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Comportamento

Depois de ensinar cidade toda a montar, seu Pércio vive hoje de tratar Soñadora

Paula Maciulevicius | 14/08/2016 08:05
Soñadora brinca, deita, rola e até dorme na areia depois que sai da baia. (Foto: Fernando Antunes)
Soñadora brinca, deita, rola e até dorme na areia depois que sai da baia. (Foto: Fernando Antunes)

Pércio e Soñadora. A cena dos dois pela hípica do Círculo Militar parece ter saído de um filme. O nome da égua, pelo menos, veio de um longa metragem. Aos 91 anos, o capitão aposentado hoje vive de tratar a égua que ganhou do filho para que os outros possam fazer o que por décadas foi sua vida: montar. Seu Pércio passou pelo câncer, tirou parte do rim, intestino e próstata, mas não venceu o problema na retina e é por conta disso que saltar agora é só através dos outros cavaleiros.

Todos os dias ele sai de casa - próximo ao Shopping Norte Sul Plaza - e vai à pé até a hípica. O trabalho é o de preparar Soñadora e vê-la brincando pela areia. Nas mãos do instrutor, a égua deita e rola quase igual a um cachorro e se a terra estiver quentinha, ela até tira um cochilo sob o sol.

Nascido em Bela Vista, seu Pércio conta que sabe montar desde os 3 anos de idade. "Isso tem muito tempo, mas era uma época que não tinha carro e nem transporte, então era só cavalo. Papai tinha e quando eu fiz 3 anos de idade, tinha que aprender a montar", conta Pércio Vargas da Rosa. 

Em novembro de 1945, ele entrou para o Exército, onde aprimorou as técnicas na escola de equitação no Rio de Janeiro e de volta ao Estado natal, passou a ensinar. Os soldados que entravam não sabiam montar.

Égua de seu Pércio, hoje é xodó que ele trabalha para que outros cavaleiros montem. (Foto: Fernando Antunes)
Égua de seu Pércio, hoje é xodó que ele trabalha para que outros cavaleiros montem. (Foto: Fernando Antunes)

"Ela gosta de sol, eu vou fazer ela dar um salto de guia para você ver", se gaba Pércio. De raça inglesa, Soñadora nem parece, mas era brava a ponto de não deixar ninguém nem lhe encostar a mão. Foi o tempo, a dedicação e a paixão de Pércio que fez com que ela se abrisse para o carinho.

"É uma raça que tem que saber trabalhar, tem instinto de velocidade. Ela está com 7 anos, demorei 3 para amansar", relata. 

Desde o tempo em que ensinava os soldados até a fundação da hípica do Círculo, seu Pércio contabiliza 60 anos como professor. "Eu que fundei a hípica aqui. Cheguei a ter 130 alunos. Dava aula de manhã, de tarde e à noite", enumera. E de cabeça, ele também sabe o caminho que quem aprendeu com ele seguiu. Um nos Estados Unidos, outro em Costa Rica e por aí vai. 

"O cavalo é um animal que dá satisfação para a gente montar. Só você montando para ter essa satisfação, desde que seja manso e dócil. Essa égua teve que ser trabalhada, é justamente o que eu faço com ela", explica. 

"O cavalo é um animal que dá satisfação para a gente montar. Só você montando para ter essa satisfação", explica. (Foto: Fernando Antunes)
"O cavalo é um animal que dá satisfação para a gente montar. Só você montando para ter essa satisfação", explica. (Foto: Fernando Antunes)
O trabalho diário com Soñadora é feito das 9h às 11h. (Foto: Fernando Antunes)
O trabalho diário com Soñadora é feito das 9h às 11h. (Foto: Fernando Antunes)

E o que, afinal de contas, seu Pércio tem ensinado para os cavaleiros ao longo de tantos anos? "Para aprender a saltar, primeiro tem que aprender a montar. Tem que ter flexionamento, a cintura tem que ser móvel para poder acompanhar o cavalo. Se ele não tiver cintura flexionada, vai dar problema de coluna. Eu por exemplo, tenho 91 anos, monto há mais de 80 e nunca tive nenhum". 

E o alerta vai para a calma. É preciso aprender passo a passo antes de saltar. "Não adianta cavaleiro querer começar hoje a montar e já saltar. Ele não tem condição de acompanhar o salto", avisa. 

O trabalho diário com Soñadora é feito das 9h às 11h. A distância da ida, ele jura que nem sente. "Eu não medi ainda, mas acho que deve ser longe. Para mim, é perto", brinca. 

"Se eu sou feliz com cavalo? Olha, para mim é terapia. Eu estou com 91 anos, quando estive ruim mesmo, eu fui lá com São Pedro e ele falou: não está na sua hora ainda e eu pedi para ser o último da turma. Mas é assim, você tem que ter uma atribuição, uma coisa para fazer, ficar dormindo em casa não dá", conclui.

O recorde dele foi um salto de 1,70m aos 70 anos. Cavalo, para quem conhece como ninguém, sabe que o animal não é inteligente, mas tem uma memória. "Tem que saber trabalhar e dar carinho. Eles têm uma memória impressionante. O que você faz de bom, ele não esquece, o que faz de ruim, também. A Soñadora me entende, o que eu tenho que corrigir eu corrijo e também trago cenoura para ela que o que fez ela amansar. Ela nem deixava encostar", brinca seu Pércio. Hoje Soñadora deita e rola antes dos treinos. 

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Feliz com cavalo, seu Pércio vê os animais como a terapia que o fez chegar aos 91 anos. (Foto: Fernando Antunes)
Feliz com cavalo, seu Pércio vê os animais como a terapia que o fez chegar aos 91 anos. (Foto: Fernando Antunes)
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