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Comportamento

Do marido ficou o noivado em 7 dias e a certeza de que a vida não lhe deve nada

Paula Maciulevicius | 04/12/2015 06:12
Maira e Adilson, em julho de 1991. Foram sete meses entre namoro, noivado e casamento. (Foto: Arquivo Pessoal)
Maira e Adilson, em julho de 1991. Foram sete meses entre namoro, noivado e casamento. (Foto: Arquivo Pessoal)

Maira tem uma voz firme, de quem imposta e mede as palavras antes delas saírem da boca. Nas mãos, duas alianças juntas do anel dado de presente no aniversário de 10 anos de casamento e, no coração, a saudade de um amor que partiu. Dona de academia, ela também é dona de uma das mais rápidas e intensas histórias de amor vividas. Aceitou se casar com uma semana de namoro porque sabia que Adilson, mestre de Taekwondo, era o grande homem da sua vida. 

O que ficou de quem partiu? "Eu vivi com esse homem uma linda história de amor. Eu sei exatamente o que é um amor pleno".

"Era dezembro de 2004, ele se acidentou na piscina. Ele e os meninos sempre brincavam de sair correndo do quintal e pulava no golpe. Numa dessas, brincando com o Diogo, que tinha 10 anos, ele caiu de forma errada e água vira cimento dependendo do caso..."

Aliança dele está junto da dela. (Foto: Gerson Walber)
Aliança dele está junto da dela. (Foto: Gerson Walber)
A faixa de um eterno campeão. (Foto: Arquivo Pessoal)
A faixa de um eterno campeão. (Foto: Arquivo Pessoal)

Adilson Valério Herradon tinha 37 anos, fraturou duas vértebras e contundiu a medula. Não morreu na hora. Foram duas semanas no hospital. Às vésperas do Natal, os médicos liberaram e ele voltou para casa. Junto veio um "mini-hospital". Sem movimentar a parte direita do corpo, o professor de luta não perdeu a consciência em nenhum momento.

Com uma semana que estava em casa, teve um mal estar, depois de sair da posição deitada e se sentar. Passado por exames, os médicos decidiram operá-lo. "Foi o tempo de preparar o centro cirúrgico. Eu beijei ele, ele me pediu que não demorasse, falei que não iria. Não deu tempo de eu sair do meu quarto e ele passou mal. Ali já começou a apagar..."

As cenas desesperadoras não saíram até hoje da cabeça dela. Que conta em detalhes as horas que viu passar até que o socorro chegasse. "Não foram horas, foram só segundos, não deu tempo de acudir e ele morreu em casa, três semanas depois do acidente", conta.

A morte rompeu um ciclo de felicidade e amor maior, deixou no ar planos do casal e uma mulher sem chão. Adilson e Maira se conheceram através dos irmãos, a irmã dela era casada com o dele. Foram 15 anos até eles se encontrarem num sentimento tão genuíno. Ele morava em Foz do Iguaçu e ela aqui. Depois de terminar um noivado de 5 anos, ela pediu aos céus por um amor intenso. "Eu sentia angústia muito grande no meu peito. Queria viver um grande amor, não queria me casar por conveniência, porque já tinha tudo", recorda.

O casal e os filhos: Diogo e Yago. (Foto: Arquivo Pessoal)
O casal e os filhos: Diogo e Yago. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para se animar, ela aceitou o convite da irmã de ir visitar os sogros em Foz do Iguaçu. Pais de Adilson. "Lá eu tive um contato maior com ele, conversamos, nos conhecemos bastante e nos apaixonamos ali, naquele primeiro contato". O sorriso que toma conta de Maira transforma o semblante de quem revive a fatia mais doce do passado. Era outubro de 1990. Ela veio embora e dois meses depois ele estava em Campo Grande, para juntos passarem as festas de fim de ano.

No início, tudo teve de ser escondido. A família de Maira ainda acreditava na volta com o ex-noivo. "A gente fugia da família para se encontrar. O réveillon, nós passamos juntos, escondidos e ele me pediu em casamento". Maira sorri com os olhos ao lembrar do pedido, com um brilho que arrisco a dizer que se assemelha ao daquela virada de 1991.

"Ele falou: vamos nos casar em julho? E foi exatamente assim. Ele me pediu em casamento com uma semana que estávamos juntos", completa.

Em abril, Adilson chegou com os quimonos, faixas e na bagagem o histórico de um lutador, não só no tatami, mas de quem acreditava que poderia lutar pelo esporte também aqui. Eles abriram juntos, no dia 3 de maio de 1991, uma "portinha" que funcionava como academia de Taekwondo. Ela de secretária, ele de mestre, esperando pelo primeiro aluninho.

Apesar de doce, o passado dói. As lágrimas vem como quem quer cicatrizar a dor. "Estou sendo muito forte em aceitar a falar com você. Passaram-se todos esses anos e falar dele é impossível por tudo o que nós planejamos.

"Além da saudade, ele deixou a certeza de que a vida não me deve absolutamente nada". (Foto: Gerson Walber)
"Além da saudade, ele deixou a certeza de que a vida não me deve absolutamente nada". (Foto: Gerson Walber)

Aconteceu para mim o que aconteceu para ele, na mesma batida. O amor, quando ele é de verdade, é na mesma velocidade e isso ninguém me contou. Eu vivi". O choro dela agora tem companhia, o meu, do lado de cá.

O casamento foi no dia 27 de julho de 1991 e três meses depois, Maira engravidou do primeiro filho, Yago, hoje com 23 anos. Um ano depois, nasceu Diogo, agora com 21.

A precocidade marcou a história deles, ao lado da intensidade. Maira foi noiva por cinco anos, mas foi preciso só uma semana de namoro para que ela subisse ao altar. "Com ele namorei, noivei e casei em sete meses", soma. A história foi curta, breve, interrompida 14 anos depois.

O tempo era pouco em anos, mas longo se contar os segundos. Por trabalharem juntos, eles passavam 24h por dia lado a lado. Adilson dizia eu te amo de várias formas, não só em palavras. Da mais simples ida ao mercado, vinham nas compras o que ela mais gostava. "Ele chegava e falava: 'olha Buga, o que eu trouxe para você'. Se ele ia fazer algo com o carro e via uma goiaba, parava, se estrupiava e pegava para trazer pra mim. Ele me servia café da manhã todos os dias na cama".

Da própria história, Maira tirou a lição de que tudo na vida deles foi precoce, porque Deus sabia que seria por pouco tempo. "Foram 14 anos que eu não sei... Passaram tão rápido e já se passaram 11 da morte dele. Lutar com o Adilson era uma coisa, sem ele, foi outra. A nossa relação é de um homem e uma mulher que se encontram e resolvem se amar para sempre.

A minha esperança é reencontrar ele, de verdade, não é poesia, não é palavra rebuscada, não é utopia. Eu vivo pensando em encontrar ele de volta".

"O que ficou do Adilson? Além da saudade, ele me deixou a certeza de que a vida não me deve absolutamente nada. Se eu choro, é de saudade. Eu tenho uma paz muito grande pelo que nós vivemos juntos e tenho muita saudade. Uma saudade tão intensa que me dói na carne. O que ficou do Adilson é um legado muito grande de companheirismo, de amor um pelo outro e dois grandes frutos desse amor", resume.

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Diogo, Maira e Yago hoje, 11 anos depois que Adilson partiu. (Foto: Gerson Walber)
Diogo, Maira e Yago hoje, 11 anos depois que Adilson partiu. (Foto: Gerson Walber)
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