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Comportamento

A casa bege de madeira que não está à venda nem por meio milhão

Paula Maciulevicius | 09/01/2014 06:25
Eles querem o preço, quando para ela, a casa vale tudo.
Eles querem o preço, quando para ela, a casa vale tudo.

Na esquina da avenida Fernando Corrêa da Costa com a rua José Maria, uma faixa anuncia um ‘vende-se’. Quem passa os olhos depressa acha que é a casinha de madeira bege que está sendo ofertada. Mas não. A casa não tem preço.

“Quanto vale? Essa casa vale muito. Minha casa é única, meu pai que fez pra mim”, diz a simpática e bem humorada senhora que atende à porta, a costureira Rosa Faustino Fogaça, de 63 anos.

Os dois quartos, uma sala, cozinha e um banheiro são dela há 39 anos. Construída pelo pai, à época funcionário da prefeitura, no loteamento do “Dr. Henrique Pires de Freitas”, na área que um dia se resumia à fazenda dos Rosa Pires, a história dela está nas paredes de madeira pura, sem nenhum sinal de cupim.

A casa antes tinha um jardim à frente, mas parte do terreno foi desapropriada para a abertura da avenida, quando o prefeito era Lúdio Coelho. Juntos, os cômodos não tem nem 80 m², mas a boa localização faz o terreno ter um valor de pelo menos R$400 mil reais, estima o presidente da Câmara de Valores Imobiliários, Ronaldo Ghedine.

Há 39 anos, as paredes de madeira na esquina da Fernando Corrêa da Costa acompanham o riso da costureira. (Fotos: Marcos Ermínio)
Há 39 anos, as paredes de madeira na esquina da Fernando Corrêa da Costa acompanham o riso da costureira. (Fotos: Marcos Ermínio)

Mas quando se trata de um pedaço de chão e uma casa de tábua que sempre foram seus, não tem dinheiro que pague, nem quase meio milhão de reais é preço.

“Já me perguntaram várias vezes se eu queria vender, falaram para eu colocar o preço, mas a minha casa não está à venda”, decreta Rosa.

A igreja do fundo já quis incorporar o terreno, mas sem sucesso. Pela proximidade com a Anhanguera, também quiseram fazer dali, uma central de xerox. E a resposta sempre foi não, sem importar qual fosse a oferta.

“E eu vou mudar para um apartamento? Ficar fechada? Aqui todo mundo me conhece, eu saio varrendo e as pessoas passam me cumprimentando. Meu irmão brinca que aqui, só patrola”, comenta aos risos.

E não é que no meio da entrevista o telefone toca e é o irmão? Ela só responde “eu estou dando uma entrevista sobre a minha casa. Só você acha ela feia, viu?” e desliga. Ela conta que o irmão peleja para que ela venda e saia dali.

De fato, é de se estranhar, com o avanço todo de uma ‘capital’ que Campo Grande ainda guarde casas de tábua. Mas que bom que pelo menos em pedacinhos da cidade, existem lembranças do passado.

“Hoje em dia quase não existe e se você for fazer, é capaz de ser mais cara que de alvenaria, não é? Aqui querem o preço, mas para mim, vale tudo. É bom a gente ser feliz no lugar onde mora”.

Ah! E sobre a faixa de vende-se, no cantinho do portão, dona Rosa explica que é uma mãozinha para vender um terreno de 288m² na rua da lateral. "Como lá ninguém vê, me perguntaram se podia ficar aqui. Eu disse que sim. Mas volta e meia liga alguém, perguntando se está tudo bem comigo e por que vou vender, aí digo que não. A minha casa não está à venda".

Ela já quase perdeu as contas que quantas vezes já disse "a minha casa não está à venda".
Ela já quase perdeu as contas que quantas vezes já disse "a minha casa não está à venda".
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