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Comportamento

Aos 19 anos, campo-grandense conhece pessoas em Portugal usando a fotografia

Ângela Kempfer | 05/11/2013 06:47
Amigas abordadas pelo brasileiro, sem nome ou idade. (Fotos: Bruno Francisco)
Amigas abordadas pelo brasileiro, sem nome ou idade. (Fotos: Bruno Francisco)
Bruno tem 19 anos e desde os 10 vive em Portugal.
Bruno tem 19 anos e desde os 10 vive em Portugal.

Ninguém tem nome divulgado na foto. Todos são anônimos que um dia cruzaram com Bruno Francisco pelas ruas de Leiria, em Portugal, e deixaram algum relato. Com apenas 19 anos, o rapaz nascido em Campo Grande resolveu descobrir nos outros algo que ainda não sabe sobre si: o que esperar do futuro. Assim, também rompeu a timidez nos tempos de adaptação no novo País.

A ideia do projeto “Faces of the future” segue o estilo “Humans of New York”, um site com apanhado de fotos e histórias de pessoas comuns nos Estados Unidos.

Francisco também fotografa gente, mas são sempre jovens de até 25 anos. Outra diferença é que ele criou 4 perguntas fixas que começam por “Qual a maior dificuldade que passas neste momento?”.

Há nove anos, quando deixou Mato Grosso do Sul, a resposta dele à questão provavelmente seria: “Meu pai veio para Portugal para tentar dar uma vida melhor para nós. O Brasil não estava tão bom economicamente e meu pai foi meio que obrigado a deixar o Brasil”.

Hoje, a adaptação rende outra realidade ao jovem fotógrafo. “Fui cada vez mais me apaixonando por fotografia e até hoje continuo a amar esse meu hobby que daqui a pouco vira profissão”.

Rapaz que rodar o mundo em busca de boas ondas.
Rapaz que rodar o mundo em busca de boas ondas.

A princípio não foi fácil abordar desconhecidos nas ruas. “Sempre tive meio medo de falar com as pessoas e fazer novas amizades. Esse projeto para mim, logo no inicio, foi uma enorme pressão psicológica”, conta.

Mas em dois meses de projeto ele já reunia 24 depoimentos. São histórias de pessoas que querem uma vida confortável que pensam em viajar pelo mundo ou em mudar o mundo.

Além de autorizar a foto, as pessoas costumam revelar aspectos bem particulares da vida. “Eu e a minha mãe vivemos juntas, só nós duas em casa. Não nos entendemos muito bem. Não quero dizer que não a amo, amo-a e muito, somente não temos o mesmo feitio”, diz uma das entrevistas.

Sem planejar nada, também encontrou filha de ator pornô, o menino que sofria por não saber andar de bicicleta, a garota preocupada com a gravidez precoce e muita gente cheia de sonhos. “Outra menina disse que quer ser a primeira mulher portuguesa a ganhar um Nobel da literatura”.

Menino só queria saber andar de bicicleta direito.
Menino só queria saber andar de bicicleta direito.

E assim, Francisco se convenceu que boas histórias estão em todo lugar e passou a divulgá-las no Facebook. “Tive a sorte de encontrar um rapaz na estação de ônibus de Lisboa. Estava sentado numa cadeira, eu sentei do lado dele e lhe ofereci um pouco da bolacha que estava comendo. Conversa vai e conversa vem, acabo por descobrir que ele é um homem que está viajando Portugal a pé, ajudando pessoas carentes a construir casas e outros tipos de construções.”

Por vezes, antes de decidir quem irá abordar, além da sorte o que conta é a observação. “Estava lá eu sentado a meter-se na minha vida, quando vejo um rapaz cego, usando a sua bengala para desviar-se dos obstáculos a sua frente (com muita dificuldade). Todos olhavam, até que então esta pessoa teve a coragem de levantar-se e ir ajudar o rapaz, acompanhando-o até ao seu destino”, lembra sobre a garota sorridente que como resposta às perguntas de Francisco disse que a maior dificuldade atual é prova de aptidão profissional e que sonha em “ser uma pessoa que tenha um emprego e família constituída”.

A vontade agora é percorrer a Europa e assim evidenciar as diferenças regionais, tentar mostrar que a prioridade de um pode ser questionável diante do outro. “Tento mostrar a dificuldade que muitas pessoas passam ao longo da vida e a esperança que reside dentro de cada um. Pretendo ir para regiões mais remotas e mostrar a diferença do ’O meu maior problema é não ter um telefone agora’ e o ‘O meu maior problema é que o meu irmão está passando fome’ Quero alertar as pessoas que o verdadeiro problema não é aquele em que pensamos ser".

Jovem foi escolhida por ser a única a ajudar deficiente visual.
Jovem foi escolhida por ser a única a ajudar deficiente visual.
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