senac, nos dias 1,2 e 3 de agosto. A telona foi adaptada pelo diretor e o projetor também é dele, comprado em uma daquelas promoções que o desconto pareceu ter escolhido o dono. Em um dia Alexandre viu o preço em R$ 9,5 mil, no outro, R$ 4 mil a menos. Bastou o clique de compra, de um site dos Estados Unidos, para que o valor voltasse ao que era antes. Fatos que levam os produtores a crer que Deus existe, é brasileiro e gosta de cinema.

Dentro da primeira sessão, quem for conferir vai ser levado do Senac ao "Cine Alhambra". É que a trilha sonora nostálgica que marcava o abrir das cortinas será a mesma para dar às honras da casa ao "Honra". O custo para os produtores nos três dias de exibição é de R$ 2,3 mil entre pagamento do Ecad, estrutura para rodar o filme e aluguel do prédio. Na tentativa de suprir pelo menos estes gastos, os ingressos serão vendidos a R$ 20.

"O filme tem roteiro, papel interessante e faz um alerta: traz uma série de questões do cotidiano, além de ter um lado educativo. Mas tudo isso quem vai fazer a releitura é o público", descreve Marcelo. E na visão do roteirista, todo trabalho iniciado nas primeiras falas escritas aos personagens não vai parar na exibição. "Filme é que nem um filho. Nós iremos pro festival com ele ainda. Ele tem que sair daqui, mas para isso precisa de apoio. Para fazer filme, tem que gostar, é essa labuta de estar oferecendo ingresso de mão em mão".

O convite final para conferir a produção vem do diretor, Alexandre Couto. "Eu gosto de cinema porque já nasci dentro. Eu assistia e não conhecia, via como um caso verdade, as pessoas têm que ver o filme como se jamais tivessem visto".

Informações de ingressos pelos telefones: 9153-4486 e 9247-5406. Para assinar a petição, acesse: http://www.avaaz.org/po/petition/Exibicao_do_filme_Honra_em_Campo_Grande_1/?launch

Nos siga no Google Notícias