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Comportamento

Casal não esperou ganhar na Mega para adotar e recebeu 2 filhos de uma só vez

Paula Maciulevicius | 10/11/2015 08:12
Os meninos de 9 e 6 anos não podem aparecer, então fica na imaginação dos leitores a felicidade deles com os presentes. (Foto: Fernando Antunes)
Os meninos de 9 e 6 anos não podem aparecer, então fica na imaginação dos leitores a felicidade deles com os presentes. (Foto: Fernando Antunes)

"Se faz chá de fralda, de cozinha, de bebê, por que não fazer de adoção?", pergunta Adriano. Nessa ideia que ele e a esposa, Maria Eliane, realizaram na tarde do último domingo o chá para receber os dois filhos que chegaram de repente. Somados aos meus, aos seus e aos nossos, agora eles têm seis filhos, dos 6 até os 22 anos de idade. Os caçulas são meninos, irmãos que viviam há pelo menos três anos num abrigo da Capital. Agora além de ter um lar, eles também têm a quem chamar de pai e mãe. 

É lindo ouvir as palavrinhas de três letras saindo da boca deles. O mais velho tem 9, o outro, 6. E parecem crianças com brinquedo novo, no caso tudo é novidade para eles. Os pais, avós, a família, os amigos e a casa. A adoção "relâmpago", como assim eles classificam o processo, teve o aval da Justiça assim que a juíza ouviu o "shimm" exclamado sair do caçulinha na audiência. A pergunta dela foi se as crianças queriam ficar com aquela família. O mais novo respondeu e não houve dúvida, da Justiça os pais foram ao abrigo recolher os pertences dos meninos para levar à nova casa.

Maria Eliane e Adriano, casal que de padrinhos se tornaram pais dos meninos. (Foto: Fernando Antunes)
Maria Eliane e Adriano, casal que de padrinhos se tornaram pais dos meninos. (Foto: Fernando Antunes)

A notícia se espalhou entre amigos que foram até a festa de domingo, na Casa de Ensaio, em Campo Grande, e acabaram doando o que tinham. Agora, por exemplo, uma cama beliche que estava encostada divide o quarto entre os meninos e a filha de 11 anos do casal.

O primeiro contato deles com os irmãos foi através de um projeto da Vara da Infância, que selecionava voluntários para fazer com as crianças dos abrigos um álbum de memórias. Como eles não teriam quem contasse, no futuro, o que eles gostavam no presente, os voluntários se reuniam para colar fotos, recortes e contar a história que eles viviam no presente.

Quando finalizado o projeto, os irmãos foram apadrinhados por Adriano e Eliane. "Na época a gente não tinha condições de adotá-los..." começa a contar a servidora pública Maria Eliane Costa, de 43 anos. "Na verdade não temos até hoje", emenda o marido, também servidor público, Adriano Chastel, de 42 e os dois riem.

Psicóloga, Ana Lidiane acompanhou antes, durante e agora o depois do processo. (Foto: Fernando Antunes)
Psicóloga, Ana Lidiane acompanhou antes, durante e agora o depois do processo. (Foto: Fernando Antunes)

Os meninos frequentaram a casa deles por oito meses como afilhados. Em fevereiro deste ano, chegou a notícia de que eles seriam levados do País em uma adoção internacional. No entanto, o processo não foi concluído. Talvez sinal ou destino, o casal sentiu no coração que era para serem eles os pais.

A adoção é chamada de "risco", porque a mãe biológica ainda luta na Justiça para reaver a guarda. "Aí vem aquele negócio, as pessoas perguntando: 'você vai adotar um filho dos outros?' Nunca é seu até você sentir no seu coração, quando você sente e assume que é seu filho, fica mais fácil", argumenta Adriano. 

Na "fé" que eles adotaram os dois, há duas semanas. "Você ama uma criança, já a conhece e vê o potencial que ela tem. Sabe que se ela ficar ali, você está desperdiçando uma vida", justifica o pai. Eliane concorda dizendo que primeiro a gente pisa. "Se vai ter chão, é com o cara lá de cima, se não tiver, é a hora de aprender a voar", afirma o casal.

Assim eles adotaram. "Não dá para esperar ganhar na mega sena para adotar". A frase é dita pelo pai que brinca com a história de que só dispondo de recursos financeiros poderia abrigar um filho.

E nessa onda, uma amiga de Eliane deu a ideia do chá de adoção. No convite, o casal usa uma frase do filósofo Blaise Pascoal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece" e anuncia que por estas razões, adotaram dois filhos.

Convidados no início do chá de revelação, realizado na Casa de Ensaio. (Foto: Fernando Antunes)
Convidados no início do chá de revelação, realizado na Casa de Ensaio. (Foto: Fernando Antunes)

"Foi uma adoção relâmpago, por isso precisamos do carinho e da solidariedade de vocês", apresenta o casal. Eles pedem uma ajuda de R$ 15,00 para quem for ao chá, ou se preferirem, os convidados podem depositar na conta corrente do casal. O valor vai ajudar na compra de armários, cômodas e tudo que for necessário "para o renascimento da nossa família", completa Adriano.

Os preparativos do chá também contou com ajuda dos amigos. Uns mandaram o pula-pula para a criançada e outros salgados, algodão doce e por aí vai. As razões da festa, os meninos, não paravam um segundo nem para a foto. Pelo processo de adoção ainda não ter sido concluído, eles não podem ser identificados nem em fotos e nem pelos seus nomes. O mais velho, conta sorridente que está sendo tudo muito legal. "É meu chá de adoção. Se eu já tive festa? É a primeira", diz. E em seguida me pergunta se já pode ir brincar.

O irmãozinho parece tímido. Pouco fala, mas sorri o tempo todo. Pergunto se tem bastante coisa pra ele e a resposta é de que sim: "Até pizza e pipoca".

Psicóloga, Ana Lidiane Oliveira, de 38 anos, acompanhou todo processo. Atendia o menino mais velho pelo abrigo. "A gente fica feliz, porque quer ver a felicidade deles. Quando os pais souberam que aquela adoção não tinha dado certo, realmente enxergaram que eram eles mesmo. Hoje, isso aqui, é uma celebração, um momento muito bonito", descreve.

Entre as avós, materna e paterna, Izabel Rodrigues Costa, de 68 anos e Silvia Chastel Lima, de 66, a iniciativa dos filhos ganhou reforço. "Estamos junto nessa", brincam. "Quando eles me disseram que eu ia ganhar dois netos - começa Silvia - "Foi uma surpresa", completa Izabel. Agora eles chegam nas avós já perguntando: "Vó o que tem de gostoso para comer?"

As mãozinhas deles, que agora encontraram as dos pais para guiá-los. (Foto: Fernando Antunes)
As mãozinhas deles, que agora encontraram as dos pais para guiá-los. (Foto: Fernando Antunes)
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