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Comportamento

"Hilux Cavalo" é Edson, que perdeu até a égua que tinha e hoje puxa a carroça

Thaís Pimenta | 10/06/2018 07:10
Sorrisão de orelha a orelha é marca registrada de Hilux Cavalo. (Foto: Silas Souza)
Sorrisão de orelha a orelha é marca registrada de Hilux Cavalo. (Foto: Silas Souza)

No bairro Parque dos Laranjais, Edson Pereira Firmiano, de 41 anos, é a figura simpática que passeia pela região e roda a cidade com uma carroça quebrada, pedindo dinheiro para sobreviver. Hoje é personagem, "Hilux Cavalo", porque teve de começar a puxar a carroça ele mesmo, depois que a égua e potranca que tinha foram roubadas "por um granfino que passou a perna" do senhor que tem um fraco: a cachaça

''A gente faz muita coisa sem pensar quando o vício chama. Eu estava sem dinheiro e pedia dinheiro no bar depois de recolher os recicláveis pela cidade, com a minha égua e a potranquinha. Aí passou esse homem e disse que estava interessado na potranca. Eu disse que vendia por R$ 500,00 e ele me comprou dizendo que só daria R$ 70,00 na hora e que depois me daria o resto. Ele levou os animais e até hoje me pagou só mais R$ 140,00. Última vez que eu o vi ele disse que não ia mais pagar nada pra mim e zombou da minha situação'', conta Hilux.

Como o próprio ''cavalo'' do negócio atualmente, ele precisa levar a carroça de um lado pro outro, em busca de materiais recicláveis. ''Os vizinhos já me conhecem pelo nome e ficou''.

O sorriso de orelha a orelha que carrega no rosto pela região, só desaparece quando lembra que perdeu tudo que um dia teve na vida. Analfabeto, dependente da bebida e sem teto, Hilux dá um show de humanidade ao mostrar a única coisa que ainda é sua na vida, o gatinho Dálio. ''Ele anda a cidade toda comigo. É meu amigão. O dinheiro que eu ganho da reciclagem é para comprar minha comida e a comida dele''. 

Dálio é o parceiro de Hilux Cavalo, personalidade que mora em um barracão no  bairro Parque dos Laranjais. (Foto: Silas Souza)
Dálio é o parceiro de Hilux Cavalo, personalidade que mora em um barracão no bairro Parque dos Laranjais. (Foto: Silas Souza)

Nem mesmo a cadela, uma fila, batizada de Leona, a caçadora de tatus, é sua mais. ''Eu já não tenho mais o porte dela. Eu dei pro meu amigo vizinho, mas ela vem aqui em casa porque gosta de mim e do Dálio''.

Já são dois anos morando no barracão, construído por ele, sem ajuda de ninguém. Ali, escondido do resto do mundo, ele faz sua comida e tem a companhia dos quatis que passeiam pelo teto do barraco e comem o que encontram pela frente. Ao invés de ficar bravo com os animais, ele cai na gargalhada com o assalto.

Sem o mínimo de saneamento básico ou mesmo energia elétrica, Hilux toma banho na represa que fica bem em frente ao barracão. Privilégio de quem rodou a cidade atrás de um cantinho que atendesse a suas expectativas. Nos fundos, ele plantou bananeiras, que servem de alimento e produto para mais uma graninha. ''Eu vendo as bananas também, pra ajudar a fazer um dinheiro''.

Leona, ao fundo, e Dálio no colo de Hilux Cavalo. (Foto: Silas Souza)
Leona, ao fundo, e Dálio no colo de Hilux Cavalo. (Foto: Silas Souza)

Hilux conta que hoje não precisa de muito pra ser feliz. ''Eu quero poder voar igual um passarinho por aí. A pé eu consigo viajar esse mundo todo, meu único sonho é conseguir recuperar tudo que um dia foi meu, afinal eu sou filho de duas pessoas, tenho 4 irmãos que tem família, casa, carro, e acho injusto só eu continuar aqui''.

Mesmo sem estudo, ex-morador do interior do Estado, Hilux era um homem da roça antes de vir pra cidade. Hoje ele tem noção do que quer: um emprego fixo, para poder pagar uma casinha. ''Tenho meus documentos, tenho título de eleitor atualizado, eu sou um cidadão, meio sem rumo, mas sou''.

Sem ter com quem contar, ele segue com fé de que seu caminho é guiado por Deus e, na positividade, fala sem rancor do passado. ''Eu não tenho dente porque me chutaram, já levei tiro na cabeça, fui tratado que nem bicho no Cetremi e preferi arranjar meu canto pra não incomodar ninguém. Nunca fiz mal pra ninguém, nunca fui casado, e pretendo continuar plantando coisa boa pra colher só virtude no meu futuro'', finaliza.

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Casebre é humilde mas foi cantinho que Edson encontrou para ser feliz. (Foto: Silas Souza)
Casebre é humilde mas foi cantinho que Edson encontrou para ser feliz. (Foto: Silas Souza)
Barraco é lar para Edson, o seu gato e os quatios. (Foto: Thaís Pimenta)
Barraco é lar para Edson, o seu gato e os quatios. (Foto: Thaís Pimenta)
Represa que serve de banheiro para ele. (Foto: Thaís Pimenta)
Represa que serve de banheiro para ele. (Foto: Thaís Pimenta)
Leona visita Hilux. (Foto: Silas Souza)
Leona visita Hilux. (Foto: Silas Souza)
Quatis são mais visitantes da casa. (foto: Silas Souza)
Quatis são mais visitantes da casa. (foto: Silas Souza)
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