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Comportamento

A realidade mudou bastante, mas o preconceito não

Elverson Cardozo | 20/11/2012 08:29
Maria Neci diz que muita coisa mudou, mas os negros ainda são discriminados. “Às vezes você chega em algum lugar e olham torto para você”, disse. (Foto: Minamar Junior)
Maria Neci diz que muita coisa mudou, mas os negros ainda são discriminados. “Às vezes você chega em algum lugar e olham torto para você”, disse. (Foto: Minamar Junior)

Uma conversa rápida na rua, com qualquer um que se habilite a falar do assunto, é o suficiente para mostrar que a realidade mudou bastante, mas o preconceito contra negros ainda existe, apesar dos anos e dos discursos de inclusão.

Celebrado nesta terça-feira (20), o dia da Consciência Negra tem o objetivo de promover uma reflexão acerca da inserção do negro na sociedade. A data lembra o dia da morte de Zumbi de Palmares.

Casada com um negro há 7 anos, a bloquista Patrícia Salina Vitorino, de 33 anos, espera que o dia sirva para que as pessoas passem a encarar o negro como ser humano. E não é exagero querer isso, garante.

O preconceito, enraizado na sociedade, ainda é presente e está por toda a parte. “Hoje em dia melhorou bastante, mas ainda existe”, disse.

Outro dia, contou, o marido foi abordado por policiais, durante um passeio à noite. Ela, que seguia atrás, não chegou nem a ser revistada. “Eu também poderia ser bandido. Por que não me abordaram?”, questionou.

Para a bloquista, esse tipo de situação reforça que muita gente ainda não conseguiu aprender que a cor não elimina a condição de pessoa, não tira o caráter, nem as qualidades. “É gente como a gente”, afirmou.

Maria Garcia Ferreira, de 63 anos, é casada com um negro há 50 anos e pensa da mesma maneira que a bloquista. Acredita que os negros, hoje, estão se destacando, sendo valorizados. Apesar disso, a discriminação ainda é uma realidade.

Elizeu Riquelme acredita que o preconceito às vezes vem do próprio negro.
Elizeu Riquelme acredita que o preconceito às vezes vem do próprio negro.

“Tem que mudar porque todos nós somos iguais. Eles são humanos. Só a cor é diferente. O sangue é igual”, disse.

As duas defendem políticas públicas voltadas aos negros. As cotas em universidades, por exemplo, se fazem necessárias porque o preconceito pode não existir no discurso, mas é velado.

Negro, Elizeu Riquelme Rodrigues, de 58 anos, vai na contramão de todos esses argumentos e explica o porquê: “A discriminação começa aí, porque você está qualificando o branco e o negro”.

Para o representante comercial, a raça não dita competência e as disputas deveriam ser de igual para igual. O preconceito, declarou, às vezes parte do próprio negro. “Isso manda muito da cabeça da pessoa. Eu nunca fui discriminado”, contou.

Esta terça-feira, para ele, representa apenas um dia para os negros que devem se manter com “a cabeça erguida” e “pensar positivamente”.

Na comunidade Tia Eva, remanescente de quilombo, a discussão se prolonga. A dona de casa Neide Ferreira, de 34 anos, concorda que alguns exageram, enxergam preconceito em tudo, mas ele existe sim, disse. Houve mudanças, pontuou, mas ainda falta muita coisa. “Não está como a gente quer”.

Neide Ferreira e o filho de 1 ano. (Foto: Minamar Junior)
Neide Ferreira e o filho de 1 ano. (Foto: Minamar Junior)

A irmã, Maria Neci, de 26 anos, sabe bem o que isso significa, porque sente na pela a discriminação. Atitude que, para ela, demonstra a falta de amor pelo próximo. “Às vezes você chegam em algum lugar e olham torto para você”, comentou, ao dizer que já enfrentou situações desagradáveis no comércio, por exemplo.

A amiga, a diarista Lucileia Cassia, de 34 anos, espera uma mudança, mas sabe que isso não vai ocorrer do dia para noite. É um processo demorado de conscientização.

Casada com um negro há 15 anos, ela tem opinião formada sobre o assunto: “Penso que o negro deveria ser igual o branco, porque todo mundo é de carne e osso”.

Percentual de  pretos aumentou 4,9%, segundo IBGE. (Foto: Minamar Junior)
Percentual de pretos aumentou 4,9%, segundo IBGE. (Foto: Minamar Junior)

Estimativa - Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000 para 2010, apontam que Mato Grosso do Sul foi o terceiro Estado brasileiro com maior queda no número de pessoas que se declaram brancas (7,4%).

O percentual de pardos e pretos aumentou, automaticamente. Em 2010, o número de brancos declarados caiu para 47,3%, o de pretos aumentou para 4,9% e o de pardos aumentou para 43,6%, o que leva à soma de 48,5%.

A metodologia do instituto usa a palavra preto para indagar as pessoas sobre sua cor. Pela convenção do IBGE, no Brasil, negro é quem se autodeclara preto ou pardo. A população negra é o somatório dessas duas populações.

Data – Instituída pela lei 10.639, de 9 janeiro de 2003, o Dia da Consciência Negra é uma homenagem a Zumbi de Palmares, um dos líderes dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, na divisa entre Alagoas e Pernambuco.

Zumbi nasceu livre em Palmares, em 1655. Foi capturado e entregue a uma família portuguesa. Aos 15 anos, fugiu para seu local de origem e tornou-se o mais famoso do quilombo por ter lutado contra a opressão portuguesa. Ele morreu no dia 20 de novembro de 1695.

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