ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 23º

Comportamento

Contra depressão, seu Nery planta na praça e espera sentado a hora da colheita

Paula Maciulevicius | 23/09/2016 06:15
Seu Nery e dona Gilda, os vigilantes da pracinha que ele mesmo ergueu. (Foto: Alcides Neto)
Seu Nery e dona Gilda, os vigilantes da pracinha que ele mesmo ergueu. (Foto: Alcides Neto)

O verde da praça do Jardim Nova Era tem dono. Além de plantar, seu Nery acompanha sentado a colheita. Há 10 anos, o simpático senhorzinho faz o mesmo trajeto todo dia: de sair de casa até a praça, plantar e regar. Na volta, se senta à cadeira e espera. O principal adubo é a paciência, de saber que cada árvore tem seu tempo

"Tudo, tudo isso. Eu faço suco direto, não compro não. É da fruta daqui, até goiabada eu já fiz", se gaba o "dono" da praça. Nery Leite Bueno tem 81 anos e quando se viu em depressão no quarto, os olhos enxergaram - entre as lágrimas - que havia muito matagal diante de seu imóvel. A altura que ele narra ter chegado a 2m era esconderijo para assaltantes que até chegaram a entrar em casa. A solução então foi encher de frutas o espaço.

"Aqui, a hora que der caju, vai ser fartura para o povo tudo", completa a esposa, dona Gilda Beltrão Bueno, de 78 anos. Ela jura que não tem ciúmes da praça e quando pode, na varanda de casa, senta ao lado do marido para cuidar das árvores.

Acerolinha que ficou. Casal colheu pouco antes da gente chegar
Acerolinha que ficou. Casal colheu pouco antes da gente chegar
Para presentear os vizinhos e amigos. Foram poucas as amoras que ficaram. (Foto: Alcides Neto)
Para presentear os vizinhos e amigos. Foram poucas as amoras que ficaram. (Foto: Alcides Neto)
Plantar, regar, adubar e colher foi saída contra a depressão de seu Nery. (Foto: Alcides Neto)
Plantar, regar, adubar e colher foi saída contra a depressão de seu Nery. (Foto: Alcides Neto)

Uma pena que no mesmo dia em que o Lado B foi visitá-los, o casal tinha acabado de colher amoras e acerolas para presentear os vizinhos. "Só esse ano eu já plantei 17 pés de caju", conta todo orgulhoso.

Depois de 36 anos trabalhados na Camargo Corrêa, quando a aposentadoria chegou, seu Nery não quis parar. Construiu 17 casas do bairro todo para a venda. Assim como a sombra das árvores, ele também viu crescer muitas fachadas. "Aqui não tinha asfalto, era até a Joaquim Murtinho de terra e aqui uma chácara grande", recorda.

A praça ganhou nome que dona Gilda contesta. A prefeitura, à época, chamou de Lady Di. "Eu acho que deveria era chamar Nery", sugere sorridente.

"Eu fico sentado aqui mesmo, não tenho o que fazer", diz rindo. Quando a depressão bateu à porta, ele se trancava no quarto com ar condicionado e ventilador ligados.

Feliz da vida, casal presenteia quem quiser com acerolas. (Foto: Alcides Neto)
Feliz da vida, casal presenteia quem quiser com acerolas. (Foto: Alcides Neto)

"Quantos anos você acha que eu tenho? 81. Não bebo, não fumo e não tenho vício nenhum. Mas você começa a pensar que sem querer, não tem explicação... Poxa, vivi a vida toda e não fiz nada nesse mundo?"

Dona Gilda trata de corrigir. "Como não? E os filhos?" E ele de cara, embarca. "Fiz mesmo, tudo formado e concursado, quatro filhos com casa própria", recorda. Para Gilda, a pracinha é a maior realização do esposo. E para a vizinhança, também.

"Quem está caminhando por aqui sempre apanha. Eu fico cuidando, quando vem menino saindo de escola e pega goiaba verde para jogar um no outro, aí não dá. Eu vou lá conversar", defende Nery.

Quem quiser apanhar frutas e cumprimentar seu Nery, a pracinha fica próximo à rua Silvio Petengil, no Jardim Nova Era.

Curta o Lado B no Facebook. 

Nos siga no Google Notícias