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Comportamento

Amor que sobreviveu ao câncer mobilizou MC Donald's para pedido de casamento

Naiane Mesquita | 27/08/2015 07:34
Com história de amor digna de filme, Janaína e Henrique lutaram contra a distância, o ciúmes e o câncer para ficarem juntos (Foto: Vanessa Tamires)
Com história de amor digna de filme, Janaína e Henrique lutaram contra a distância, o ciúmes e o câncer para ficarem juntos (Foto: Vanessa Tamires)

Juntos, eles são só sorrisos. Sentados no sofá de casa, Janaína e Henrique Paim parecem não ter mais medo do futuro. Brincam com as histórias dos quase dez anos juntos, entre idas e vindas típicas do amor, das barreiras que encontraram pelo caminho e da chegada da primeira filha do casal, a pequena Yanni, prevista para janeiro.

Grávida de quatro meses, com uma barriguinha que mal dá para notar, mas com uma felicidade que transcende, Janaína nunca imaginou que esse dia chegaria sem um mínimo de esforço.

Henrique, que era considerado estéril por causa do tratamento contra a leucemia linfoide, descoberta em 2012, já havia até bolado uma campanha para arrecadar o dinheiro necessário para a inseminação artificial. Mas começou a desconfiar das mudanças de humor da namorada. “Essa parte eu que vou falar porque nossa, ela ficou muito diferente, um pouco insuportável, eu estava dormindo até no sofá. Não podia nem olhar para ela que acontecia uma discussão”, relembra.

A hora do pedido em pleno MC Donald's da avenida Mato Grosso (Foto: Arquivo Pessoal)
A hora do pedido em pleno MC Donald's da avenida Mato Grosso (Foto: Arquivo Pessoal)

Meio com vergonha, a professora de Educação Física confessa que estava diferente mesmo. “Mas, nunca achei que fosse uma gravidez. Ele não podia ter filhos, a gente nem se protegeu. Ele já tinha feito o espermograma e o exame tinha confirmado que ele era estéril”, afirma.

Os planos eram uma inseminação pelo desejo de Janaína de vivenciar a gravidez. “Mas sempre foi caro então ainda estávamos tentando o dinheiro. Quando o Henrique descobriu o câncer, o médico ofereceu que ele guardasse o sêmen para o futuro, mas era R$ 5 mil e ele não tinha condições financeiras de arrumar esse dinheiro tão rápido”, conta.

Henrique lembra até hoje que precisou insistir muito pelo exame de gravidez da namorada. “Ela não queria de jeito nenhum, mas resolveu fazer no dia que eu viajei com o time de futebol americano. Quando ela me deixou no aeroporto eu insisti mais uma vez. A menstruação dela estava atrasada há mais de um mês! Em Brasília recebi a foto com o resultado positivo. Foi aquela alegria. Naquele dia eu já sabia que seria menina também”, se gaba, para a careta da noiva. “Ele sempre acerta tudo”.

Ao lado dos dois é difícil de imaginar que algum dia existiu uma separação. Mas, longe de ser um conto de fadas e mais próximo de um filme hollywoodiano, o casal precisou de muita força de vontade e da ajuda do destino para permanecerem juntos.

Para entender melhor é preciso voltar até 2007. “Eu sai de casa com 12 anos. Fiquei perambulando na casa dos outros até que meu pai soube e me chamou para morar com ele. Cheguei aqui com 17 anos, em março de 2007”, resume.

A comemoração após o "sim" de Janaína
A comemoração após o "sim" de Janaína

Ao se deparar com o pai, Henrique tentou reconstruir uma relação abalada pela distância, já que ele morou toda a infância em Guarapuava, no Paraná. Mas, antes de qualquer aproximação mais forte, o pai descobriu uma doença grave no pulmão. “Ele caiu de cama, precisou ficar nos hospital e no fim eu cuidei dele o tempo todo, trocava as fraldas, fiquei do lado dele”, diz.

A dedicação quase total fez o pai insistir para que ele se divertisse um pouco, tentasse ao menos fazer amizades na cidade nova. Inspirado pelos Centros de Tradições Gaúchas que ele frequentava na infância, Henrique resolveu ir até uma festa no Tropeiros da Querência, um dos famosos de Campo Grande. “As coincidências começam ai. Foi bem no dia que a Janaína voltou a frequentar o Tropeiros da Querência também. Encontrei ela lá. Me apaixonei na hora que a vi”, diz, todo romântico, para em seguida completar. “Mas, ela tinha namorado”.

Persistente, ele ficou durante seis meses paquerando Janaína. Nesse ponto, com o pai em coma, Henrique achou que seria uma boa passar o aniversário na cidade natal ao lado da família. Talvez, por medo de perder ou não, a amada finalmente resolveu ceder aos encantos. “Beijei ele um dia antes de ir embora para o Paraná”.

O casal na época em que Henrique estava em tratamento. O segredo para ele era viver intensamente
O casal na época em que Henrique estava em tratamento. O segredo para ele era viver intensamente

Pouco tempo depois, no dia 13 de outubro, aniversário de Henrique, o pai dele faleceu. “Quando ele se foi, eu não tinha mais como me manter aqui e resolvi voltar pra casa”, conta. Janaína retruca. “Esperou eu ficar com ele para ir embora”. Não satisfeito o publicitário ainda excluiu ela do finado Orkut. “Para não ficar lembrando. Perdemos todo o contato até 2010 quando nos reencontramos no MSN. Eu fiquei noivo no Paraná, ela também namorou, mas tínhamos terminado de novo. Sempre perguntava para ela o que teria acontecido se eu tivesse ficado. E ela só fazia charme”, brinca.

Decidido a reconquistá-la, ele pegou um avião e veio atrás de Janaína. “No aeroporto só nos beijamos, nem falamos nada. Éramos quase dois estranhos depois de tanto tempo”. Logo veio um namoro a distância, que virou próximo em 2011 e depois se desfaleceu por ciúmes em 2012. “Me mudei para Campo Grande de novo, namoramos um ano e terminamos. Eu era muito ciumento, ainda fui eu que terminei”, diz Henrique, confessando a mancada.

Viciado em MC Donald's e com dores no estômago que nunca passavam, Henrique lembra que sempre ouviu de Janaína que deveria procurar um médico que avaliasse os sintomas de uma possível gastrite. “Depois que terminamos fiquei com aquilo na cabeça, que deveria me cuidar mais e fui em um gastro. Ele já tinha pedido todos os exames quando eu falei de um caroço que eu tinha faz tempo no pescoço. O médico que tinha participado de um congresso de oncologia desconfiou e pediu os exames. Soube pouco tempo depois da leucemia linfoide”.

Do desespero à depressão, trancado em casa, ele demorou mais de um mês para iniciar o tratamento. Janaína só soube pela mãe do então ex-namorado da doença. “Ele não queria que eu sentisse pena”, afirma. Amigos de novo, foi ela que ficou ao lado dele durante todo o processo, cerca de 11 meses de quimioterapia. “Voltamos um tempo depois com a proposta de começar do zero. Foi ela que cuidou de mim, ficou do meu lado enquanto eu recebia os medicamentos e sofria com os efeitos colaterais, limpava meus vômitos, foi degradante, não sei como ela aguentou. No dia que pedi ela em namoro de novo estávamos almoçando no Sesc. Assim que terminei de falar eu vomitei no chão”, relembra rindo.

Os dois com os trajes típicos do CTG e onde tudo começou
Os dois com os trajes típicos do CTG e onde tudo começou

O amor que tudo suportou se manteve fiel sempre até que a boa notícia chegou. “Em 2013 eu comecei a aparentar melhoras, não precisei entrar no segundo ciclo de tratamento e fiquei em remissão, ou seja, na fase em que se ele não voltar nos próximos cinco anos estou totalmente curado. Já se foram dois”, comemora.

Na lanchonete - A boa nova fez, após pressões da namorada, Henrique pedir a jovem em casamento. “Mas, como sou publicitário todo mundo falou que tinha que ser criativo”, conta. Então, munido de várias câmeras e de um plano orquestrado ao lado dos amigos publicitários e do gerente do MC Donald's, o paranaense se infiltrou no Drive-Thru da filial da avenida Mato Grosso e se fingiu de atendente. “Deu tudo errado. A câmera do totem caiu, ela ficou me pedindo detalhes do lanche, que brinquedo vinha no MC Lanche Feliz e eu nem sabia, falei que não tinha nenhum”, solta uma gargalhada.

Quando todo os pedidos foram feitos, ele soltou a seguinte frase. “Agora que a senhora já encerrou os pedidos, pode ir a próxima janela para eu fazer o meu?”. Achando tudo aquilo uma maluquice, Janaína seguiu e deu de cara com um par de alianças. “Chorei muito. Minha família, nossos amigos todos estavam lá. Sai com a cara inchada em todas as fotos”.

Com o casamento marcado para o dia 5 de dezembro na Igreja São José, os dois agora, são só alegria. “Vou estar com uma barrigona da Yanni”. Enquanto isso, por promessa de que a filha venha bem e com saúde, Henrique só corta a barba após o nascimento. "Eu estou gostando desse novo visual".

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