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Comportamento

Amigo morreu e deixou liberdade em forma de cadeira de rodas para Juliana

Naiane Mesquita | 19/07/2016 06:05
Juliana ganhou a primeira cadeira aos 26 anos e desde então tomou gosto pela liberdade (Foto: Marina Pacheco)
Juliana ganhou a primeira cadeira aos 26 anos e desde então tomou gosto pela liberdade (Foto: Marina Pacheco)

Aos 26 anos, Juliana ganhou a primeira cadeira de rodas motorizada da vida. O passaporte para uma liberdade que ela nem fazia ideia de como seria veio de um amigo que sempre a prometia como herança. O tempo passou, Júnior faleceu e com certo amargor, o presente veio. Mais que um incentivo para ver a vida lá fora, a jovem deixou de lado o medo e arriscou experimentar outros caminhos, incluindo se tornar vendedora de bombons em supermercados e pizzarias de Campo Grande.

Bombom e alfajor vendidos por Juliana (Foto: Marina Pacheco)
Bombom e alfajor vendidos por Juliana (Foto: Marina Pacheco)

“Eu comecei em um supermercado mesmo. Fiquei no mesmo lugar durante anos. Na época, tinha um grande fluxo de pessoas e eu conseguia vender bem. Só depois eu vim para a Pedaço da Pizza, onde eu estou faz um tempinho também”, afirma Juliana Maria Pires, 33 anos.

Os bombons tem o mesmo preço faz um tempo, mas ela cogita em aumentar o valor, já que os produtos básicos subiram. “É um bombom por R$ 3,00 e dois por R$ 5,00. Tento não aumentar, troco algum ingrediente ou mudo a embalagem. Quem faz é a minha irmã mais nova, a Jéssica. No início eu comprava de terceiros, mas pensei que poderíamos produzir e manter a qualidade. Acabou dando certo”, explica.

Faça sol ou chuva, Juliana continua vendendo os produtos. Em dias frios, coloca um gorro e cachecol e encara o trabalho. Para ela, muito além de uma fonte de renda, o comércio é uma forma de se sentir útil e conhecer novas pessoas.

“Eu gosto muito, muito mesmo. Tem a questão da necessidade, mas também porque me sinto útil. Existe uma vida antes e depois da cadeira motorizada. Estou na terceira cadeira, não é mais a que o Júnior me deu, mas fez uma grande diferença na minha vida”, acredita.

Para Juliana, conhecer os lugares sem ser da janela do carro da mãe fez toda a diferença na vida. Cheia dos compromisssos, ela vai a igreja, fisioterapia e trabalhar tudo de ônibus. Começou publicidade e propaganda, mas o corte no financiamento acabou trancando a matrícula no terceiro semestre. De sonho mesmo só resta um.

“Quero casar e ter filhos. Tenho 33 anos e o meu corpo não entende que sou cadeirante, que para mim é mais difícil de encontrar uma pessoa, por causa do preconceito. De certa forma sinto a cobrança da idade. Esse é com certeza o sonho da minha vida, ter uma família”, diz.

Enquanto isso não acontece, ela segue com “a liberdade que não tem preço”, trabalhando das 19 horas à meia-noite, toda independente, como sempre quis na vida. “Sempre procuro alguma coisa para fazer, tenho agonia de ficar em casa. Já fiquei muito tempo. Quando não tenho um compromisso, logo dou um jeito de descobrir. Depois que descobre o que é bom, já viu né”, ri.

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