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Comportamento

Após perder o marido, a filha e o neto, Maria começou a encher bairro de flores

Aline Araújo | 06/08/2015 06:23
Maria tem um carrinho especial pelas Dálias. (Foto: Vanessa Tamires)
Maria tem um carrinho especial pelas Dálias. (Foto: Vanessa Tamires)

É bem chichê dizer, mas a vida é mesmo uma montanha russa. Muitas vezes as surpresas não são tão boas e a diferença está em como encarar cada um desses baixos. O que sempre despertou o sorriso de Maria Batista dos Santos, de 69 anos, por exemplo, foi cuidar de plantas. Em um ano, ela enfrentou as mortes do neto, da filha e do marido, mas reagiu.

Depois de um pedido no portão de casa, ela resolveu doar mudas para “espalhar flores por ai”, como ela mesmo define o que adora fazer. "Eu dou muda de graça para as pessoas, levo na igreja, para os lugares ficarem mais bonitos", conta.

As rainhas do seu jardim são as Dálias, de cinco espécies, com cores diferentes. As flores chamam atenção de quem passa na rua. Então, vez por outra, alguém bate e pede uma mudinha. É assim que funciona. Ela pede uma semana para a pessoa voltar, planta a muda em um saquinho e depois entrega.

No quintal, algumas mudinhas já estão prontas, guardadas em saquinhos de café ou caixinhas de leite. Não tem recipiente que se perca na casa de dona Maria, tudo é reaproveitado para colocar as mudas, que serão espalhadas por ai.

Tem desde mudinhas de flores e boldo, até árvores frutíferas, como limão e mamão. A demanda não é alta, já que ela não divulga o "trabalho", mas a medida que chegam os "pedidos" ela vai atendendo. A vizinhança ajuda a espalhar o dom de dona Maria, assim sempre tem alguém por ali.

O quintal é cheio de flores, e ela sempre está plantando mais. (Foto: Vanessa Tamires)
O quintal é cheio de flores, e ela sempre está plantando mais. (Foto: Vanessa Tamires)

Durante a manhã, ela se dedica a preparar as mudas, já que tem sempre alguém para buscar uma "encomenda" à tarde.  O resto do dia ela cuida da casa, limpa, lava roupa, louça e também é o tempo de ver os netos, sair para rua para resolver os seus assuntos e passear.

Hoje quem faz companhia para Maria em casa são seus dois gatos, Alice e Renato, um cachorrinho que apareceu há poucos dias e ainda não foi batizado, além das visitas dos filhos e vizinhos que sempre aparecem por ali.

Depois que casou, ainda muito jovem, ela não trabalhou mais, sempre se dedicou a cuidar da casa, dos cinco filhos e depois de paparicar os netos.

Ela e o marido chegaram em Campo Grande em 1996. Viviam em São Paulo. Há 7 anos, a dor começou a ser rotina na família. Primeiro, o neto de 10 anos morreu em decorrência de um câncer. Depois a mãe dele teve problemas de saúde e também não resistiu.

As mudinhas são feitas em saquinhos e potes para doação. (Foto: Vanessa Tamires)
As mudinhas são feitas em saquinhos e potes para doação. (Foto: Vanessa Tamires)

“Ela ficou muito triste, meses depois que meu neto tinha morrido, ela foi também”, conta. Um tempo depois foi a vez do marido. “Ele pedia para que a nossa filha viesse buscar ele, estava triste pelos cantos e um dia morreu, já faz seis anos”, lembra Maria.

Não foi nada fácil conviver com a dor da saudade, mas a vida não parou e as plantas garantiram o colorido no dia a a dia.

Maria mudou-se para uma casa um pouco menor e um novo Jardim. Além das Dálias, que ela se orgulha de cultivar por causa da dificuldade, o quintal também tem outras plantas que lembram mesmo casa de vó. Tem espada de São Jorge, Babosa, Boldo e Lirio do Campo. Tem até uma plantação de abacaxi.

O espaço não é muito grande e nem é dos jardins mais bonitos, mas dá para notar que cada cantinho teve o olhar de Maria.

"Eu gosto, faço cada mudinha com amor e para doar, gosto de saber que estou deixando o mundo mais florido. A minha filha de criação, uma vizinha que eu tenho, sempre dizia que um dia ia chamar a reportagem para eu contar a história das minhas flores. E hoje eu encontro vocês! Tô muito feliz", sorri ao se despedir da equipe do Lado B.

Ela quer distribuir a beleza das flores...
Ela quer distribuir a beleza das flores...
.... Para quem quiser cuidar.
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