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Comportamento

Aos 70 anos, mesmo "crente", dona Perpétua cortou o cabelo branco para doar

Elverson Cardozo | 15/03/2015 09:12
Com o cabelo curto, Perpétua prefere esconder os fios. (Foto: Alcides Neto)
Com o cabelo curto, Perpétua prefere esconder os fios. (Foto: Alcides Neto)

Há pouco mais de um mês, o cabelo grisalho, quase completamente branco, batia abaixo da cintura. Agora, está praticamente no ombro, mas escondido debaixo de um lenço. “Muitos não ligam, porque acham que tanto faz, mas está na Bíblia que, se eu corto, tenho que usar véu”.

Quem diz isso é Perpétua de Lima Naves. Aos 70 anos e pela primeira vez na vida, a senhora, que mora em Campo Grande e trabalha como recicladora, fez uma mudança radical: passou a tesoura na longa cabeleira que cultivava há 10 anos.

Fez isso não porque queria ficar mais bonita, mas para ajudar outras mulheres, vítimas do câncer, que ficam carecas por conta das sessões de quimioterapia e, por isso, precisam usar perucas. Evangélica, seguidora da Igreja Testemunhas de Jeová há 35 anos, ela diz que “a mulher não deve ter cabelo curto por causa da pregação do reino e dos anjos”, mas explica que decidiu cortar porque se sensibilizou com a causa.

“Chegando em casa um dia a noite meu marido viu meus cabelos soltos, branquinhos, e falou: 'Por que você não doa? Estão pedindo na televisão'. Aí eu pensei: Por que não doar? Meu cabelo é bom de raiz e Jeová Deus poderá me dar outro para cuidar dele e crescer de novo. Assim as pessoas poderiam ganhar uma peruca”, relembra.

Decidida, ela foi ao salão e, sem enrolar, pediu que passasse a tesoura. Depois, entregou as madeixas no Hospital do Câncer. “Ele estava abaixo da cintura, três, quatro dedos, para não falar que era na traseira. Quando eu entreguei, a mulher ficou tão contente que não acreditou. Falou que dá para fazer não só uma peruca, mas várias”, conta. 

Perpétua antes de cortar o cabelo. (Foto: Tânia Gauto)
Perpétua antes de cortar o cabelo. (Foto: Tânia Gauto)

Só de saber isso, dona Perpétua ficou feliz. “Doei com todo o prazer”, diz. Por convicção religiosa, ela prefere andar com um lenço até que os fios cheguem à altura certa do ombro. Pela interpretação que faz da Bíblia, a senhora explica que essa é a medida aceitável (tamanho de um véu) para que a mulher ande com a cabeça descoberta. A nobreza do gesto, para alguém que segue a mesma religião há 35 anos, está aí.

A atitude chamou a atenção da professora de Língua Portuguesa Tânia Gauto, vizinha da recicladora, que encontrou no dia da mudança.

Quem mora na região da Júlio [de Castilho] conhece a Perpétua. Voz alegre sempre, independente do tamanho do problemas que já enfrentou nessa vida. E eu sei que, dos últimos 10 anos, que é tempo que a conheço, foram muitos.

Hoje a encontrei faceira com os cabelos ao vento e ela me disse: 'Estou indo no salão cortar todo meu cabelo. Doei para fazer perucas para as pessoas que tem câncer'. Sem palavras, Perpétua. [Você] sempre me surpreende e me encanta”, escreveu, no Facebook.

Perpétua fez um sacrifício em nome de alguém, de alguma ou várias mulheres que sequer conhece, mas ela está feliz e faria tudo outra vez. O câncer entristece muita gente, inclusive ela, mas o que conforta essa senhora é a certeza de um mundo melhor.

“Em breve Cristo vai voltar e não vamos mais precisar doar cabelo porque não vai mais existir doença”, sentencia, bastante segura das próprias palavras.

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