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Comportamento

Após 3 paradas cardíacas, bombeiro ficou paraplégico fazendo o que mais amava

Paula Maciulevicius | 09/06/2016 06:10
Há 20 anos, bombeiro passou a contar a vida pela cadeira de rodas. (Foto: Marcos Ermínio)
Há 20 anos, bombeiro passou a contar a vida pela cadeira de rodas. (Foto: Marcos Ermínio)

"No lugar errado, na hora errada". É dessa forma que o bombeiro Carlos Alberto do Nascimento, hoje com 53 anos, encara a queda de 10m mais o choque de 13 mil volts que ele tomou duas décadas atrás, durante um resgate em Corumbá. A vítima pela qual os militares foram acionados sobreviveu sem nenhuma consequência. Já ele, depois que um dos galhos da árvore bateu na alta tensão, resistiu a três paradas cardíacas, múltiplas fraturas e o diagnóstico final de ficar numa cadeira de rodas.

À época, Alberto era soldado, tinha 33 anos e completava uma década de serviço prestado à corporação. Foi na rua, entrando no laboratório para fazer exames de rotina que o Lado B encontrou com ele, que também vende meias pelo Centro. Antes de se tornar bombeiro, Alberto conta que estava na academia para ser policial militar e segundo ele, o currículo que trazia da Marinha o fez ser destacado para o outro lado. 

"Me instalei e fiquei quase 11 anos no resgate, às vezes pegava incêndio também quando ficava pesado para o pessoal, a gente pulava para a área", conta. Como havia sido mergulhador, Alberto relata que seu trabalho era limitado à região de Poconé a Porto Murtinho e Corumbá a Miranda.

Foram 11 anos no resgate e no dia da folga, ele se acidentou. (Foto: Marcos Ermínio)
Foram 11 anos no resgate e no dia da folga, ele se acidentou. (Foto: Marcos Ermínio)

Na noite anterior ao acidente, ele havia participado de um resgate e chegado tarde da noite. "Pedi para o comandante me liberar de manhã, era uma quinta-feira. Ele disse dorme de manhã e entra 14h", lembra.

Às 11h15 da manhã, a sirene da viatura tocou e de casa, Alberto já ouviu o chamado. Por ordem do comandante, os colegas passaram na casa dele para pegá-lo. Como na equipe eram dois recrutas recém-formados, era preciso a presença dele.

"Era uma ocorrência de vulto, um preso na alta voltagem. Levantei, vesti a farda e fui. No caminho eu perguntei se já tinham ligado para a Enersul". Ao chegar no local, a vítima tinha subido na árvore para cortar um galho que pegava na rede elétrica e cortava a luz da casa próxima.

"Não foi lapso do comando, má fé de ninguém. Foi um acidente. Eu consegui salvar o rapaz, mas a rede de alta tensão voltou"... Ele conta que tinha 30 segundos para retirar o rapaz dali enquanto a rede estava desligada. No entanto, o galho que ele tinha subido para quebrar desceu e bateu na alta tensão.

"Foi uma descarga de 13 mil volts. Correram, desligaram o transformador, mas tive parada cardíaca: três vezes, múltiplas fraturas. Fui descendo e batendo nos galhos", descreve. Foram 11 meses de recuperação, inúmeras cirurgias que terminaram no diagnóstico de paraplegia.

"Um ano depois descobri o que era: a casa era boca de fumo, a mulher queria ver a TV para ver se o marido tinha sido preso ao passar com a droga pela fronteira". A descoberta não lhe trouxe arrependimento e nem revolta.

"A gente não tem bola de cristal e mesmo sabendo, eu ia salvar. Você não vai saber o que vai acontecer dali para lá, não tem como ninguém saber", sustenta Alberto.

Hoje, cadeirante e aposentado, Alberto é conhecido pelas ruas do Centro. Quem passa, o cumprimenta. E a história de um passado de glória sempre lhe vem a mente. "Eu nasci pra isso, não tem jeito. Está no sangue. Todo ser humano tem um bombeiro dentro de si. A gente só lapida isso". 

A vida de bombeiro ele achava que acabaria na água, por ser mergulhador. Nunca imaginou que fosse na rede elétrica. 

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Essa foi uma sugestão de pauta do fotógrafo do Campo Grande News, Marcos Ermínio.

A vida de bombeiro ele achava que acabaria na água, por ser mergulhador. Nunca imaginou que fosse na rede elétrica. (Foto: Marcos Ermínio)
A vida de bombeiro ele achava que acabaria na água, por ser mergulhador. Nunca imaginou que fosse na rede elétrica. (Foto: Marcos Ermínio)
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