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Comportamento

Com tanta pobreza aqui, sempre perguntam porque vou ajudar tão longe, na Africa

Ângela Kempfer | 26/02/2016 06:45
Estevon durante trabalho no a Fraternidade Sem Fronteiras.
Estevon durante trabalho no a Fraternidade Sem Fronteiras.

Estevom Molica não para. Além da formação em Odontologia, é presidente do Instituto Amigos do Coração e agora tem como uma das grandes alegrias o fato de ter ido longe, ajudar em Moçambique. No relato aqui no Voz da Experiência, a gente percebe que ele recebeu muito mais do que entregou.

Sou presidente do Instituto Amigos do Coração faz 3 anos. Depois de solidificado nosso trabalho aqui em nosso Estado, surgiu a oportunidade de uma parceria fora do Brasil, com uma ONG fantástica, a Fraternidade Sem Fronteiras,  que atua em Moçambique, continente africano.

A FSF nos convidou para uma parceria. Como ela acolhe milhares de crianças órfãs, através de apadrinhamento, precisava de uma assistência na parte odontológica, assim surgiu minha primeira viagem a esta enigmática civilização para sabermos como poderíamos ajudar.

Construímos alguns escovódromos (locais onde se escovam os dentes) e oferecemos kits de higiene oral e ensino a escovação para todas as crianças e trocamos estes kits 3 vezes ao ano. Este ano, voltei da minha terceira incursão a este país tão distante geograficamente, mas tão perto por nossas raízes.

Primeiro, porque fomos colonizados pelo mesmo país, Portugal e segundo por termos recebido, no passado, tantos negros africanos na época da escravidão, responsável pela grande miscigenação racial que é o nosso Brasil.

Até hoje sou questionado por auxiliar um país tão distante, tendo tantas pessoas carentes por aqui, mesmo nossa instituição acolhendo todo tipo de vulneráveis em nosso Estado. Esta pergunta só é bem explicada quando atravessamos este oceano e chegamos a banda de lá.

Aqui temos pobreza extrema, come-se arroz com feijão, lá temos miséria extrema, come-se folhas. Aqui temos água sem saneamento, lá não tem água. Aqui temos escolas mal cuidadas e destruídas, lá estudam debaixo de árvores e aprendem as primeiras letras escrevendo no chão.

Mesmo com tudo isso, ou melhor, com nada disso, lá não há revolta, não há desespero, não há comiseração. Alguns podem me achar louco, mas hoje acredito que eles sejam mais felizes que nós. Vivem um dia após o outro, na esperança de conseguirem o pão de amanhã e se conseguem, repartem uns com os outros.

Levei desta vez umas frutas secas na viagem, como era difícil comer escondido, sem remorso, sempre chamava algumas crianças que estavam por perto e oferecia. Aquela que havia ganhado o damasco seco primeiro, colocava em uma das mãos e fechava apresada, logo em seguida aparecia mais um trazido por ela, que mantinha a sua fruta guardada na mão fechada e assim foi até acabar o último dos damascos. Quando ela viu que a criança que havia trazido por último, ficaria sem comer, abriu a mão e repartiu a sua fruta com o amigo, sem pestanejar, sem titubear.

Não sei se fico triste com a situação deles ou com a nossa. Postamos fotos das crianças moçambicanas com a intenção de conseguirmos mais alguns padrinhos para aumentarmos o número de crianças no projeto. Vira e mexe, alguns de nós olha a foto e escreve: "Que linda Estevom, trás ela pra mim! " . Aí escrevo assim: "Olha só, não consigo levá-la, mas tenho uma ideia melhor, entre no site da FSF e apadrinhe uma destas crianças, por 50 reais mês, apenas. Você estará dando o que ela mais precisa hoje, alimentação e proteção."

Muitas destas pessoas, a maioria, nem me respondem. Querem que eu traga uma criança da África, mas apadrinhar não quer. Estranho isso, ? Cheguei à conclusão que não sabemos reconhecer e retribuir o que temos.

A experiência vivida nestas aldeias com as crianças órfãs, com as mulher HIV e com as idosas sem casa e sem família é que, pra ser feliz, não é preciso acreditar em um futuro melhor, é trazer o futuro para o presente e vivê-lo como se fosse o último dia de nossas vidas. Sou a cada dia mais grato a Deus por me dar esta experiência de vida !

Adriano, o companheiro de Estevom em dias de tristeza e felicidades na África.
Adriano, o companheiro de Estevom em dias de tristeza e felicidades na África.
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