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Comportamento

"Tio Alex da Cantina" é conselheiro e paizão há 20 anos no Hércules Maymone

Ex-alunos até hoje lembram dos conselhos dados pelo Alex da Cantina e o convidam para reuniões da turma

Eduardo Fregatto | 23/06/2017 06:10
Alex diz que é maravilhoso trabalhar com crianças e adolescentes todos os dias. (Fotos: Alcides Neto)
Alex diz que é maravilhoso trabalhar com crianças e adolescentes todos os dias. (Fotos: Alcides Neto)

Ele atende por Alex da Catina, tio Alex ou apenas "tio". Quem passou pela Escola Estadual Hércules Maymone, na Rua Joaquim Murtinho, deve conhecer a figura acolhedora que fica por trás do balcão da cantina, vendendo salgados, sucos, doces e refrigerantes. Alex Camargo Alves, 46 anos, é o responsável pela alimentação da criançada desde 1996. Querido pelos alunos, até hoje é lembrado e convidado para reuniões de turmas de 20 anos atrás.

"Fiz um encontro em casa esses dias [com as turmas de 95 a 98], preparei os salgados que eles gostam, eles queriam matar as saudades do enroladinho de presunto, queijo e tomate", conta, orgulhoso dos laços fortes que criou com tantos estudantes ao longo dos anos.

O enroladinho de presunto, queijo e tomate é o mais famoso entre os alunos e ex-alunos.
O enroladinho de presunto, queijo e tomate é o mais famoso entre os alunos e ex-alunos.

Conselheiro, o tio da cantina acabou se tornando uma figura paterna para os jovens dentro da escola. Em um dos momentos marcantes que viveu por lá, acolheu um garoto de 6 anos que vendia "gelinhos" no pátio do Hércules Maymone, para ajudar na renda da família. "Me perguntavam se eu ia impedir, porque era concorrência, mas como eu poderia? Era um menino magrinho com a irmãzinha mais magrinha ainda".

Hoje, o menino magrinho virou funcionário da cantina, tem 24 anos e trabalha com Alex há cerca de 10. "Ele é como um pai pra mim", diz Emerson Conceição dos Santos, que diz ter mudado sua vida por conta do "pai" de consideração. Outro que recebeu a ajuda de Alex foi Jeferson Evangelista, 43, que conseguiu emprego na cantina logo no início, em 1995. "Tudo o que eu sou hoje foi por Deus, em primeiro lugar, e em segundo pelo Alex. Ele me ensinou tudo, quando eu cheguei eu mal conseguia falar [com estranhos]", relata.

Uma das estudantes dos anos 90, Dulcilla Rodrigues, hoje com 38 anos, relata a relação de afeto que os estudantes mantinham com o Alex da Cantina. "Tio Alex era o nosso paizão. Dava conselho (e ainda dá até hoje), brincava, sentava pra conversar... Nossos intervalos eram bem animados, brigávamos pela famosa maionese que ele semore fez. Hoje quando nos encontramos, histórias e mais histórias brotam", diz.

Emerson, Jeferson e Alex, muitos anos de aprendizado e amizade.
Emerson, Jeferson e Alex, muitos anos de aprendizado e amizade.

Alex lembra dos tempos áureos da Hércules Maymone, quando o pátio era tomado por milhares de alunos a cada intervalo, atrações musicais no recreio eram frequentes e a escola era mais viva e agitada. "O Luan Santana veio cantar antes de ser famoso. Era sempre muito animado aqui, tinham mais crianças. Infelizmente foi decaindo", lamenta.

Hoje, ele estima que são 400 alunos, e a escola não apresenta o mesmo vigor de antes, mas continua feliz de estar na cantina. "A gente tem a alma jovem, sempre se renovando, sempre alegre, por causa do contato com os estudantes. É algo maravilhoso trabalhar aqui".

Alex trabalha com lanchonete desde os 12 anos, no estabelecimento que pertencia aos pais. Ele nunca nem se viu fazendo outra coisa. Casado, ele e a esposa não puderam ter filhos, mas não gostam de reclamar. "O importante é valorizar as partes boas da vida. A gente vive bem".

Ele diz que sua boa relação com as crianças e adolescentes é algo que veio naturalmente, muito antes de descobrir que não poderia ter filhos. O tato com os estudantes é tão grande que, junto da esposa, ele recorda de aconselhar muitos jovens, inclusive uma aluna que engravidou cedo demais. "A gente conversava muito durante a gravidez, para ela não fazer nenhuma besteira".

Alex com ex-alunos dos anos 1990 e os famosos salgados. (Foto: Acervo Pessoal)
Alex com ex-alunos dos anos 1990 e os famosos salgados. (Foto: Acervo Pessoal)

Alex relata também que nunca deixou ninguém passando fome. "As vezes a pessoa está cansada, precisando comer, mas não tem dinheiro. Eu coloco no fiado, mas não cobro. No final de todo dia, os salgados que sobram a gente dá para quem precisa", revela.

Esse coração grande acabou rendendo essa popularidade entre quem passou pela Hércules Maymone, e até hoje os ex-estudantes não esquecem do enroladinho de presunto e queijo, da maionese verde que causava brigas quando estava no fim, e dos conselhos preciosos do tio da cantina.

Em 2015, Alex sofreu acidente com um trator e diz que se emocionou ao perceber a corrente de carinho e consideração criada pelos alunos. "Se você olhar na internet, o tanto de gente torcendo por mim, foi algo que me tocou", afirma.

"O que fico mais feliz é ver que todos aqueles ex-alunos se tornaram pessoas vitoriosas", finaliza Alex, sempre pensando nas qualidades e bem-estar do próximo.

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Alunos da escola na cantina de Alex.
Alunos da escola na cantina de Alex.
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