ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Depois que Valdir morreu, restou à filha missão de atender último pedido do pai

Emocionante é o jeito que Andreia fala do pai

Thailla Torres | 04/10/2016 06:20
O coração de Andreia se emociona a cada lembrança do pai querido. (Foto: Alcides Neto)
O coração de Andreia se emociona a cada lembrança do pai querido. (Foto: Alcides Neto)

Na porta da loja da família, a placa serve de marketing, mas também é um recado. "Precisamos de clientes com ou sem experiência". A frase fala um pouco sobre desafio que restou à filha, depois que o pai morreu. Difícil é não se emocionar com o brilho no olhar de Andreia ao falar dele.

Dono de uma casa de tintas na Avenida Fernando Corrêa da Costa, Valdir Dias ficou conhecido pela proximidade com os clientes. Quando ele se foi, coube à ela tocar um sonho que nunca foi seu, e hoje, é Andreia que administra o negócio.

Antes de partir, um pedido foi feito. Mas a mensagem só teve sentido depois de algum tempo. “A última palavra que meu pai falou para mim foi: Abre. Naquele momento de desespero, eu entendi que ele estava dizendo para abrir os olhos. Mas na verdade significava abre a loja”, lembra emocionada.

Andreia Dias Anzou tem 39 anos e é corretora de imóveis. Mas carrega na bagagem a experiência como dona da Sucolândia, que era ao lado da loja do pai. Quando precisou fechar as portas e entrar de vez na casa de tintas, foi um recomeço.

Característica do seu Dias, era sorriso e bigode.(Foto: Arquivo Pessoal)
Característica do seu Dias, era sorriso e bigode.(Foto: Arquivo Pessoal)

Valdir morreu aos 61 anos, depois de um acidente enquanto arrumava o telhado da chácara onde pretendia se aposentar. Era terça-feira de Carnaval, quando a telha quebrou em Piraputanga. Ele foi encaminhado para hospital em Aquidauana. “Quando chegou na emergência, o médico disse que era grave. Precisava ser transferido para Santa Casa, mas faltava ambulância e médico”, lembra.

Foram algumas horas de espera, mas que para filha durou uma eternidade. Enquanto se preocupava com o pai, pedia a Deus para que ele chegasse em Campo Grande com vida. No meio do caminho, Valdir teve uma parada cardíaca e não resistiu.

Os minutos que antecederam a morte nunca mais saíram da cabeça de Andreia. Assim como a última conversa que tiveram sobre a morte em outubro de 2015, quando ele acalmou a filha sobre a partida.

“Falava que depois que morresse, não era para ninguém ficar sofrendo. Tinha que continuar a vida e trabalhar. Horas antes, ainda brincou que iria fazer uma lista das pessoas que ele queria no velório. Mas claro que ele nem precisava. Descobri o quanto ele era querido, pelo tanto de amigos que estiveram para despedida”, recorda a filha.

Quando teve noção da mensagem que o pai havia deixado, Andreia se fortaleceu para seguir em frente. “Enterramos ele às 11h da Quarta-Feira de Cinzas. Como tinha muita coisa para fazer naquele dia, não abri a loja. Mas na quinta-feira as portas estavam abertas como era o desejo dele”, diz.

Essa foi a última fotografia de Valdir na loja. (Foto: Arquivo Pessoal)
Essa foi a última fotografia de Valdir na loja. (Foto: Arquivo Pessoal)

Crise - Ao entrar para o primeiro dia ali, sem ele, vieram as lágrimas. “Tudo aqui ainda lembra ele, a cor das paredes, o cheiro e o estoque. Mas foi trabalhando que entendi a necessidade do que ele estava me dizendo", comenta.

Sem pensar duas vezes, a filha seguiu adiante, mas encontrou pelo caminho a crise. O ritmo da empresa hoje é outro e lembrando as qualidades do pai, é que decidiu mostrar ao cliente que estar ali pode ser interessante.

Em um banner de lona, com letras maiúsculas, ela deixou a mensagem em busca de clientes até sem experiência. O recado gera dúvidas e também expectativas. “Eles nem terminam toda frase. Geralmente só reparam no 'precisa' e 'experiência' e entram aqui achando que é vaga de trabalho”, conta Andreia.

Mas o objetivo é mesmo conquistar os clientes mostrando que não precisa entender de tintas, basta entrar. Da mesma forma que o pai conquistava pelo olhar e a experiência, na simplicidade Andreia quer mostrar que o amor de Valdir pelos negócios continua vivo e na mesma família.

“Temos que seguir, essa loja era o sonho e a vida dele. Cresci vendo meu pai aqui dentro, atendendo, sabendo de todas as cores e pintando as paredes. Continuo com a mesma equipe dele, só que agora perdemos um líder e a gente se abraçou para dar continuidade”, descreve com os olhos cheios.

Para ela, o espaço é uma nova família. “Os funcionários estão há anos. Tem gente aqui que era vendedor de chinelo, queijo e carro. Ninguém veio da tinta, mas aprenderam como o meu pai e tinham muito carinho por ele”, conta.

Mesmo com as dificuldades, Andreia interpreta as mudanças como um aprendizado e acredita que o pai deixou a palavra como riqueza para toda vida. “Meu pai sempre foi a base da família e de muita responsabilidade. Era um homem de palavra e foi isso que ele me deixou. Faço questão de manter tudo isso, sei que não é tudo da forma como ele fazia, mas acredito nas pessoas e aos pouquinhos vou mostrar para os clientes que o a energia do seu Dias continua aqui”, acredita.

Curta o Lado B no Facebook.

Faixa atrai clientes curiosos e com expectativa. (Foto: Alcides Neto)
Faixa atrai clientes curiosos e com expectativa. (Foto: Alcides Neto)
Nos siga no Google Notícias