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Comportamento

Árvore em formato de coração é só uma das invenções de um "rei" no Flamboyant

Naiane Mesquita | 04/01/2016 06:13
Militar aposentado, Clarindo aproveita para criar e consertar tudo (Foto: Marcos Ermínio)
Militar aposentado, Clarindo aproveita para criar e consertar tudo (Foto: Marcos Ermínio)

Pequena, em uma rua nem um pouco movimentada, no Jardim Flamboyant, uma árvore se tornou homenagem a todas as mulheres. Ao menos, é isso que o militar aposentado Clarindo da Silva, 61 anos, nos diz. Em formato de coração, ela decora o bairro há anos, sempre moldada pelas mãos dedicadas do inventor.

"Acho bonito, simboliza todas as mulheres do bairro, o amor", afirma, em pé no portão de casa, enquanto cuida do três cachorros. "Esses daqui são preguiçosos, mas meus seguranças", justifica, bem-humorado.

O pequeno museu que Clarindo guarda é repleto de saudades do Forte Coimbra, em Corumbá (Foto: Marcos Ermínio)
O pequeno museu que Clarindo guarda é repleto de saudades do Forte Coimbra, em Corumbá (Foto: Marcos Ermínio)

A varanda da casa de Clarindo é tomada por peças de fogões, ferros e canos. Também, há 20 anos ele se autointitula "O Rei dos Fogões Usados" e conserta as máquinas das décadas passadas.

"Eu entrei para a reserva do exército em 1995 e sempre gostei de fazer essas engenhocas, de consertar as coisas. Fui mecânico no exército, quando algo parava eu era chamado para arrumar", relembra.

No cantinho da varanda há até uma bicicleta feita de canos, com roda maçica. "Funciona", ele garante. O resto é fogão, por todos os lados.

"Eu tenho prática em arrumar, principalmente os mais antigos, faz mais de 18, 20 anos que faço isso. Os mais novos costumam dar problema na válvula de segurança, tenho um pote cheio com essa peça", brinca.

O conhecimento é tão extenso que Clarindo até criou um manual de instruções com informações sobre os fogões e suas formas de consertá-lo. Organizado com direito até a dedicatória ao filho mais novo, o mecânico garante que tudo foi feito com carinho. "É um manuel de como montar e desmontar", explica.

Bicicleta de cano é uma das invenções do militar (Foto: Marcos Ermínio)
Bicicleta de cano é uma das invenções do militar (Foto: Marcos Ermínio)

Enquanto na frente de casa, o que se sobrepõe é o trabalho atual, dentro, sobra espaço para mostrar o que Clarindo carrega no coração. Dos tempos que servia no Forte Coimbra, em Corumbá, município distante a 419 km de Campo Grande, ele diz que até hoje tem saudade.

Nos mapas do local, fotos antigas do forte, recordações de um tempo que foi importante para o tenente, que serviu mais de 30 anos no exército.

"Sonho constantemente que estou lá. Também trabalhei mais de 20 anos em Forte Coimbra, praticamente todo o tempo em que estive no exército. Lá eu era mecânico, tudo que era problema, eles me chamavam. Quando fui para a reserva em 1995, vim para Campo Grande e me dediquei ao conserto e a invenção", diz.

As medalhas de bronze, prata e ouro estão penduradas na sala de estar. "Cada um representa um tempo de serviço. De prata é 20 anos, bronze 10. Você vai ganhando ao longo do tempo". O relógio Cuco combina com o cenário de nostalgia, mas esse não funciona mais. "O ventilador é de 30 anos atrás e foi eu que consertei também", diz.

Clarindo mora com a esposa e o filho mais novo, do segundo casamento. Além, claro, dos já mencionados cães de guarda. "Borne, Dalia e Lila. O Borne é de raça, mas é o mais preguiçoso. A vira-lata vive fugindo, preciso correr atrás dela e perguntar se não tem casa não. A outra está um pouco ceguinha", ri.

Com todo esse bom humor, não é difícil de acreditar na homenagem do tenente as mulheres. "Sempre gostei de fazer coisas diferentes nas árvores. No bairro tem outras, mas nunca vi de coração. Essa outra árvore aqui da frente eu cortei como se fosse uma mesinha, porque o vizinho do lado cortou como um sofá. Virou uma sala de estar", explica, com a costumeira tranquilidade seu Clarindo.

A árvore de Clarindo em formato de coração (Foto: Marcos Ermínio)
A árvore de Clarindo em formato de coração (Foto: Marcos Ermínio)
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