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Comportamento

Absurdos contra funcionários mostram como um cliente também pode ser vilão

Elverson Cardozo | 15/05/2014 06:22
Quem trabalha no comércio enfrenta clientes mal educados todos os dias. (Foto: Marcos Ermínio)
Quem trabalha no comércio enfrenta clientes mal educados todos os dias. (Foto: Marcos Ermínio)

É comum ouvir de clientes que o atendimento, no comércio, em Campo Grande, não é dos melhores. Falta de informações, péssimos serviços e queixas relacionadas a funcionários mal treinados, sem um pingo de educação, são algumas das reclamações recorrentes que, quando caem nas redes sociais, ganham proporções antes inimagináveis. Mas e do outro lado do balcão? Como é a realidade de quem vive para atender? Os funcionários são sempre os vilões da história? Não. O Lado B saiu às ruas do Centro e colheu depoimentos difíceis de acreditar.

“Cliente já falou para mim: vou te dar um tiro na cara”, conta o consultor de vendas de uma operadora de telefonia móvel. Há dois anos na empresa, ele já presenciou vários “barracos”: “Teve um que quebrou o computador da loja; o outro levou um tablet, voltou com o aparelho todo quebrado e falou que a gente tinha que trocar”.

O rapaz, que prefere não ser identificado para não soar antipático diante da clientela, diz estar acostumado aos desaforos, tenta resolver com tranquilidade, sem perder a linha, mas confessa que, às vezes, “apela”, "porque, se for bonzinho demais, muitos abusam".

As histórias se repetem, mas cada uma tem sua particularidade. Há uma semana trabalhando como vendedora em uma loja de roupas da rua 14 de Julho, também no centro, Henriquieta Solabarrieta, de 18 anos, se deu conta de que terá de agir com muito sangue frio e profissionalismo, caso queira passar do período de experiência sem pedir as contas.

“Uma senhora comprou uma blusa da promoção e depois queria trocar, mas a gente não troca e explicamos isso antes. Aí ela disse que iria processar. Saiu xingando na porta”, conta.

Mas isso não é exclusividade do segmento. Quando trabalhava como atendente em um restaurante, ela também sofria com o público. Sempre aparecia um para caçar confusão. “A gente tenta manter a paciência, mas não temos culpa das regras, só que muita gente acha que somos culpados”, desabafa.

Mesma coisa relata a gerente adjunta de uma farmácia, Diana Alvarenga, de 26 anos. O estabelecimento segue as normas da Vigilância Sanitária, mas, apesar disso, é comum aparecer algumas pessoas querendo comprar medicamentos com receitas vencidas. Como não conseguem, saem esbravejando e destratam os atendentes.

Recentemente, uma funcionária, segundo ela, pediu as contas porque não aguentou mais ser humilhada. A gota d'água foi a “discussão” com uma senhora que chegou à filial e pediu para ser atendida na hora, ignorando a fila.

“Tinha muita gente, mas ela queria na hora e a menina falou que não podia. Ela não gostou, começou a gritar, fez a moça chorar e disse que se voltasse no outro mês e visse ela aqui iria fazer outro escândalo”, relembra.

Fatos como esses revoltam e podem chocar, mas são mais comuns do que muita gente imagina. Quem lida com isso todos os dias tem histórias inacreditáveis, mas acaba se acostumando, ignora e segue trabalhando.

Registro feito por Dulcilla mostra atendente ao lado do gerente e cliente que teria sido racista ao fundo (de calça jeans e blusa azul)
Registro feito por Dulcilla mostra atendente ao lado do gerente e cliente que teria sido racista ao fundo (de calça jeans e blusa azul)

Racismo - O problema é quando a situação passa dos limites. Denúncia recente, do domingo (11) do Dia das Mães, mostra exatamente esse lado da moeda. No Facebook, a administradora Dulcilla Rodrigues, de 35 anos, relata que, na Pernambucanas, do Shopping Campo Grande, uma funcionária negra teria sido vítima de racismo

A agressão, na versão da mulher, que afirma ter presenciado o fato, partiu de uma cliente que, nas palavras dela, xingou, humilhou, gritou e apontou o dedo várias vezes para uma operadora de caixa. E tudo isso porque o sistema passou errado o preço de algum produto ou peça sem o desconto, ao que tudo indica, da etiqueta.

“Além de fazer um barraco, ela tentou intimidar os que olhavam e a criticavam por tal atitude ridícula e vulgar. […] A funcionária, em nenhum momento, gritou ou ergueu a voz. Simplesmente falou que era gente igual ela e que não tinha culpa. E sabe o que essa maldita falou? 'Olha para você, olha sua cor'. O choro comoveu a todos porque a funcionária ainda teve que acompanhar o atendimento até o fim, junto com o gerente.

Dulcilla termina o texto dizendo que fechou o Dia das Mães revoltada e triste com o choro calado da atendente que passou mal e teve se de retirar. “Nessa hora vemos que o ser humano não é capaz de respeitar o próximo”, escreveu. O post, até o fechamento desta matéria, tinha 596 compartilhamentos.

Depois do fato, a colaboradora entrou em contato Dulcilla para agradecer: “Oi, sou a menina da Pernambucanas. Obrigada pelo carinho. Vi que você ficou lá e queria falar comigo, mas, infelizmente, não estava em condições. Passei muito mal e resolvi ir ao banheiro chorar um pouco e voltar a trabalhar”.

O Lado B procurou a Pernambucanas, mas ninguém está autorizado a comentar o caso.

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