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Comportamento

Com caminhada e oferenda no Lago do Amor, candomblé e umbanda pedem tolerância

Naiane Mesquita | 15/11/2015 22:20
A chuva até caiu, como sinal da benção de Osun, e mesmo assim os religiosos continuaram com o percurso (Foto: Gerson Walber)
A chuva até caiu, como sinal da benção de Osun, e mesmo assim os religiosos continuaram com o percurso (Foto: Gerson Walber)

O cântico de Osun é repetido sem cessar durante o trajeto do terreiro até o Lago do Amor, em Campo Grande. A homenagem vem por meio da música Karodô, que significa um presente à divindade feminina, dona das águas, da fertilidade e do amor.

Para que tudo fosse feito de acordo com os protocolos, várias casas de candomblé e umbanda resolveram depositar oferendas neste domingo no lago de água doce e pedir mais paz e tolerância religiosa aos povos. Foram 2,5 km percorridos em uma cerimônia que começou lá atrás, com o jogo dos búzios.

Osun ou Oxum, na mitologia iorubá, é um orixá feminino filha de Iemanjá e Oxalá. O seu nome deriva do Rio Osun.

Oferendas são carregadas durante o trajeto (Foto: Gerson Walber)
Oferendas são carregadas durante o trajeto (Foto: Gerson Walber)

Para a festa de hoje, o ponto de encontro foi no terreiro Egbe Omo Oni Ode. No local, mulheres dançavam com roupas brancas e detalhes em amarelo, a cor de Osun. Lá, elas se deixavam levar pelo balanço dos batuques e pelo dançar dos pés.

A maioria de olhos fechados, mas sem esbarrar uma nas outras, conseguiam cumprir uma coreografia calma. Volta e meia, um perfume era solto no ar. Segundo os frequentadores, Osun é vaidosa.

Nessa parte do ritual é proibido fotografar. O pai de santo do terreiro, Edson Fernandes explica que a discrição ajuda na quebra do preconceito. “Não queremos nossas fotos nas redes sociais”, ressalta.

Pai de Santo, Edson Fernandes inicia a reza no terreiro
Pai de Santo, Edson Fernandes inicia a reza no terreiro
Religiosos durante cerimônia antes de sair da casa de oração
Religiosos durante cerimônia antes de sair da casa de oração

Fora isso, o resto é permitido. Podemos acompanhar toda a cerimônia, que também tem a presença de crianças. Uma bebê de 6 meses foi abençoada por uma das mulheres que recebeu o espírito de Osun. A mãe, Maisa Gabriela de Arruda, 22 anos, se emocionou quando a entidade pegou a filha no colo. "Ela é a dona do ventre, abençoa as nossas crianças, fiquei feliz com ela ter abençoado a minha neném", explica.

Depois das orações, a caminhada é iniciada. Para a mãe de santo, Zilá Dutra, do terreiro Ilê Dara, a cerimônia significa união. “É um ato de fé, de amor, dedicação, é um presente que sempre fizemos interno e depois é levado as águas em um presente do orixá Osun, pedindo que traga amor a nossa vida, bem-estar, Osun é o orixá do amor, dona do ventre”, afirma Zilá.

As cores amarelas representam a divindade feminina Osun
As cores amarelas representam a divindade feminina Osun

O idealizador da manifestação religiosa foi de Edson Fernandes, que recebeu o apoio do professor Antônio Lino Rodrigues, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Na instituição, ele ministra uma disciplina optativa sobre Educação e Religião, que tem o foco principalmente no Candomblé e na Umbanda.

“Por mais que o brasileiro rejeite, essas religiões estão enraizadas na nossa cultura. A umbanda é brasileira, nasceu da mistura do catolicismo com outras crenças africanas, como o candomblé, enquanto o candomblé é africano”, ressalta.

Para Edson, a cerimônia é a realização de um sonho. “Sempre foi um desejo nosso fazer a manifestação em Campo Grande, mas tinha que ser um local de água doce próximo. Quando pedimos a UFMS, o professor Lino nos recebeu muito bem. As oferendas são biodegradáveis e não agridem o meio ambiente. É um presente sacralizado através da reza”, frisa.

A entrega nas águas do Lago do Amor, que apesar de estarem um pouco sujas, foi bonita. O grupo usou um barco para deixar as oferendas na água. Em determinado momento, quem carregava o presente foi escondido por meio de panos, evitar os cliques com o devoto incorporado.

Para finalizar, os batuques continuaram a ecoar na beira do lago por alguns minutos. Uma alegria e emoção para quem tem fé de que essas ações podem diluir ao menos um pouco o preconceito.

Confira a galeria de fotos com a entrega das oferendas:

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