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Comportamento

Deixei no canto um saco com todos os meus sonhos e continuei a caminhar

Mariana Lopes | 01/07/2015 06:12
"Os meus sonhos eram brilhantes demais para uma pessoa tão pequena quanto eu". (Foto: Arquivo Pessoal)
"Os meus sonhos eram brilhantes demais para uma pessoa tão pequena quanto eu". (Foto: Arquivo Pessoal)

Era um dia como outro qualquer, no qual eu fiz as mesmas coisas de sempre: acordei, levantei da cama, me arrumei, fui pro trabalho, trabalhei, voltei pra casa... Mas naquele dia, eu não era a mesma. Algo em mim estava diferente e um sinal de alerta piscava sem parar à minha frente. Sem ao menos me dar conta do que ocorria, eu simplesmente estremeci e deixei em um canto um saco com todos os meus sonhos. E continuei a caminhar, seguindo o curso da vida, como tem que ser.

Dizem que o nome disto é "desistir". Pois bem, lá estava eu, desistindo de tudo o que me moveu até aqui e de tudo o que me impulsionava pra frente. Abandonei o meu "saco dos sonhos" como quem deixa pra trás um saco cheio de papéis amassados.

Sim, eles eram muito preciosos ao meu coração. Eram projetos de vida, desejos de anos, objetivos pelos quais lutei arduamente para fazer dar certo. E, de repente, estavam lá, em um canto qualquer, jogados, colocados em um saco como se jamais tivessem feito sentido. E o pior de tudo: deixados por mim mesma, pelas minhas próprias mãos, por minha total vontade (ou falta de vontade).

Isso mesmo. Cansei! Os sonhos ficaram pesados, parecia que não cabiam mais dentro de mim, talvez de tão grandes que eram. Era uma decisão certa, não queria mais sonho nenhum, não queria mais me preocupar com essas coisas que minha cabeça planejava com meu coração. Queria apenas viver (e isso já me parecia dar um trabalho e tanto).

Fui cobrada. Me apontaram o dedo na cara, me chamaram de covarde, me perguntaram "e agora?"... E agora nada. Os sonhos são meus e os deixo onde eu bem entender que é melhor (para mim e para eles). Tentaram me convencer de que eu estava errada, que uma vida sem sonhos é uma vida vazia... Talvez estivessem certos. Mas a minha prepotência falava mais alto e só conseguia perceber um "blábláblá" chato e clichê.

Já ouvi dizer, em avaliações que fazem por aí sobre minha pessoa, que sou impulsiva e passional. E dia desses, depois que abandonei o tal saco de sonhos, resolvi dar uma volta na quadra para pensar na vida (nada de sonhos, nem pensar).

No caminho, encontrei "anjos" (mal sabem eles), que com testemunhos de vida me fizeram ter saudade daquele saco pesado que eu deixei em um canto qualquer. Senti minha alma vazia e meu coração doer. O que eu tinha feito com meus sonhos??? Mas simplesmente não havia respostas...

Como uma louca desvairada, corri desesperadamente até o canto, aflita com a possibilidade de nunca mais encontrar o meu tão querido saco. A cabeça borbulhava, e a culpa veio... Na verdade, eu nunca quis ter deixado meus sonhos para trás, só achei que eu não os merecia, pois eles eram brilhantes demais para uma pessoa tão pequena quanto eu.

E no meio da minha total amargura e confusão, tropecei naquele velho saco... E ele brilhou pra mim. E eu desisti de desistir, porque nada é menor do que a falta de coragem de assumir os grandes riscos que nossa alma almeja.

*Mariana Lopes é jornalista e colaboradora do Lado B

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