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Comportamento

Dança do bate-pau e anel de coco em casamento coletivo

Anny Malagolini | 17/12/2012 06:58
Rosa e Reginaldo oficializam união, 20 anos depois. (Fotos: Luciano Muta)
Rosa e Reginaldo oficializam união, 20 anos depois. (Fotos: Luciano Muta)
Rute Poquiviqui é terena e se casou com o advogado Weiner Bondarczuk
Rute Poquiviqui é terena e se casou com o advogado Weiner Bondarczuk

A timidez misturada com o nervosismo de subir ao altar pela primeira vez toma conta de Rosa Reginaldo, aos 44 anos, mesmo depois de 20 anos vivendo com o pedreiro Sergio Paulo Ferreira. “Essa é a primeira oportunidade que tivemos de nos casar na igreja”, justifica a noiva.

Detalhes da roupa e os pés descalços revelam ainda mais o que os traços já demonstram, eles são índios. Uma característica comum a outros 15 casais que fizeram no sábado o 1º casamento coletivo indígena de Campo Grande, na igreja evangélica do bairro Jardim Imá

O culto evangélico há muito já faz parte da rotina das aldeias rurais e também das urbanas. Virou religião para diferentes etnias.

Mas algumas tradições eles fazem questão de lembrar, como respeito à origem e uma forma de mostrar a todos o valor de ser índio. A maioria trocou os ternos e os grandes vestidos brancos por roupas mais simples, com elementos da cultura que veio da aldeia.

Rute Poquiviqui é terena e após 16 anos de união com o advogado Weiner Bondarczuk, oficializou o casamento perante Deus. O romance começou há 16 anos, graças ao irmão de Rute, aluno de Weiner. O “branco” foi parar na aldeia e os dois se conheceram. “Foi amor à primeira vista” afirma Rute.

O casamento no civil já aconteceu há alguns anos, mas o sonho de casar na igreja sempre ficou em Rute, que agora pode realizar um desejo do jeito que achava ser importante. “Nosso povo veio para cidade e essa é uma forma de resgatar nossa cultura”.

Ao invés da tradicional marcha nupcial, os noivos entraram na igreja ao som da dança do guerreiro, o bate-pau terena. É festa, alegria, como a música exige, já que originalmente foi criada para marcar a volta dos índios das caçadas. A troca de aliança de ouro também deu lugar ao anel de coco e a comemoração teve bolo e refrigerante.

O casamento foi conduzido pelo pastor Sidney Bichofs, que há 15 anos realiza esse tipo de cerimônia só para indígenas. “Esse casamento coletivo é para entrar na história por ser o primeiro, mas não a diferença na hora da benção, independe da etnia”.

A índia de olhos verdes, Lidiane Torres Franco, de 29 anos, é meio italiana, meio terena, mas decidiu marcar o casamento com Marco Vinicius Amorin, de 25 anos, aos moldes indígenas. “Fui criada na cidade, mas pelas raízes indígenas por parte da minha família materna resolvi me casar de novo”.

Para o pastor Jonatham José, 60 anos, mais do que reunir o povo terena, a igreja comemora o fato de fazer casamentos. “Está perdendo o significado”, comenta”.

Sem sinais de ansiedade e nervosismo, a noiva de segunda viagem Flavia Paula Barbosa explica que já subiu ao altar de véu e grinalda, há 16 anos, com Ricardo Poquiviqu. “Mas fiz as unhas e comprei um vestido novo para a ocasião”, revela.

Para Ricardo, a confirmação do matrimônio não tem nada mais importante que a valorização da cultura terena, “Estamos afirmando que somos índios e não temos vergonha disso”.

Filha pronta para participar da cerimônia.
Filha pronta para participar da cerimônia.
Índia dos olhos verdes é um pouco italiana, mas fez homenagem à mãe terena.
Índia dos olhos verdes é um pouco italiana, mas fez homenagem à mãe terena.
Detalhe do bolo, nos moldes indígenas.
Detalhe do bolo, nos moldes indígenas.
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