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Comportamento

Depois de perder a mãe e a irmã, relógio e gaiola ficaram como lembrança do amor

Thailla Torres | 23/04/2016 07:05
No coração ficou a saudade e nos braços a lembrança dos momentos que marcaram os últimos instantes com a mãe e a irmã. (Foto: Fernando Antunes)
No coração ficou a saudade e nos braços a lembrança dos momentos que marcaram os últimos instantes com a mãe e a irmã. (Foto: Fernando Antunes)

As tatuagens que Rayssa Eller Taveira Lemes, de 21 anos, carrega hoje nos braços são as lembranças que antecederam as maiores perdas que teve nesta vida. A mãe morreu em 2013, vítima de um AVC. A irmã mais velha partiu 5 anos antes, em 2008, após sofrer 7 anos com câncer.

Em pouco tempo, ela precisou aprender a conviver com a saudade de duas das pessoas mais importantes que já teve. Por isso, os desenhos têm um significado muito maior do que uma simples homenagem.

A primeira perda de Rayssa foi aos 14 anos. “Aos 21 anos, minha irmã teve câncer de mama, quando descobriu que estava doente veio morar comigo e com a minha mãe”, conta.

Patrícia tinha 28 anos. Enfrentou o primeiro tratamento e ficou bem. Mas dois anos depois, o câncer voltou no pulmão. Em mais uma tentativa de reabilitação foi descoberto um tumor no cérebro, que a levou à morte.

Rayssa lembra com orgulho da força e esperança da irmã mesmo em tantos momentos difíceis. “Minha irmã era uma pessoa muito forte, de bem com a vida e gostava de curtir a vida que tinha, mesmo depois de todos os problemas de saúde”, lembra.

A gaiola e os pássaros significam o momento que irmã partiu. (Foto: Fernando Antunes)
A gaiola e os pássaros significam o momento que irmã partiu. (Foto: Fernando Antunes)

Tatuagens - A primeira homenagem em forma de tatuagem, Rayssa fez um ano depois, com a autorização e apoio da mãe. O desenho de uma gaiola aberta com pássaros voando tem o significado de libertação no momento que a irmã descansou. “Foi muito difícil entender que minha irmã havia morrido, mas com o tempo, compreendi que ela havia descansado. A gaiola com os pássaros saindo é a liberdade da vida ruim”, esclarece.

Nos braços de Rayssa, o relógio marcando 8h30 é outra lembrança, desta vez dos últimos momentos que ela passou ao lado da mãe Marina Taveira Lemes, que faleceu aos 51 anos. Durante 2 meses, esse era o horário que a filha entrava para ver a mãe no hospital. 

Marina era funcionária pública e estava dando uma palestra quando passou mal e foi internada. Mesmo com sintomas como esquecimento e dores de cabeça, ela estava em um dia comum e nada aparentava algo tão grave. Foi hospitalizada, ficou sem falar e se mexer.

Nos 60 dias que seguiram, Rayssa esteve pontualmente às 8h30, tanto da manhã, como da noite, pronta para visitar a mãe. Eram 30 minutos de permanência, mas que para a filha serviam de esperança de recuperação.

Às 9 horas do dia 3 de agosto de 2013, a mãe de Rayssa descansou. “Foi a pior sensação do mundo, a gente nunca espera, por mais que eu soubesse das condições de saúde, ninguém está preparado”, explica.

No braço direito o relógio às 8h30, horário de visita. (Foto: Fernando Antunes)
No braço direito o relógio às 8h30, horário de visita. (Foto: Fernando Antunes)

Durante todo o tempo de visita, a fé de Rayssa falava mais alto. Após a morte, veio o luto e a incerteza sobre porque tudo estava acontecendo. “Foram seis meses até eu conseguir mexer no quarto dela. Todos os dias que eu voltava pra casa, eu tinha sensação que ela iria chegar. Ela era toda minha força, foi ela que nos criou sozinha”, relata sobre a garra da mãe que trabalhava e criou as três filhas.

O conforto veio na reflexão sobre quanto foram importante os últimos momentos ao lado da mãe. “Quando eu estava no hospital, conheci duas senhoras que estavam cuidando do irmão e elas me disseram algo que vou lembrar para sempre sobre o jeito como as coisas aconteceram: Pensa que esse foi o jeito e o tempo que ela teve para preparar vocês para a partida”, disse uma das senhoras.

Hoje, no coração, ficara a saudade e as melhores lembranças de uma mãe incrível, que nada vai substituir, mas que Rayssa tem certeza que numa vida próxima irá encontrar.

“A vida não me permitiu ter você em cada instante da minha vida, mas eu sei que não importa não te ter fisicamente aqui, porque você mora em mim. Tenho tanto orgulho em pronunciar o seu nome, tanto orgulho em dizer quem foi a minha mãe e espero um dia ser metade da mulher que foi e ainda é dentro de mim”, se declara Rayssa.

Nas fotos, ficaram os momentos de alegria. (Fotos: Fernando Antunes)
Nas fotos, ficaram os momentos de alegria. (Fotos: Fernando Antunes)
Na foto de baixo, Rayssa com Marina e Patrícia.
Na foto de baixo, Rayssa com Marina e Patrícia.
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