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Comportamento

A pé, Tulia faz percurso de 10 km até biblioteca onde aprendeu a ser feliz

Thailla Torres | 05/12/2016 09:07
Tulia passa praticamente o dia todo estudando os números. (Foto: Alcides Neto)
Tulia passa praticamente o dia todo estudando os números. (Foto: Alcides Neto)

Há dois meses, Túlia não se cansa, enfrenta cerca de 10 quilômetros de caminhada do bairro onde mora até o Centro da cidade. O motivo? A paixão que alimenta pelos números, na busca de entender a relação que um tem com outro e cada operação matemática.

E basta ver o sorriso dela para entender o motivo que a faz passar o dia todo sentada em frente ao computador, entre contas e respostas, que talvez guarde para ela mesma apenas.

Tulia Moreira Hidelbrand tem 56 anos. De chinelo e calça jeans, sai de casa às 7h da manhã no bairro Coronel Antonino e segue a pé para a unidade Sesc Horto, que fica no bairro Amambaí. Tudo isso para usar de graça o computador e a internet da biblioteca. Super bem disposta, apesar dos minutos de caminhada, ela parece satisfeita com o esforço.

“Venho andando por dois motivos, um pela economia e outro porque quero emagrecer um pouquinho. Meu marido gosta de gordinha e leva muita comida para mim. Acabei engordando demais”, brinca.

Ela justifica que o motivo é a curiosidade. (Foto: Alcides Neto)
Ela justifica que o motivo é a curiosidade. (Foto: Alcides Neto)

Ela aceita dar entrevista durante o estudo, mas limita a explicação sobre exatamente onde quer chegar com a pesquisa sobre os números. Justifica que tudo não passa de uma curiosidade. “Eu gosto muito de entender as coisas e pesquiso a origem de tudo. Eu queria entender a relação de um número com o outo. E realmente tem uma explicação e é para isso que eu pesquiso”, conta.

Estudando todos os dias, diz que não está cansada e nem com pressa de acabar a pesquisa. Se mostra avessa a ideia de que a matemática é matéria complicada na vida. “Numa operação matemática por exemplo, 21+5 é igual a 26. Só que vai ter uma outra opção que esse número também vai aparecer e é isso que eu quero entender. Por isso comecei a estudar os divisores de cada um e quem entende um pouquinho de números, sabe que tem um sentido o que estou dizendo”, diz.

Antes de chegar à biblioteca, tudo era feito a mão em casa. Mas para facilitar, ela se rendeu ao uso da tecnologia quando não sabia nem mexer direito em um computador. “Ainda apanho um pouco, mas já sei mexer. Minha filha quem me ensinou. Eu fazia tudo a mão, só que o espaço foi ficando pequeno”, lembra.

Todo trabalho é guardado em um pendrive que ela carrega como tesouro. Seja qual for o resultado da infinidade de números que Tulia revisa diariamente, o fato é que a matemática parecer ser um pedaço da felicidade dela.

“As minhas filhas dizem que eu sou louca. Mas eu faço porque me faz bem e sou uma curiosa pelas coisas”, justifica. 

E não se importa quando é chamada de louca por conta da pesquisa. (Foto: Alcides Neto)
E não se importa quando é chamada de louca por conta da pesquisa. (Foto: Alcides Neto)

Nascida em Goiânia, Tulia veio jovem para Campo Grande morar com a família depois que perdeu a mãe. Aqui, se casou, teve duas filhas, ficou viúva e hoje se diz realizada na vida e no amor novamente. “Tenho uma união, somos muito felizes com a vida que levamos”, cita.

Lembra que já foi professora infantil, trabalhou com marcenaria e atuou no Estado onde chegou a fazer um curso de matemática em Recife, onde viveu durante um tempo. “Por isso tudo que eu pego de número, tento entender”, diz.

Para Tulia, a cobrança em cima da decisão de mudar a rotina de vida nunca importaram. “Não me importo com o que as pessoas pensam. Já passei por muita coisa nessa vida que tem gente que nem imagina. Já vivi na pobreza, já passei fome e venci. Então, pra mim o que vale é o que tem no coração e o que as pessoas constroem através da educação”, diz.

Entre as equações, perdeu as contas de quantas vezes foi chamada de louca, mas isso também continua sendo irrelevante. “Me considero feliz, porque vem de dentro. A gente nunca é feliz procurando felicidade fora da gente. Essa felicidade deve ser construída dentro de cada um com o que se tem”, diz.

Longe da vaidade, a única preocupação é com a saúde. “Não sei se vou viver muitos anos, mas enquanto eu estiver aqui, quero viver bem. Isso que eu faço me distraí e não me deixa adoecer. Porque na minha idade, ficar sem fazer nada, a vida para e você acaba inventando motivos para a infelicidade”, ensina.

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