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Comportamento

Com mala vermelha e livros, professora usa tempo para formar leitores no Panamá

Elverson Cardozo | 09/02/2015 06:23
Tânia prepara o local embaixo de um enorme pé de figueira. (Foto: Marcelo Calazans)
Tânia prepara o local embaixo de um enorme pé de figueira. (Foto: Marcelo Calazans)

Nas mãos, uma mala vermelha lotada de livros. No coração, uma vontade imensa de fazer o povo se interessar pela leitura. Com o material e a boa intenção, a professora de Língua Portuguesa Tânia Gauto, de 40 anos, sai de casa, todo domingo à tarde, para ler e fazer leitores em uma praça do bairro Panamá, que abrange o Santo Amaro, em Campo Grande.

Ela chega, vai para debaixo de uma figueira enorme, abre a mala, espalha tecidos pelo chão, organiza os livros, faz um varal com alguns deles e, tranquila, senta e começa a ler. A cena chama atenção.

Quem vê de longe geralmente se aproxima para saber do que se trata. Quem já conhece a proposta e gosta, se junta a ela e mergulha nas crônicas e contos. Mas isso acontece agora. O início, há três anos, foi bem difícil.

“Teve gente que só foi falar comigo depois de uns dois, três meses. Mas o trabalho é esse, o de construir um leitor, de envolver. É demorado. Não é de uma hora para outra”, explica.

Hoje, a professora tem um público cativo e de todas as idades. “Tem crianças que vão para lá e não querem mais ir embora. Já cheguei a sair às 20h da noite porque tinha uma menina que não queria ir de jeito nenhum. […], comenta.

Professora e os leitores de domingo. (Foto: Marcelo Calazans)
Professora e os leitores de domingo. (Foto: Marcelo Calazans)

Por um tempo ela teve, também, a presença garantida de “Saudade”. “É um rapaz que morava próximo. Todos os domingos estava comigo. Trocamos livros algumas vezes”, lembra. Saudade mudou de bairro, mas há outros garotos que, assim, como ele, aparecem na praça aos domingos.

Tânia diz que, desde que começou a frequentar o espaço, notou uma mudança de comportamento. “A praça era ocupada por pessoas que iam lá para fumar. Depois que comecei com o projeto, eles migraram para outros lugares”, afirma.

Inspiração - O projeto que tem promovido essa transformação social e trazido novos ares ao bairro e aos moradores chama-se “Leitores ao Vento”. A inspiração surgiu durante uma viagem para Maringá (PR).

“Foi em uma semana cultural no Sesc. Eu saí para dar uma volta e, em um gramado em frente, vi um varal de livros, com tecidos e pufs no chão. Fui perguntar o que eles faziam e disseram que era um projeto chamado Leitores ao Vento. Quando cheguei em casa, peguei a mala que tinha usado para viajar e comecei a separar os livros da minha biblioteca, que não é grande”, conta.

A ideia demorou para pegar por aqui, mas deu certo. A praça e os novos leitores tem sido uma surpresa para a professora, que já descreveu a experiência em uma crônica:

A leitora de 6 anos quis saber como se faz poesia. (Foto: Arquivo Pessoal)
A leitora de 6 anos quis saber como se faz poesia. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Nas tardes que passo com os leitores ao vento, as vezes acabo pegando um pedaço de papel e rabisco algumas coisas que me instigam. Um sorriso que encontra um olhar do outro lado da praça.

A janela entreaberta na casa vizinha e que deixa escapar um Blues aconchegante para os ouvidos. Os galhos de uma árvore vistos de baixo como que mostrando os fundilhos para quem se refestela em sua sombra. O sorriso de um leitor, pequenos detalhes da tarde que me fazem feliz de repente”.

No texto (que pode ser lido aqui), ela também fala de uma pequena leitora de 6 anos. Curiosa, a menina se aproximou para perguntar como se fazia poesia.

Com o projeto, Tânia tem conquistado novos horizontes. Ela já conseguiu espaço em um sarau e, agora, está trabalhando para montar uma biblioteca dentro de uma escola de samba, a Catedráticos.

Onde participar? - Por enquanto, quem quiser conhecer o “Leitores ao Vento” é só ir à Praça do Panamá, que fica nas proximidades da rua Jerusalém, aos domingos de tempo aberto, sempre a partir das 15h30.

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