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Comportamento

Contrariado com serviço, Tiago agora restaura os próprios carros e surpreende

Thailla Torres | 20/05/2016 08:05
Tiago restaurou três carros e ainda sonha em ter uma camionete de 1950. (Fotos: Fernando Antunes)
Tiago restaurou três carros e ainda sonha em ter uma camionete de 1950. (Fotos: Fernando Antunes)

Aos 37 anos, os sonhos são os mesmos de quando era menino. Filho de pais historiadores, o gosto pelo que passou e a vontade de voltar no tempo fala mais alto ao coração de Tiago Salsa Correa. Hoje, na vida adulta, ele é apaixonado por carros antigos.

Para viver o sonho de infância, há 10 anos ele virou um restaurador, aprendeu a recuperar os próprios veículos e provou que nem tudo que é velho precisa ser descartado. O resultados está na garagem. Quando a gente entra, a impressão é que as relíquias acabaram de sair da fábrica.

Tiago é formado em Direito, atualmente trabalha como consultor de agronegócios e cursa Psicologia. Para ele, o amor pelos carros e o prazer em restaurar se tornou uma terapia. O Jippe, a Kombi e o Fusca são bens de preço incalculável, pelo valor sentimental.

A primeira lembrança dos carros é distante, de quando o pai comprou um Jippe ano 1951, assim que o filho nasceu. Um dia, aos 9 anos, ele subiu no Jippe do pai e fez tudo que havia aprendido olhando, ligou e saiu dirigindo. Passou então a cuidar dos carros da casa do seu jeito, lavava, consertava, desmontava peças...

Fusca de 1968 é uma das paixões de Tiago. (Fotos: Fernando Antunes)
Fusca de 1968 é uma das paixões de Tiago. (Fotos: Fernando Antunes)
Detalhes no interior do Fusca.
Detalhes no interior do Fusca.

Aos 18 anos, comprou o primeiro veículo, no entanto, conseguiu um Corsa, contra a sua vontade. “Meu sonho era um Kombi, mas ninguém deixou eu comprar, só aos 20 anos eu decidi fazer o que eu queria e resolvi comprar”, conta. Jogando tudo para o alto, o sonho de menino justificou o impulso de adotar um clássico para restaurar.

“Eu comecei a andar por Campo Grande e onde eu encontrava uma peça velha eu pegava. Um dia, conversando com o meu pai, decidi que iria fazer uma Kombi. Mas eu não entendia de funilaria e nem sabia pintar”, explica.

Foi aí que a história de restaurador surgiu de uma maneira que ele jamais imaginava. “Eu conheci uma pessoa sem querer. Paguei a ele para arrumar a Kombi, mas ele bebeu todo o meu dinheiro. Mas era uma boa pessoa, ele abriu o jogo dizendo que havia bebido e não tinha como me pagar e nem finalizar o serviço. Na época, eu estava de férias e só encontrei uma saída, pedi a ele para me ensinar tudo que sabia”, relata.

Desde então, ao lado do homem que pagou com aprendizado, Tiago passava horas dentro da oficina. Entrava às 6 da manhã e terminava às 10 horas da noite. O processo não foi fácil, ele conta que havia momentos em que fazia o serviço três vezes até conseguir. Mas aprendeu a lixar, a pintar, desmontar e fazer os acessórios.

A Kombi é inspirada no carro que buscava turistas no aeroporto da Califórnia. (Foto: Fernando Antunes)
A Kombi é inspirada no carro que buscava turistas no aeroporto da Califórnia. (Foto: Fernando Antunes)
Toda cheia detalhes, as margaridas representam a conquista da época.
Toda cheia detalhes, as margaridas representam a conquista da época.

Os carros são impecáveis, mas ele deixa claro que não é para exposição. “São veículos do meu dia a dia, eu trabalho, viajo e uso para ir à faculdade. São carros que se você arrumar, eles podem ser usados por mais 50 anos”, diz.

Nem sempre a prestação de serviço lhe agrada, por isso o desejo de aprender a restaurar é aprimorado a cada dia. “Eu desmonto todo o carro e não deixo um parafuso no lugar. Abro ele, como quem abre uma toalha. Pra mim, restaurar é voltar no tempo e esse é meu jeito de ser historiador também”, ressalta.

Na garagem, as relíquias encantam. Cada veículo tem nove camadas de tinta, os motores são 1.6, parte dos acessórios foi trazida dos Estados Unidos ou Alemanha. Em 10 anos, o investimento não foi baixo, mas o significado que cada carro tem na história é a recompensa.

O carro do pai, que ele faz questão de manter, é o tal Jipe de 1951. Tiago acredita que o carro tenha sido fabricado ainda na década de 1940, quando fez parte da parte da segunda guerra mundial, mas só foi registrado no Brasil anos depois. “Em 2004 eu mandei pintar ele, mas fiquei revoltado com o trabalho e daí decidi de uma vez começar a restaurar. Neste carro ainda tinha risco de tiros, mas sabemos pouco da história dele”, conta.

Os bancos são todos de couro e a Kombi leva até 9 pessoas.  (Fotos: Fernando Antunes)
Os bancos são todos de couro e a Kombi leva até 9 pessoas. (Fotos: Fernando Antunes)
O Jippe foi registrado no Brasil em 1951 e fez parte da II Guerra Mundial.
O Jippe foi registrado no Brasil em 1951 e fez parte da II Guerra Mundial.

Outra paixão é o Fusca de 1968, que comprou sem ver. O carro chegou detonado, mas em três meses recebeu a transformação. Com peças originais e vindas da Alemanha, o veículo chama atenção pelos detalhes.

“As pessoas que não gostam de Fusca, é porque não conhecem. Quem dirige e compra, se apaixona”, garante. Para dar uma cara nova à lata velha, Tiago passa cerca de 4 horas traduzindo sites em busca de peças originais para o carro.

Ele até exibe um chaveiro que conquistou em um leilão, a peça também é uma relíquia. “Quando você comprava um fusca em Berlim no anos de 1950, o comprador do carro ganhava esse chaveiro de brinde”, mostra.

Inspirada na Kombi que buscava turistas no aeroporto da Califórnia, a charmosa Kombi de Tiago encanta por onde ele passa. Quando comprou, o veículo estava batido e foram 2 anos para ficar novo. As cores azul, branca e vermelha são outro destaque. “Essa Kombi é de 1975, para arrumar eu arranquei o teto, lateral e o chão. Ela estava em um ferro velho em Coxim, foi preciso mexer em tudo”, conta.

Na prancha e no violão estão as cores da Kombi.
Na prancha e no violão estão as cores da Kombi.

A Kombi é toda charmosa, os bancos são de couro, na parte da frente um pote de porcelana carrega três margaridas. “Antigamente, os homens levavam margaridas para conquistar as mulheres”, explica sobre o significado das flores.

Como parte dos acessórios, até um violão Di Giorgio de 1973 foi restaurado e vive na Kombi. “Esse violão estava em um ferro velho apodrecendo, com o braço quebrado e o dono disse que o violão não tinha mais saída. Quando alguém fala pra mim que uma coisa não tem saída, é a mesma coisa que me provocar”, comenta.

No caso dele, nada substitui o prazer da restauração. “Restaurar não é explicável e nem existe regra. Eu trabalho nestes carros como alguém que trabalhou na década de 50. Essa é a minha identidade e hoje me sinto feliz”, finaliza.

Este chaveiro foi dado de brinde a alguém que adquiriu um Fusca em 1950. (Foto: Fernando Antunes)
Este chaveiro foi dado de brinde a alguém que adquiriu um Fusca em 1950. (Foto: Fernando Antunes)
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