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Comportamento

A 4 meses do casamento, noiva descobriu câncer e o quanto companheiros a amavam

Paula Maciulevicius | 05/02/2016 07:12
Família de sete: Marina e Thiago com parte dos cinco bichinhos, paixão do casal que virou negócio. (Foto: Alan Nantes)
Família de sete: Marina e Thiago com parte dos cinco bichinhos, paixão do casal que virou negócio. (Foto: Alan Nantes)

A história de Thiago e Marina poderia ser contada de várias maneiras. Em cinco anos juntos, desde o encontro no Cursilho até o achado na nova empreitada profissional, um provou ao outro o quanto era companheiro, em qualquer que fosse a situação. Às vésperas do casamento, a noiva descobriu um câncer de ovário, passou por quimioterapia, perdeu os cabelos, mas achou no noivo uma fortaleza, e no amor dos cinco animais - dois cães e três gatos - o quanto era cercada por carinho de todos os lados.

Daqui 10 dias eles fazem dois anos de casados. Quando a igreja Perpétuo Socorro sorriu junto deles ao ver Marina entrar, de noiva, pelo corredor. Ela é fisioterapeuta por formação, e ele, analista de sistemas. Em maio de 2013, quatro meses antes do casamento, Marina levou exames feitos aqui para o Estado do Paraná, onde a família mora. Aos olhos do médico de confiança, foi diagnosticado um tumor. De imediato, ela passou por uma cirurgia que teve parte do tumor perfurado.

De volta a Campo Grande, foram necessários ciclos de três meses de quimioterapia, o que acarretou na queda de cabelos e em uma das cenas mais carregadas de sentimento. Amor e companheirismo foram materializados assim que as primeiras mechas de cabelo foram ao chão, no banheiro da casa de Marina.

Em 2013, Thiago foi o primeiro a raspar o cabelo
Em 2013, Thiago foi o primeiro a raspar o cabelo
Como apoio à noiva Marina.
Como apoio à noiva Marina.
Juntos, o casal dividia os olhares dos "outros" e Marina seguia no tratamento mais tranquila. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Juntos, o casal dividia os olhares dos "outros" e Marina seguia no tratamento mais tranquila. (Fotos: Arquivo Pessoal)

"Eu cheguei na casa dela um dia e disse, raspa meu cabelo para a gente ficar igual. Ela raspou o meu primeiro, depois disso, raspei o dela. Foi assim que a gente tratou as coisas. Muito leve, muito tranquilo", descreve Thiago Morilha, de 31 anos.

Marina conta que nunca teve problemas quanto à queda dos cabelos. Uma prova disso é parte das centenas de fotos compartilhadas entre amigos, todas demonstram um sorriso enorme junto da careca. "A companhia do Thiago, o carinho e o amor dele, o tempo todo do meu lado, fez com que as coisas acontecessem de uma forma divertida", descreve Marina Belini Morilha, de 31 anos.

Thiago também ensinou como Marina deveria lidar com a reação das pessoas. "Ele me disse que as pessoas olhariam para mim com cara de piedade, de dó, mas tudo dependeria da forma como eu iria retribuir esse olhar. Que eu teria que ter força", recorda. Carecas juntos, os olhares dos outros se dividiam entre o casal e davam mais segurança e tranquilidade para Marina seguir com o tratamento.

O amor não ficava restrito ao Thiago e familiares de Marina, como também era demonstrado pelos animais. Em casa, hoje, são cinco bichinhos, Chiquita, Afrodite, Rufos, Penélope e Pantera. Por vezes, Afrodite, uma das gatinhas, fazia de berço a cabeça de Marina. Sem os cabelos, o contato era maior, assim como o afeto.

Afrodite, a gatinha adotada que fazia de berço a careca de Marina.
Afrodite, a gatinha adotada que fazia de berço a careca de Marina.

A última quimioterapia foi realizada no dia 6 de setembro, um dia antes da data marcada para o casamento. Como no processo o casal já esperava que Marina ficasse debilitada, o "sim" foi adiado para fevereiro do ano seguinte.

Adoção - Mais do que perder os cabelos e até mesmo a própria descoberta do câncer, o momento mais difícil para Marina foi saber que poderia não ser mãe, por conta da quimioterapia. "Eu nunca tive histórico de câncer na família, foi uma coisa que abalou todo mundo. Recebi isso como uma provação, mas quando eu ouvi do médico a possibilidade de ficar estéril, uma coisa que envolve muito mais do que só a minha vida..."

Assim como a frase fica no ar hoje, à época, as dúvidas e o medo também não chegaram a serem completados. Isso porque Thiago explicou que o amor dele por ela em nada mudaria. E que os filhos viriam, fossem biológicos ou adotados. A casa e a vida dos dois já tinha passado por adoções, mas de animais, como Chiquita, a primeira cachorrinha do casal.

Uma amiga ligou avisando que tinha um cãozinho que seria sacrificado na clínica veterinária onde trabalha e se Marina não queria adotar. Ela avisou que o bichinho tinha um problema, mas que era "sim ou não" e que só depois da decisão, é que a futura dona seria avisada do que era. Chiquita não andava sozinha, era paraplégica e dependia de rodinhas para andar pela casa, mas em contrapartida, tinha muito amor para dar. Era o primeiro contato com o amor além do sangue.

"Essa experiência de uma adoção, mesmo sendo um animalzinho, já nos daria a ideia do que é ter carinho e uma criatura que precisa de amor. Assim a coisa ficou mais fácil e eu consegui receber isso de uma forma mais leve", conta Marina.

O casal comemora dois anos de casados daqui 10 dias.
O casal comemora dois anos de casados daqui 10 dias.

"A gente brinca que Deus colocou na nossa vida a adoção de bichos para a gente aprender e futuramente, ele vai propor uma adoção maior, de uma criança", completa Thiago. O casal deixa claro que sabe que o amor por filhos nem se compara ao que eles sentem pelos pets, mas já é um 'treinamento'.

Desde o final de 2013, depois de encerrada a quimioterapia, Marina faz uma bateria de exames e acompanhamento a cada três meses. O último foi tão positivo a ponto de o médico já liberar o casal para ter bebê.

Do amor entre si e pelos animais, o casal resolveu juntar e imprimir tudo isso num negócio e há um mês abriram uma camiseteria. A proposta não é fazer com que o animal se pareça com o dono, e sim, ao contrário. "É tau au, tau eu", brinca Marina com o nome da empresa. "É uma camiseteria para os donos e cães estarem juntos também nas roupinhas, como o tal mãe, tal filho", explica.

A vontade de abraçar o mundo e o amor cresceu depois da doença. "Quando eu tive o câncer, percebi o quanto a vida da gente é curta e a gente passa tanto tempo fazendo coisas que não gosta e nem vê".

Para acompanhar o trabalho de Marina e Thiago, clique aqui.

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"Quando eu tive o câncer, percebi o quanto a vida da gente é curta e a gente passa tanto tempo fazendo coisas que não gosta e nem vê", diz Marina.
"Quando eu tive o câncer, percebi o quanto a vida da gente é curta e a gente passa tanto tempo fazendo coisas que não gosta e nem vê", diz Marina.
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