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Comportamento

Cartas antigas têm códigos e escondem "segredos" de amigas adolescentes

Elverson Cardozo | 14/04/2015 08:23
Casada, mãe e com 32 anos, Andreia volta ao passado lendo as cartas que guardou. (Foto: Fernando Antunes)
Casada, mãe e com 32 anos, Andreia volta ao passado lendo as cartas que guardou. (Foto: Fernando Antunes)

“[...] Talvez eu vá em julho, nas férias, daí sim eu vou conversar muito com você, tá ok? […] Estou com muitas saudades e sinto muito a sua falta”. Essas duas frases foram escritas à mão, em letra cursiva, e estão registradas em uma folha de caderno.

Fazem parte de um passado não muito distante, que Andreia Romagnoli, 32, lembra com carinho e com um largo sorriso no rosto. Em um dia qualquer da semana passada, a técnica de radiologia, moradora de Campo Grande, resolveu revirar coisas antigas e acabou encontrando cartas de uma amiga de adolescência.

Lendo algumas, ela voltou ao tempo, à época de uma amizade que, apesar da distância, se manteve graças às correspondências trocadas pelo Correio. Há 15 anos, telefone era caro e privilégio de poucos. O jeito era escrever e compartilhar "segredos" por códigos.

“Eu estava assistindo Encontro com Fátima Bernardes e aí vi que eles estavam falando de amigos da época da escola, faculdade, uns negócios meio antigo, aí lembrei que tinha umas cartinhas de uma amiga minha, neta da minha vizinha. Isso foi em 97. Eu tinha 15 anos. Ela eu não estou lembrada se tinha a mesma idade ou era ano mais nova, mas é por aí”, conta.

A troca de correspondências com Dani, a amiga de infância, durou pouco tempo, cerca de um ano e meio, mas foi, para ela, uma experiência intensa e marcante do início da adolescência.

Papéis escondem "códigos" e memórias das duas adolescentes. (Foto: Fernando Antunes)
Papéis escondem "códigos" e memórias das duas adolescentes. (Foto: Fernando Antunes)

Tudo começou com uma mudança. “Estou um pouco esquecida, mas, que eu me lembro, a mãe dela foi embora para Barra do Turvo, São Paulo e, depois, para Curitiba. Ela ficou aqui, morando com a avó, mas daí chegou um época que não deu mais e ela também foi. Daí a gente combinou de escrever uma para a outra”, diz.

O conteúdo era exclusivo, mas a conversa girava sempre em torno dos mesmos assuntos. “Era 'oi, tudo bem, como você está?' Aí a gente perguntava da escola, dos amigos e dos namorados. Tem uma carta aqui que ela fala assim: 'Ai, que bom que o João está gostando de você'. Morri de rir porque não lembro de nenhum João. De repente era um código porque a gente tinha costume de escrever por código. Quando era de namorado a gente escrevia as letras ao contrário e, nas vogais, trocava por 'K' com riscos em cima. Até parece que ninguém iria descobrir”, diverte-se.

A última carta que Andreia recebeu de Dani foi em 1998. “Ela me deu feliz aniversário”, recorda. Depois disso, a responsabilidade chegou, o trabalho virou necessidade e cada um foi para um canto.

O último encontro pessoalmente aconteceu há cerca de três anos. “Ela veio para cá passar uns dias na casa da avó. A gente conversou e eu lembrei das cartinhas, mas nem peguei, relata. As duas não se falam desde então. Neste meio tempo, muita coisa mudou por aqui e, provavelmente, lá pelas bandas de Curitiba.

Do passado registrado em cartas, ficou a lembrança. (Foto: Fernando Antunes)
Do passado registrado em cartas, ficou a lembrança. (Foto: Fernando Antunes)

Andreia se casou e virou mãe. Dani, afirma, não tem filhos, mas está namorando. A vida, ao que tudo indica, apontou caminhos diferentes para cada uma. Existe, no entanto, uma semelhança curiosa nessa história.

“Ela fez o mesmo curso que eu e hoje é técnica de radiologia em Curitiba e eu em Campo Grande. Foi uma coincidência porque a gente não falava sobre o que queria ser”, afirma. “A gente era muito infantil, criança mesmo, e não tínhamos muitos planos. Só pensávamos em trabalhar, mas de futuro nada”, acrescenta.

No último bate-papo cara a cara, a reaproximação parecia certa, mas não aconteceu. "Fiquei de adicionar ela no Face. Acho que peguei o nome errado e não consegui. Hoje em dia, com tudo mais fácil, a gente não consegue, mas, antes, por cartinha, dava certo”, lamenta.

É verdade. Nem mesmo toda a tecnologia deu conta de juntar as amigas como na adolescência, mas o carinho, garante Andreia, não ficou só no papel e, por isso, vale uma nova tentativa. “Acabei de falar com a tia dela, que ficou de me passar o whats [da Dani]”.

Do passado registrado em cartas, ficou a lembrança, mas, também, uma grande lição para o futuro que ainda precisa ser escrito: “Uma coisa que valorizo bastante, e que vem na minha mente e coração, é a amizade. A amizade para mim é tudo. É tão gostoso quando alguém te considera, lembra de você e fala de você para outras pessoas”.

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