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Comportamento

Com bandeja e roupa social, Marcos vende água no semáforo para mudar de vida

Ele aposta no cuidado para lucrar com mais facilidade na rua

Thailla Torres | 22/11/2016 06:25
Marcos diz que faz com alegria e foi Deus quem o colocou nesse caminho. (Foto: Marina Pacheco)
Marcos diz que faz com alegria e foi Deus quem o colocou nesse caminho. (Foto: Marina Pacheco)

Apesar do calor, Marcos Roberto da Cunha batalha vestido de garçom no semáforo que fica no cruzamento da Rua 14 de Julho com a Avenida Fernando Corrêa da Costa. Jovem, bem arrumado e com uma camisa social bem passada, ele chama atenção vendendo água mineral entre os carros. 

São poucos segundos para oferecer a bebida gelada e conseguir uns trocados. Toda vez que o sinal fica vermelho, lá está Marcos na tentativa de agradar o cliente. As vezes, parece que vence pela educação.

Com jeito de menino, tem apenas 24 anos, estava desempregado e foi para as ruas ser dono do próprio negócio, mesmo que informal. O motivo de chegar ali ele não revela. Apesar do sorriso para os clientes, os minutos de conversa comigo são interrompidos pela desconfiança. "Vocês não estão querendo me prejudicar não, né?", questiona.

Educado, está ganhando a vida vendendo água. (Foto: Marina Pacheco)
Educado, está ganhando a vida vendendo água. (Foto: Marina Pacheco)

Com duas ou três garrafas d'água em cima da bandeja, Marcos não perde o equilíbrio e a postura. Mostra que tem desenvoltura na profissão, mas por enquanto, desistiu de trabalhar fora. "Eu trabalho de garçom, mas aí você trabalha para a pessoas e no lugar de enriquecer elas, resolvi trabalhar pra mim. O salário mínimo é muito pouco, quase não dá para viver", lamenta. 

Indo e vindo entre os carros, ele não comenta o investimento, mas tenta vender cada água a R$ 2,00, mesmo querendo subir o preço. "Pelo trabalho e o cuidado, até podia ser mais não é? Mas eu vou deixar assim mesmo", diz.

Chamando atenção pelo cuidado com a aparência, ele justifica que é forma de ganhar o cliente. "É mais higiênico e mais apresentável. Fica mais bonito", acredita. 

Ele está nas ruas há 2 semanas. Mora em Campo Grande com a irmã e o novo trabalho veio para tirar ele das dificuldades. "Sou um jovem que está lutando pela vida e sempre busquei a Deus. Foi ele que me motivou a estar aqui. A gente gente não pode baixar a cabeça", conta.

Marcos fala pouco da própria vida, diz apenas ser um homem de fé. "Problemas todo mundo passa. Mas eu não acho legal falar não, são coisas de família e particular. A dignidade de estar aqui é o que manda", diz.

Enquanto volta ao trabalho, um amigo que preferiu não dar o nome, conta que o ajuda nos dias de folga e comenta um pouco sobre Marcos. "Ele é meio fechado mesmo, mas somos amigos da igreja. Ele andou passando por umas dificuldades e por isso hoje está aqui. Recentemente também perdeu a mãe", comenta o amigo.

O jeito simpático acaba conquistando motoristas, que até ofereceram emprego, mas que ele preferiu não aceitar. "Não falta proposta pra mim, todos os dias tem uma melhor do que outra. Recebi uma proposta de trabalhar em uma assessoria grande. mas eu disse não", comenta.

Tentando escapar nas entrelinhas, Marcos sorri, fala de Deus e sai vendendo, deixando claro que é uma despedida. "Mas é isso, não tem nada demais da minha vida não. Ganhando pouco ou muito, meu patrão é Deus", diz.

De carro em carro, ele agradece ao pegar o dinheiro e presenteia com sorriso até quem diz um não. Dá um tchau e segue firme na busca pela dignidade, conquistada com o próprio trabalho. Seja qual for a história de Marcos, que nada lhe tire o sorriso e, quem sabe um dia, a gente consiga dele uma boa conversa... 

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