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ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Atendentes de delivery se divertem e viram personagens da noite de Campo Grande

Aline Araújo | 12/11/2014 06:34
Niceia já riu de muitas histórias enquanto trabalhava. (Marcos Ermínio)
Niceia já riu de muitas histórias enquanto trabalhava. (Marcos Ermínio)

O telefone não para de tocar, na hora em que a fome e a preguiça batem ao mesmo tempo, quase todo mundo apela para entrega em domicílio. O Lado B descobriu como pode ser interessante encontrar com quem está do outro lado da linha. No mar de gente mal humorada na prestação de serviços em Campo Grande, achamos pessoas dedicadas e até quem transforme o delivery em uma atração a parte.

A atendente Niceia Alves, de 40 anos, faz a linha mais formal, mas com muita simpatia consegue criar laços com os clientes. Há um ano no atendimento do Aquila Fast Food. já sabe bem quem está ao telefone.

“Tem cliente que de tanto pedir o mesmo lanche a gente já sabe o que ele quer sem falar nada. Alguns a gente até já sabe o número do telefone decorado”, conta.

Uma das clientes é estudante, mora em um pensionato e tem alguns problemas alérgicos, por isso sempre monta o próprio lanche. O pedido especial acabou marcando a moça. “Com o tempo ela só ligava e falava - o meu pedido você já sabe qual é. No dia em que veio à lanchonete, falou para o menino: pergunta para a menina do telefone que ela sabe o que eu quero. Eu tive que ir até a mesa conhecer ela”, lembra.

Ela comenta que tem cliente que é bravo, mas que os momentos de diversão superam qualquer chateação. “Já aconteceu também da pessoa ligar no meio do jogo e gritar Goooool. A gente cai na gargalhada aqui!”, comenta.

Rosani é brincalhona e faz um atendimento bem diferenciado. (Foto: Marcos Ermínio)
Rosani é brincalhona e faz um atendimento bem diferenciado. (Foto: Marcos Ermínio)

Figura - “Se você for beijar hoje , não pede com cebola não, para não espantar a namorada. Agora, se não for beijar, pode pedir”, aconselha a atendente Rosani Aparecida Pedro, de 57 anos. É um costume brincar, principalmente, com os indecisos do outro lado da linha. Ela vende o lanche como se estivense comendo. “O hambúrguer é maravilhoso e a maionese de comer rezando, você vai adorar lindona”, fala para outro cliente. É uma figura há dois anos trabalhando na lanchonete Burguer & Co.

A atendente largou tudo em São Paulo por conta da doença do pai em Campo Grande, mas não esmoreceu. Agora, conquista os clientes e coleciona histórias, faz até terapia via telefone. Uma vez, conta, mandou junto com o pedido que estava atrasado uma bandeirinha branca, pedindo paz. “Eu mesmo fiz uma bandeirinha branca, coloquei dentro da sacola e mandei como pedido de desculpas”, diz a mulher que tem o dom de transformar o trabalho teoricamente sacal em algo divertido.

Quando a pessoa mora sozinha, além do lanche o cliente ganha dicas gastronômicas. “Pede a polenta, parece muito, mas amanhã você coloca no forno com um queijinho e vai estar uma delicia”, ensina. Com o tempo, já foi conhecendo os clientes e é difícil se surpreender. Toda quarta-feira, por exemplo, Rosani já espera a ligação de um rapaz divorciado, que fica com as crianças. Ela já atende ao telefone dizendo: “Oi paizão, como as crianças estão hoje?”

Assim, cria proximidade, até com os turistas. Uma vez, falou tão bem do local onde trabalha, descrevendo em detalhes, que o cliente desistiu de pedir, pegou um táxi e foi até a lanchonete.

Alguns já criam uma imagem dela, mas a atendente garante que nunca foi cantada. “Acho que eu sou tão brincalhona que a pessoa fica desconcertada”, comenta rindo.

Quando acontece alguma coisa, dá um jeito de agradar o cliente, manda maioneses caseiras a mais, ou um desenho para as crianças pintarem. Vale até mesmo uma palavra amiga. “Tenho uma cliente que tem depressão e gosta de ligar aqui porque diz que eu sempre coloco ela para cima, mas é o meu jeito”, conta.

A rotina não é fácil. Durante o dia, trabalha vendendo castanhas e á noite se diverte no telefone. “Trabalho todo dia com uma coisa nova e me divirto. A gente tem que se sentir privilegiada em saber que algumas pessoas gostam do seu trabalho”.

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