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Comportamento

A vida é complicada, mas com crochê parece ficar mais fácil na Vila Almeida

Viviane Oliveira | 30/08/2013 06:39
Leonilda e a irmã, Maria Lúcia, 'crochetando" em frente de casa. (Foto: Cleber Gellio)
Leonilda e a irmã, Maria Lúcia, 'crochetando" em frente de casa. (Foto: Cleber Gellio)

Na rua calma da Vila Almeida, não dá para passar sem um dedinho de prosa com duas senhoras risonhas, fazendo crochê na calçada. A parada começa pela curiosidade, mas acaba se justificando pela lição de vida.

A cena tem Leonilda Marquês Hervas, 70 anos, e Maria Lucia Almiron, 64, irmãs e vizinhas, que passam as tardes debaixo de uma árvore na rua Presidentes Antônio Carlos.

As aposentadas têm a diversão em frente de casa, sem hora para acabar. "Só damos uma pausa para chupar laranja", brinca Leonilda, a mais simpática e faladeira.

Nem parece que a vida foi dura. Maria Lúcia tem 9 filhos, 15 netos e duas bisnetas. Ficou viúva e agora os maiores companheiros em casa são dois filhos com uma doença que até hoje é mistério para a família.

Roberto, de 48 anos, parou de andar na adolescência e Anderson, de 34, enfrenta agora o mesmo problema. “O Roberto, por exemplo, andou até os 17 anos, depois começou a sentir muita câimbra e dor nas pernas, quando pensei que não ele já estava entrevado em uma cadeira de rodas”, diz Maria Lúcia.

O mais novo também já não consegue caminhar sozinho. “As pernas dele estão entortando. O médico disse que é uma doença hereditária e que os netos poderão ter a mesma coisa no futuro”, relata.

O jeito foi passar anos pedindo uma solução a Deus e se apegando à irmã. Maria Lúcia é a caçula de 9 irmãos, mas foi em Leonilda que encontrou o maior apoio na vida. “Quando ele cai (Roberto) ela é a primeira a correr para a rua pedir socorro e às vezes também o acompanha ao médico”, diz.

A troca é evidente. A dureza guardada para Maria serve de motivo para Leonilda não reclamar da vida.
A mais velha contabiliza 8 filhos, 18 netos e 19 bisnetos. Ficou viúva cedo, mas se casou de novo com um homem 22 anos mais novo. A combinação que ao preconceito parecia uma receita fadada ao fracasso, há 30 anos dá certo.

Uma ao lado da outra, as duas vão aprendendo a enfrentar as dificuldades com a conversa em horas de crochê, quando o importante passa a ser o ponto perfeito.

As duas fazem de tudo, toalha de mesa, tapete, vestidinho para crianças, jogo de banheiro...mas nada é vendido. Quase sempre, vira presente. “Em vez de ficar pensando bobeira a gente faz crochê. É uma terapia para a cabeça”, afirma as irmãs.

No meio da conversa descontraída, das senhoras de aparência impecável, o riso só desapareceu uma vez. Maria diz que precisa de uma cadeira de rodas para Roberto, porque o filho engordou e precisa de outra mais reforçada. Quem quiser ajudar, pode ligar para 3361- 8305 (Leonilda).

Filho Roberto assiste a conversa da tia e da mãe. (Foto: Cleber Gellio)
Filho Roberto assiste a conversa da tia e da mãe. (Foto: Cleber Gellio)
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