ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Comportamento

A alegria de Ana Maria continua aqui, nos colares que a filha deu para as amigas

Paula Maciulevicius | 04/04/2016 08:12
Foram 10 anos de luta contra três tipos de câncer. Em uma década, tia Ana teve vários cabelos, lenços e também muitas viagens.
Foram 10 anos de luta contra três tipos de câncer. Em uma década, tia Ana teve vários cabelos, lenços e também muitas viagens.

Ana Maria Lopes, mãe de Vanessa, Tiago e Diogo e avó de três crianças. Só as duas primeiras netas ela viu nascer e pode conviver. Amiga de muita gente, tia e madrinha de outras tantas, tinha um batom vermelho nos lábios inesquecível, tal qual era o som da voz e da risada dela. Foram 10 anos de luta contra três tipos de câncer. Uma década de muitas mudanças no visual, vários cabelos, lenços e também muitas viagens. Ana nunca se deixou abater, nem nos três últimos meses de vida.

"Minha mãe era uma pessoa alegre, de bem com a vida, que fazia a diferença na vida das pessoas. Todo mundo que teve contato, sentiu e sente a ausência dela. Tenho certeza, eu, Elaine, a Cássia, que eram as amigas dela, que a gente não é mais a mesma pessoa", conta a filha, Vanessa Lopes Brandão Krakhecke. 

Presente na vida de todos, quando Ana descobriu a doença, aos 54 anos, viveu uma década como se não houvesse nada contra sua saúde. Primeiro foi um câncer de mama, depois no ilíaco, para por fim, por metástase, chegar ao fígado e pulmão.

Filha Vanessa fala da saudade que ficou da mãe, uma pessoa que faz falta na vida de todo mundo.
Filha Vanessa fala da saudade que ficou da mãe, uma pessoa que faz falta na vida de todo mundo.

Ninguém falava que ela tinha qualquer doença, tamanha era a alegria contagiante. Funcionária do INSS, mesmo aposentada ela não deixava de ir visitar os amigos e auxiliar os colegas no que pudesse. "Ela ajudou tanta gente, fazia parte de grupos de apoio a outras mulheres, contava a história dela. Em 10 anos, ela viveu intensamente, viveu muito mais que eu", compara a filha. Vanessa tem hoje 39 anos.

No tempo de convivência com a doença, a mãe nunca reclamou e nem questionou por que comigo? Depois que Ana partiu, Vanessa ficou sabendo que ela agradecia por ter tido o que teve. "Porque assim ela pode dar mais valor à vida e fazer o bem ao próximo. Às vezes a gente banaliza tanto a nossa vida, não?" se pergunta.

Por vezes os resultados e as conversas médicas eram ocultadas da família. Ana Maria tinha algo muito maior dentro de si, queria poupar os filhos e quem estava ao seu redor fazendo segredo da gravidade e do avanço da doença. Quatro anos depois do segundo câncer, a médica pediu que ela fizesse um exame em Brasília. À época, Vanessa esperava a segunda filhinha, Maria Clara.

"Nesse exame, parecia uma árvore de Natal, piscava no fígado, no pulmão, no corpo todo. E naquele momento, ela não se deixou abalar. Pensava na neta, queria ver a neta nascer e Deus foi tão maravilhoso que ela nasceu e minha mãe viveu com ela até os 2 anos", recorda.

A amiga Cássia, com um dos colares e pulseiras de Ana, presente que ficou presente depois da partida dela.
A amiga Cássia, com um dos colares e pulseiras de Ana, presente que ficou presente depois da partida dela.

Em 2011, Ana Maria fez a última viagem com a família, em janeiro e se despediu em novembro. Dois dias antes de partir, passou as senhas de banco à filha, falou onde estavam os euros da última viagem. Queria deixar os filhos amparados.

"Nos últimos dias, era um sofrimento e a gente chega a ser egoísta. Porque quer e achava que ia se curar, mas ela sabia, sabia do avanço da doença... Às vezes parece que ela vai abrir a porta da minha casa e vai entrar..."

Na cabeça da filha, por vezes, bate a vontade de ligar para Ana para tirar qualquer dúvida. "Parece que falta um braço, uma perna, você se sente sozinho... Ela era uma amiga", explica. As netinhas perguntaram durante meses quando é que a vovó iria voltar até entenderem que a partida não tinha volta.

Hoje, depois de quatro anos, a filha passou a conviver com a saudade de forma mais tranquila, a tristeza deu lugar aos bons momentos que passaram juntas. "A gente vive naquela esperança do reencontro. O que ficou? Muita coisa da minha mãe..."

Quando a gente pergunta o que ficou de quem partiu? Espera que o entrevistado responda a primeira coisa que lhe vier a cabeça, se for um objeto, é a saudade materializada. No caso de Ana, foi o sentimento compartilhado pelos muitos colares dados para as tias e amigas.

"Você chega, entrega e as pessoas começam a chorar. Ficam felizes de estarem recebendo uma certa homenagem. Você fica com uma parte dela, do que era dela.

Eu carrego uma saudade no peito, um amor inabalável no coração, minha mãe deixou muitas saudades, um vazio, mas também muitas alegrias, lembranças maravilhosas e lições também. De ser uma pessoa melhor a cada dia, se entregar mais ao próximo sem esperar nada em troca. Só quem sente essa saudade, pode compreender".

Curta o Lado B no Facebook. 

"Eu carrego uma saudade no peito, um amor inabalável no coração, minha mãe deixou muitas saudades, um vazio, mas também muitas alegrias, lembranças maravilhosas..."
"Eu carrego uma saudade no peito, um amor inabalável no coração, minha mãe deixou muitas saudades, um vazio, mas também muitas alegrias, lembranças maravilhosas..."
Nos siga no Google Notícias