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Comportamento

Após 54 dias em coma, Gabriel volta pra casa e pais reaprendem a cuidar do filho

Thailla Torres | 16/09/2016 08:23
"Se um dia ele falar e não se lembrar de nada, nós começaremos com ele uma nova história de vida", declara o pai. (Foto: Fernando Antunes)
"Se um dia ele falar e não se lembrar de nada, nós começaremos com ele uma nova história de vida", declara o pai. (Foto: Fernando Antunes)

Quando os médicos disseram que o caso de Gabriel seria irreversível, não houve medicina que superasse a fé e a esperança dos pais José Carlos e Paula. Depois de quatro paradas cardíacas e 54 dias em coma, Gabriel finalmente acordou e recebeu alta. De volta para casa, os pais encaram um recomeço.

Há uma semana Gabriel saiu do hospital. Quando o pai, José Carlos Nunzio, de 54 anos, olhou para o filho, o sentimento foi de ter nas mãos uma nova criança, com os medos de quem enfrenta uma primeira viagem.

“Não vou mentir dizendo que está sendo fácil, mas estamos nos enquadrando. Estamos passando pelo mesmo processo que vivenciamos há 19 anos, quando Deus nos deu o Gabriel para cuidarmos e educarmos. Naquela época, tivemos medo, dúvidas e sempre nos sentíamos incompetentes para cuidar daquele ser pequeno, indefeso e chorão. Mas agora, Deus nos devolveu ele, também estamos com medo, dúvidas... Mas se  Deus confiou em nós novamente, quem poderá duvidar, não é mesmo?”, declarou o pai.

Não importa o tempo, Paula e José Carlos não perdem as esperanças. (Foto: Fernando Antunes)
Não importa o tempo, Paula e José Carlos não perdem as esperanças. (Foto: Fernando Antunes)

Gabriel Nunzio é acadêmico de Química da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e fazia uso de medicamento para emagrecer. Quando passou mal, teve a sorte de ser socorrido pela técnica em enfermagem Bruna Moraes de Souza que ficou 11 minutos fazendo massagem cardíaca, até a chegada da ambulância.

Da internação até o momento em que abriu os olhos, foram quase dois meses. Durante o coma, cada reação era um misto de susto e alegria. Sem os sedativos, ele movimentava as pernas, piscava quando alguém chegava próximo ao rosto e até apertou a mão dos pais. Apesar de recobrar a consciência, ele ainda não fala.

A rotina da família é como se Gabriel tivesse voltado à infância e com cuidados ainda maiores. A mãe, Paula Renata Nunzio, de 45 anos, conta ajuda de uma enfermeira durante o dia, enquanto José Carlos trabalha. À noite, mãe, pai e irmã se revezam a cada três horas para que não falte atenção.

Mesmo assim, o medo vem à tona quando os cuidados se tornaram diferentes. “A gente não sabe o que está se passando, se está respirando bem e se tem dor. No hospital, tínhamos a enfermeira, aqui não. O dia que ele saiu do hospital foi exatamente como quem leva um neném para casa. O primeiro dia foi uma loucura. Mas no segundo dia fomos se ajeitando, no terceiro também... Hoje está tudo normal”, descreve Paula.

Gabriel se alimenta por sonda e precisa de cuidados a cada movimento que faz na cama. Quando saiu do hospital, foi para a casa da avó em quarto adaptado para o período de recuperação. Toma anticonvulsivo, faz fisioterapia e terapia com fonoaudiologa para exercitar a musculatura da face para a comunicação.

Irmã veio embora de São Paulo para acompanhar de perto a recuperação. (Foto: Fernando Antunes)
Irmã veio embora de São Paulo para acompanhar de perto a recuperação. (Foto: Fernando Antunes)

“A gente pediu muito para que ele ficasse vivo, todas as vezes em que entrávamos naquele hospital. Quando acordou e veio para casa, a gente foi entendendo que de alguma forma a gente teria que passar por isso”, acredita José Carlos.

Mesmo estabilizado, os médicos não levantam grandes expectativas, mas ao lado de Gabriel, os pais não perdem as esperanças de que ele fique completamente recuperado. “Ele vem tomando medicamento forte, mas de repente evoluiu muito. A gente espera que com a redução dos medicamentos, aos poucos ele volte e fale”, torce a mãe.

A irmã Isabela Nunzio, que vivia em São Paulo, largou tudo e voltou para ficar ao lado do irmão. Em cada cuidado, se emociona ao lembrar o quanto torceu pela vida do caçula. “Trabalhava como analista de sistemas, mas teve um dia que os médicos desacreditaram né, mas eu até tatuei a palavra fé e não perdi a esperança de que ele voltaria. Eu ainda espero o dia que ele vai pedir água ou dizer que quer um lanche”, brinca emocionada.

As cenas do filho despertam sensações e as lágrimas ao sentir que ele sabe o amor que está recebendo. “Sei que ele me ouve bem e sabe que estamos aqui. Quando vou perto dele, eu tenho a impressão que vai ser como tudo aconteceu na infância, ele vai interagir, falar... Mas tudo que estamos fazendo, se precisar passar de novo pela vida dele, nós passamos. E se um dia ele falar e não se lembrar de nada, nós começaremos com ele uma nova história de vida”, declara o pai.

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