ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Comportamento

Cinco anos sem Tânia e uma carta aberta de como superei a perda da minha mãe

Paula Maciulevicius | 06/10/2015 12:00
Tânia e Bárbara. Mãe e filha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tânia e Bárbara. Mãe e filha. (Foto: Arquivo Pessoal)

A partida de Tânia foi de repente. Bárbara tinha ido de Campo Grande para Viçosa, em Minas Gerais, para fazer uma visita e não para se despedir. Quando a família descobriu o câncer, Tânia já tinha ido. Filha mais velha, Bárbara de Oliveira, estudava aqui na época, tinha 20 anos e uma vida inteira para trocar confidências com a mãe. Se fez de forte, ergueu diante de si uma fortaleza para segurar as irmãs caçulas, praticamente bebês. Enfrentou sentimentos que só quem leva uma dor no coração sabe como é sobreviver à ela.

Muitas pessoas tiveram curiosidade de saber como ela partiu, mas por medo de me ferir, evitaram perguntar. Não sabíamos que minha mãe estava doente e ao se submeter a uma cirurgia simples para retirar um nódulo ela não sobreviveu, pois a situação era mais grave, assim nos surpreendemos ao ouvir falar de câncer, mas já não importavam mais o que era ou deixava de ser. Ela tinha partido.

Assumi a estranha responsabilidade de ser feliz ao saber daquela notícia ali na porta do CTI. Nunca foi tão difícil decidir ser feliz como naquele momento, mas era como decidir entre dois caminhos; um que me levaria cada vez mais para baixo e um que me faria subir bem alto. Cair era mais fácil, mas eu sentia que era tempo de mudança, não dava tempo de culpar o mundo, os médicos ou Deus pela minha dor.

O tempo era de cuidar de quem havia ficado, inclusive de mim.

Botei o pé para fora do hospital naquele dia 4 de Outubro ao meio dia e vi a chuva caindo, as pessoas rindo, almoçando, os carros no trânsito, a cidade no seu ritmo normal e veio um sentimento estranho; como o mundo continua girando se parece que tudo mudou por aqui? Era a vida me mostrando que tudo tinha que seguir.

Tânia com as caçulas: Beatriz e Anita. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tânia com as caçulas: Beatriz e Anita. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na época, minhas irmãs eram quase bebês: Anita tinha 1 aninho e Beatriz 2. Pensei equivocadamente: como eu poderia correr e pedir colo se eu tinha que dar esse colo às minhas irmãs? Não me via no direito de cair, de dar trabalho. Por amor a minha família e por falta de maturidade, me cobrei uma força que eu ainda não tinha, mas aprendi a ter.

Cometi o erro bobo de achar que se eu tivesse desabado e pedido ajuda, eu aumentaria a dor dos outros, me enganei achando que eu orgulharia minha mãe evitando minhas lágrimas e assim fui ficando contida e exigente, com o mundo e comigo mesma.

Assim como muita gente me tomou como exemplo nos últimos cinco anos pela força que exalei, alguns me julgaram como alguém que perdeu o brilho, resolveu ficar responsável demais, exigente demais... Houve caso de familiar que se revoltou com minha maneira de seguir em frente e considerou isso falta de amor, realmente é difícil agradar todo mundo. Por isso não julgue como alguém enfrenta uma dor, só quem leva uma dor no coração sabe como sobreviver a ela.

Hoje sei que ser forte é ser humana, ser forte não é não cair, é apenas saber se levantar. Por isso recomendo que se a vida te tirar algo que te doa muito, que você chore e peça colo, que não tenha medo de dizer que está difícil demais segurar a dor sozinho. Nesses momentos sofrer junto pode ser um alívio, chorar junto faz nosso coração dividir a dor e se segurar pelos outros não vai diminuir a dor de ninguém, só vai aumentar a sua.

Nunca é tarde para parar de cultivar um sentimento errado, nunca é tarde para se reconstruir e caminhar de forma mais leve. A vida é tão rápida e às vezes só lembramos disso quando estamos de frente com a morte.

Por isso não tenha medo de mudanças, o mundo é enorme e não crie fronteiras invisíveis a você mesmo, trabalhe duro, mas não se esqueça do seu bem estar, tenha o coração aberto e nunca perca a fé nas pessoas, mas se importe menos com pessoas passageiras. Quando alguém escolhe te ver com maus olhos, não importa o que você diga ou faça, vai ter gente que vai viver uma vida inteira sem saber o que são laços verdadeiros, corra dessas pessoas, elas costumam ver a vida apenas de um ponto de vista escuro e egoísta, por isso, valorize sempre os amigos de longa data, aqueles que te conhecem por seus atos. Entenda também que sua família é cheia de defeitos e nunca vai mudar, ou você se adapta e aprende a amá-los incondicionalmente ou vai só perder tempo e não vai curtir as pessoas que mais ama.

Hoje tudo entrou no lugar, meu pai'drasto Valterley se casou com um anjo chamado Lenir, minhas irmãs estão felizes e sabem que a vida deu a elas duas mamães, uma que está cuidando de nós espiritualmente e uma de coração, para a vida, que transborda amor.

Hoje me considero mais fraca do que fui aos 20 anos com a partida dela, hoje eu peço colo, eu choro mais, erro mais, me permito mais. Aprendi a colorir minha vida novamente, percebi que quanto mais velha eu ficar, mais verei minha mãe no espelho, então não tenho medo do tempo, das rugas, nem do futuro, pois ele não me pertence, sequer existe.

O “hoje” existe e hoje eu escolho ser feliz.

Vejo assim, vejo a felicidade como uma escolha, não como algo circunstancial, se a gente ficar esperando tudo estar perfeito para sermos felizes, talvez esse tempo nunca chegue e a vida vai ter passado... Por isso exercite sua gratidão, ela é o caminho para encontrar a felicidade em qualquer circunstancia e sempre busque enxergar o mundo a sua volta com o coração.

Para ver com o coração os olhos não precisam estar abertos, não é preciso tocar, apenas sentir, aprendendo a enxergar com o coração só fica o que é real, o que nunca vai passar.

Hoje Bárbara tem 25 anos, é empresária, dona de uma agência de Marketing e uma loja de roupas. Continua sendo filha, continua sendo irmã.

Nos siga no Google Notícias