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Comportamento

As mães e suas escadinhas de filhos...

Ângela Kempfer e Paula Maciulevicius | 13/05/2012 07:00
Socorro e os quatro filhos. (Foto:Minamar Junior)
Socorro e os quatro filhos. (Foto:Minamar Junior)

A chegada do quarto filho obrigou o casal a trocar o carro de passeio por um Fiat Dobló. Nem são tantos meninos assim, mas para os padrões atuais, é uma escadinha inimaginável para a maioria.

A mãe, com o nome sugestivo “Socorro”, fala como uma tranquilidade que dá até coragem de aumentar a família. “Quando é mais de um, eles crescem brincando juntos, não exigem tanta atenção da mãe”, justifica.

Professora universitária, a mulher de 38 anos sorri a cada comentário sobre a prole. Murilo é o mais velho. Aos 18 já está na faculdade. Quando nasceu, o pai estava longe, de plantão em Jateí. Coube à mãe receber o primeiro filho sozinha.

Um ano e 7 meses depois veio Rebeca, a única menina da trupe, “desejada, apesar de não planejada”, que neste ano termina o Ensino Médio aos 16 anos.

Eduardo tem a mesma idade, é o filho de coração, adotado por Socorro e o marido Maurício quando tinha 9 anos. Em casa, já estava o caçula, Samuel. Hoje com 11 anos, ele é o mais falador. “Eu fui sorte”, comenta.

Só depois de Rebeca é que a mãe resolveu fazer faculdade de Psicologia e conseguiu se formar.

Socorro não confunde nomes, não reclama de levar e buscar os filhos na escola, dos gastos com ensino, plano de saúde, roupas e lazer, mas começa a se incomodar com a vida quase adulta dos mais velhos. “Não me lembro de ter trabalho com eles quando eram pequenos. Tinha de tomar banho de porta aberta, mas era só isso. Agora não, esse negócio de ir para as festinhas de noite me deixa desesperada”.

Sobre lidar com meninos e meninas, Socorro brinca. “Levo a menina para ornamentar e os meninos para consertar”. O marido é médico, um dos infectologistas mais respeitados de Campo Grande, o que facilita ter uma família numerosa. “Ele trabalha muito, mas não temos luxo, os meninos vivem sem mesada. A gente tenta criar eles bem pé no chão”.

Os meninos também não reclamam de nada. “Minha mãe tem muuuuuuuuuuuuuuuuita paciência”, diz Rebeca. Samuel não acha ruim nem o fato de herdar as coisas dos mais velhos, pelo contrário. “Gosto do que tem mais valor porque dá até para eu vender”, comenta.

Dia desses, esse tipo de negócio entre irmãos rendeu até bronca. “Perguntei para o Eduardo: esse tênis não é do Murilo? Ele respondeu que tinha comprado do irmão. Tudo bem, ele fez um precinho camarada, mas disse que não queria essas coisas aqui dentro de casa não”, repreende Socorro.

Um abraço coletivo na casa de Socorro. (Foto: Minamar Junior)
Um abraço coletivo na casa de Socorro. (Foto: Minamar Junior)
Em um bairro bem mais humilde, os filhos de Vírginia são tantos que é difícil até reunir todo mundo para a foto. (Foto: João Garrigó)
Em um bairro bem mais humilde, os filhos de Vírginia são tantos que é difícil até reunir todo mundo para a foto. (Foto: João Garrigó)

Na era da televisão e internet, encontrar uma família com 10 filhos ainda te espanta? Pois na periferia da cidade a família de Socorro e Maurício é fichinha perto das de tantas mulheres que passaram a maior parte da vida grávidas.

No caso da paraguaia Virgínia Ruiz, que nem a idade consegue se lembrar sem a ajuda das crias, a filharada não se trata mais de escadinha, é a própria escadaria.

Para enumerar os filhos e suas respectivas idades, ela precisa também da ajuda de uma das meninas, Maria de Fátima, 10 anos.

Para se situar nesta família, vamos lá: os caçulas são Aparecida de 1 aninho e Júlio de 6. Antes vieram Marco, 17 anos; Catiane, 16; Márcio Daniel, 14; Juliano, 13; Maria de Fátima, 10; e Luciana, 9 anos - completos na última sexta-feira.

Além das crianças e adolescentes, ainda há dois mais velhos, um de 22 anos que já é casado e outro de 19 anos. "Deu 10?" É a pergunta que ela faz depois de enumerar a escadinha.

O nome do menino de 17 anos só sai com a ajuda da filha Catiane. "Como é mesmo o nome do seu irmão?". Idade, data de nascimento e até ano de escola dos filhos estão anotados. “Eu não lembro de memória, tenho uma pasta com os documentos deles, já que é muito”.

Sem exagero algum, ela se espanta quando nossa equipe bate à casa perguntando se ali mora uma família com 10 filhos. A mãe tenta despistar, pergunta porque, mas por fim, a filha Maria de Fátima entrega: "é aqui sim".

"Agora? Mas tem pouca gente”, diz o filho Márcio, quando escuta a intenção do Lado B de fazer a reportagem.

O “pouca gente” do menino se resumia a 5 pessoas e mais uma irmã que ele foi buscar. Luciana, a que fazia aniversário no dia (sexta-feira), brincava com outras crianças na rua, era a festa da menina.

O primeiro filho Virgínia teve com 19 anos. A idade atual não lembra mais, mas sabe que nasceu em 1968 e que ainda não fez aniversário este ano. Sobre ter uma renca de filhos ela responde: “até que é bom, ainda mais quando está todo mundo junto”.

A família mora na região do bairro Noroeste há quase um ano. Antes, se dividia em uma casa de tábua no bairro Morada Verde. "Só temos dois quartos. A gente dorme igual japonês. Coloca tudo os colchão no chão. As gurias num quarto, os guris no outro e o resto que sobra na sala".

Sobra filho, mas não falta carinho. (Foto: João Garrigó)
Sobra filho, mas não falta carinho. (Foto: João Garrigó)

Os três primeiros filhos não são do marido atual, mas foram criados por ele. “A gente dá um jeito. Ele dá os pulos dele”, se refere ao companheiro na criação de tantos filhos.

Trabalhar fora está definitivamente fora de cogitação, porque até para sair de casa o serviço é grande, em funções simples, como na hora de pegar o ônibus. “Eu vou contando cada uma. Daí subo atrás, eu sou a última a subir”, conta a mãe.

Em casa, na hora de cozinhar, Virgínia precisa fazer duas paneladas de arroz, é 1 quilo entre almoço e jantar, todos os dias. “Tem o que trabalha, o que estuda, daí uns chegam atrasados. Almoça uma turma primeiro, depois a outra.”

E se a troca de nomes acontece em famílias pequenas, imagine nesta casa. “Chamo todo mundo, daí que eu vou lembrar do nome que eu queria falar”.

Ir à escola é uma verdadeira saga. “Tenho que ir em cada sala, passo 3h, 4h na escola quando tem reunião. Aí que eu fui me cuidando (no sentido de não engravidar mais), todo mundo sai, eu sou a última a ir embora”.

Apesar de condições financeiras tão diferentes, Socorro e Vírgínia têm em comum o carinho, a paciência e a calma para levar a vida com a família grande.

“É diferente só no trabalho, mas às vezes tem mãe que tem um que vale por 10. Se preocupar é tudo igual. Não troco meus filhos por nada. Enquanto eu tiver viva, eles vão estar comigo. Meus filhos são meu ouro”, define a mãe Virgínia.

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