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Comportamento

A vida mudou graças à amiga e ele descobriu que "gratidão" não é clichê

Paula Maciulevicius | 04/11/2015 07:23
"Acho importante o reconhecimento pelo papel que a pessoa tem na minha vida e eu falo sempre", diz Téo sobre Nathália. (Fotos: Arquivo Pessoal)
"Acho importante o reconhecimento pelo papel que a pessoa tem na minha vida e eu falo sempre", diz Téo sobre Nathália. (Fotos: Arquivo Pessoal)

No dicionário a definição é "agradecimento, reconhecimento". Para Téo e Nathalia, o significado vai muito além de um obrigado. Amigos há 11 anos, o que eles sentem um pelo outro é isso: gratidão, uma palavra que já virou clichê graças a postagens nas redes sociais em exaustão. No caso deles, o sentimento que é reconhecido e vivenciado num abraço, num texto e até em música.

Teodoro Caffé tem 29 anos, Nathalia Ziolkowski, 30. Os dois se conheceram em 2004, no curso de Ciências Sociais da UFMS. Desde então, caminham juntos por saberem que ninguém faz nada sozinho. "Direta ou indiretamente as pessoas estão contribuindo na nossa caminhada", começa Téo. Ele quem coloca Nathalia como "peça fundamental nessa caminhada diária" quando marcamos uma outra entrevista, da qual ela não poderia estar presente. A devoção à amiga me fez querer perguntar se aquilo era gratidão? A resposta está toda descrita abaixo, tanto da parte dele, quanto dela. 

Na fase de aprendizagem, Nathalia encaminhou Téo para as participações nos movimentos sociais que aconteciam em Campo Grande, desde a primeira Parada Gay até as marchas. "A gente era muito imaturo e ignorante em relação a essas temáticas no sentido acadêmico e teórico. Essa troca de experiência, de ideias, a Nathalia me coloca dentro de tudo o que está sendo discutido", descreve Téo.

Por influência da amiga, ele descobriu que dava para unir a paixão do Carnaval e da música através dos batuques no grupo Tambores do Vento Bom e também que era possível colaborar na ONG onde Nathalia trabalha, o IBiss. "Foi ela também que me levou para dar aula afro-latina, eu já trabalhava com isso, a partir de alguns recortes que tinha aprendido na UFMS e ela me apresentou uma das sócias-proprietárias, mais uma porta que ela me abriu", conta. Na separação de Téo, Nathália também foi o ombro amigo.

O encontro "feliz" aconteceu na universidade, mas não ficou restrito às salas de aula.
O encontro "feliz" aconteceu na universidade, mas não ficou restrito às salas de aula.

"O nosso elo começou a ser construído naquele momento. A Nathália é uma pessoa que eu tenho muita gratidão. Por que? Toda possibilidade que ela tem na vida, ela me auxilia, me ampara e partilha de todo conhecimento, faz isso de uma maneira muito generosa e amorosa", descreve Téo.

São tantas coisas que eles viveram e vivem até hoje, que o contato íntimo e profundo chegou à escrita e juntos eles assinam textos ou os dedicam um ao outro.

"Temos uma frase: Família não se dá a partir da determinação biológica e sim da sintonia", completa Téo.

O amor constante, permanente, aliado ao respeito e a admiração têm como raiz a gratidão. "Sou grato por tudo que ela tem me proporcionado, no aspecto afetivo, intelectual". Ele fala isso à Nathalia. Não só na reportagem, mas no dia a dia. E aí entra o significado de "gratidão", através do reconhecimento.

"Acho importante o reconhecimento pelo papel que a pessoa tem na minha vida e eu falo sempre".

Do outro lado, Nathalia sempre ouve e reproduz as mesmas palavras. "Sou igualmente muito grata a ele também. Na verdade a gente acabou contribuindo um com o outro na nossa caminhada. O que ele atribui a mim, que eu tenha levado ele por alguns caminhos, ele fez igualmente comigo".

Os exemplos começam na descoberta do talento artístico. Nathália começou a escrever textos não acadêmicos, produções literárias, poesia, música, crônicas e até uma peça teatral eles já narraram a quatro mãos. "Ele que me chamou atenção para isso, trouxe isso para mim. A gente já produziu muito junto. Ele me levou para esse exercício da escrita, que para mim é muito transgressor". Além de Téo sempre apoiar, incentivar e dividir as tarefas da militância LGBT.

Que família não é de sangue e sim de sintonia, Téo já nos ensinou. Mas o que a gente também leva em conta é a soma de sentimentos que resultam na gratidão. "É um caminho de doar e receber mútuo que eu acho que tem tudo a ver com a gratidão".

"Se eu falo? Sempre. Dedico textos, trocamos cartas".

E um deles que escolho para terminar:

O amor constante, permanente, aliado ao respeito e a admiração têm como raiz a gratidão.
O amor constante, permanente, aliado ao respeito e a admiração têm como raiz a gratidão.

Agradecer

A gratidão precede o respeito. Quando o respeito se estabelece é porque já houve o reconhecimento, a atribuição de valor ao/a outro/a, e reconhecer o/a outro/a perpassa pelo autoreconhecimento, isso, por si só já é grande, já resignifica a existência, e tudo isso é gerado pelo sentimento de gratidão e depois da gratidão, o que vem é a celebração.

A gratidão é a exuberância da alma e exercitá-la faz parte do promover a regeneração do mundo. A maioria de nós está em conflito, somos culturalmente preparados para sermos cobiçosxs, possessivxs, olhamos para as outras pessoas e, ao invés de reconhecê-las, nós as julgamos. Nós queremos receber, mas retribuir é necessário para despertar a gratidão. O reflexo do que somos é o que acontece em nossa sociedade.

Nathália Ziê (exercitando o caminho da gratidão)


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