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Comportamento

Aos 82 anos, avó ganha o presente de ver o mar pela primeira vez

Paula Maciulevicius | 06/01/2015 06:13
Dona Epifânia chorou quando os olhos dela encontraram o mar pela primeira vez. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dona Epifânia chorou quando os olhos dela encontraram o mar pela primeira vez. (Foto: Arquivo Pessoal)

Os 82 anos só serão completados em abril, mas o presente veio antecipado. Dona Epifânia chorou e fez chorar a filha, o genro e os três netos quando os olhos dela encontraram o mar pela primeira vez. Na virada do ano, a família planejou uma viagem diferente, que fosse toda voltada à matriarca dos Gomes Motta.

"Foi praticamente um presente de aniversário adiantado. Ela achou tudo muito bonito, pedia para parar que ela queria ver, olhar", descreve a filha, Vera Lúcia Gomes da Silva Motta. Servidora pública de 54 anos, ela começou os planos da viagem ainda em setembro. À época a mãe não queria muito ir e foi na última semana que ela teve de apertar e dizer que o pacote já estava comprado, dona Epifania não podia dar para trás.

Em dois carros, a filha, o genro Roberto Mendes Motta, os três netos e ela saíram de Campo Grande no dia 25 de dezembro. Chegaram na primeira parada, em Foz do Iguaçu, ainda na mesma data. De lá, o roteiro levaria a avó para conhecer Itapema, Brusque e o Beto Carreiro.

"Lógico que a gente imaginava que ela ia ficar feliz, mas a reação dela foi além do que se imaginou. Ela chorou, se emocionou muito e a gente também acabou chorando junto", coloca Vera.

À primeira vista, o mar parecia ser um velho conhecido da avó Epifania. (Foto: Arquivo Pessoal)
À primeira vista, o mar parecia ser um velho conhecido da avó Epifania. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nas palavras da dona dessa história, Epifania Gomes da Silva, ver o mar não foi nem a realização de um sonho. Parece ter sido mais, um sentimento carregado de tanta pureza tal qual as ondas do mar. "Eu sou senhorita. Tenho 81 anos, estou velha para caramba, não é?" brinca ao falar da idade.

As viagens para quais já tinha arrumado as malas "não entravam na conta", segundo ela. "Era de Dourados para Campo Grande, Campo Grande para Dourados, para Ponta Porã... Essa que fizemos agora, vi coisas que eu nunca pensava que fosse conhecer. Que Deus faz para mostrar que ele existe, sabe? Para a gente olhar e chorar", explica.

As cataratas de Foz do Iguaçu, um espetáculo à parte, foi o ponto de partida das primeiras emoções de dona Epifania. "É uma coisa impressionante. Aquele troço todo. Só uma pessoa muito burra para não se encantar e não se emocionar". O que na verdade ela quer dizer que só alguém sem sentimentos para não ser tocado pela água que cai.

"Eu não tinha noção do que era. Pensava que seria uma cachoeira, mas quando eu vi a água cair lá de cima, da montanha. Nossa, muda tudo. Aquela brisa serena que joga na gente, é muito bonito. É muito lindo". Não a vimos lá, mas as palavras saem com tanta felicidade que parece que os olhos brilham de novo. Como da primeira vez.

"Eu não cheguei a chorar de gritar, mas escorreram lágrimas, fiquei encantada, aquela natureza toda. Você sente dentro do seu coração", completa Epifania.

As cataratas foi o ponto de partida das emoções de dona Epifania. (Foto: Arquivo Pessoal)
As cataratas foi o ponto de partida das emoções de dona Epifania. (Foto: Arquivo Pessoal)

À primeira vista, o mar parecia ser um velho conhecido da avó Epifania. "Ele sabia que eu estava com medo dele. A onda vai e volta, quando vinha, me jogava", assim explica a senhorinha sobre o ir e vir das ondas. A filha brinca da inocência da mãe. "Ela achou que era para ela. Tem uma fotografia que tiramos e ela está pisando devagar com as perninhas na água, parecia com medo mesmo", interrompe Vera.

Dona Epifania retoma a narrativa dizendo que o engraçado era como as pernas 'falhavam' ao encontrar o mar. "Quando eu descia do do hotel e entrava, elas bambeavam, parecia que não funcionava. É fria, parecia que eu pisava numa água bem fria, mas não... Era a água do mar". Aí o tom chega a ser de nostalgia, de quem acabou de conhecer, mas já tem saudades do mar. 

Na memória também ficou o paladar: o gostinho salgado que só o mar tem. "Quando eu me joguei, eu senti um pouco da água, que tinha sal. É uma coisa impressionante, encantadora. Eu falei: 'meu Deus que coisa maravilhosa?! Eu falei que se eu morresse hoje, morria feliz'. Não sei bem porquê, acho que é bobeira minha ou emoção, porque eu nunca tinha visto".

A viagem foi até o parque de diversões Beto Carreiro. Onde dona Epifania virou, de vez, uma criança. Diante de tantos brinquedos e gente, a diversão tomou conta do já frágil corpinho. Devido a idade, ela não pode entrar em boa parte dos que queria, inclusive no elevador, mas pode admirar todas as atrações dando voltas de trenzinho.

"Tudo o que eu vi, as cidades por onde passei, é impressionante a cultura daquele povo. Como as cidades são limpas. Você está passando e vê coisas lindas, o povo sorri pra gente. Aqueles jardins, ruas floridas, não tem coisa mais rica nesse mundo", resume. 

Cada lugar que ela conheceu lhe tocou o coração de uma forma. Dona Epifania descreve ter encontrado a felicidade quando viu as cataratas, o mar. Mas a emoção brotou ainda mais forte em quem pode lhe proporcionar tudo isso. "Esquecemos de tudo. Aquilo de tomar sol sabe? De ir à praia? Lá nossa viagem se transformou em ver o prazer que ela tinha", explica a filha Vera.

A viagem foi até o Beto Carreiro, onde a avó virou, de vez, uma criança. (Foto: Arquivo Pessoal)
A viagem foi até o Beto Carreiro, onde a avó virou, de vez, uma criança. (Foto: Arquivo Pessoal)

Não teve o que a avó não gostasse de ver ou fazer. O cansaço passou longe e até o engarrafamento enfrentando virou festa. De quem só via pela televisão e agora estava inserida na cena. "Para mim foi tudo, tudo, tudo. Um presente desses? Eu vou querer de volta ano que vem. Não, ano que vem não, esse ano", brinca. 

Os netos: Rafael, Rodrigo e Renato, que em parte encabeçaram a ida da avó na viagem argumentaram que precisavam dar a ela as mesmas emoções vividas por eles. "Eles que falaram: vamos levar a vó, a gente não sabe o dia de amanhã. Pela lei da vida, o mais velho vai primeiro, mas nunca se sabe. Nós queríamos que ela sentisse o prazer que a gente sentiu e ver a reação dela, não tem palavras. Eu faria mil vezes", resume Vera. 

Ao neto, Rodrigo Motta, de 25 anos, dona Epifânia expressou o que sentiu assim: "Vendo o mar, estou passada e repassada de tanta emoção". A reação dela foi parar na web, para eternizar a viagem que terminou nesse último sábado (3), eles fizeram o tumblr: www.vovonapraia.tumblr.com, com as frases ouvidas por cada um seguida de fotos. 

"Se Deus me der vida, eu quero voltar lá no mar de novo, acho que dessa vez mais tranquila", diz a vovó. 

Na virada do ano, a família planejou uma viagem diferente, que fosse toda voltada à matriarca dos Gomes Motta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na virada do ano, a família planejou uma viagem diferente, que fosse toda voltada à matriarca dos Gomes Motta. (Foto: Arquivo Pessoal)
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