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Comportamento

Dona "Maria Sem Troco" guarda até hoje o dinheiro que não devolvia aos clientes

Adriano Fernandes | 29/12/2015 06:12
O bar nem nome tinha, mas ficou conhecido pela fama da dona, a Maria Sem Troco.(Foto: Arquivo Pessoal)
O bar nem nome tinha, mas ficou conhecido pela fama da dona, a Maria Sem Troco.(Foto: Arquivo Pessoal)

Por mais de 60 anos, dona Maria José da Luz Lira escreveu a história de “Maria Sem Troco”. É a comerciante mais conhecida de Rochedo, personagem da cidade. Dona de um bar, que nem sequer nome tinha, ela fez a fama que mantém até hoje, graças ao apelido curioso.

No estabelecimento que nunca tinha troco, a regra era simples: ou o cliente gastava os trocados no bar ou recebia em balas ou doces. “Mas a dona Maria sem troco, não dava troco para ninguém”, lembra a simpática senhorinha. Era tudo tática comercial, garante ele, hoje aos 82 anos. O dinheiro trocadinho, para devolver, dona Maria sempre teve, até porque naquela época não existia cartão de débito e o jeito era pagamento em espécie.

Ela não se recorda do total que chegou a "colecionar", mas conta que foram muitas as moedas e até notas colecionadas, do troco que ela não devolvia. “Eu guardei por um bom tempo os vários sacos de sal mineral, que adaptei e enchi com as moedas que eu colecionei”, lembra.

Dona Maria Sem Troco hoje tem 82 anos. (Foto: Marcos Ermínio)
Dona Maria Sem Troco hoje tem 82 anos. (Foto: Marcos Ermínio)

Mas com o passar dos anos, a coleção dos cruzeiros e cruzados foi perdendo valor devido as várias trocas de moedas. O que restou daquela época foram apenas às notas antigas, além das poucas fotografias de quando era dona de bar.

Hoje dona Maria ainda se recorda com carinho da época de movimento intenso no comércio que tocava para sustentar a família.

O bar ficava na Rua Doutor Estevão Arnaldo de Figueiredo e era ponto de parada para ônibus de viajantes.

O apelido “sem troco”, dona Maria diz ter recebido de um antigo delegado da cidade vizinha, de Corguinho. De espírito alegre, ela garante que nunca se incomodou com o nome curioso e que já lhe rendeu diversas homenagens. Um professor já fez poema sobre ela e até em música do compositor Béko Santanegra a Maria Sem Troco é citada.

Entre o trabalho no bar e o cuidado dos três filhos, ela conta que um de seus programas favoritos eram os carnavais. “Adorava ir pra rua pular Carnaval. Já pulei muito”, ri.

Festeira, Dona Maria Sem Troco em um dos muitos carnavais que ela pulou.(Foto: Arquivo Pessoal)
Festeira, Dona Maria Sem Troco em um dos muitos carnavais que ela pulou.(Foto: Arquivo Pessoal)
Cruzeiros, cruzados, "urv" e outra geração de moedas que Dona Maria guardou de troco.(Foto: Arquivo Pessoal)
Cruzeiros, cruzados, "urv" e outra geração de moedas que Dona Maria guardou de troco.(Foto: Arquivo Pessoal)

Mas um AVC (Acidente Vascular Cerebral), sofrido há três anos, fez com que ela tivesse que diminuir o ritmo.

Dona Maria Sem Troco hoje em dia tem dificuldades para falar e andar, mas sempre que pode vai com os filhos em eventos em Rochedo. Em Campo Grande, ela vem ao menos duas vezes por semana para as sessões de fisioterapia e até, terapia com cavalos.

Dos tempos em que foi dona do bar, ela diz não sentir saudades. Mas da cidade onde ficou famosa ela garante não vai sair tão cedo. ”Em Rochedo eu nasci, me casei, fiquei viúva e lá vivo até hoje. De lá não saio nem depois que eu morrer”, brinca.

O falecimento do marido foi um dos únicos momentos tristes da vida lembrados por ela na cidade onde sempre viveu tantas alegrias. O caminhoneiro Paulo José de Lira faleceu em 1971, com câncer. Daquela época, quem conta os detalhes é uma das filhas de dona Maria, a professor Lúcia Marta de Lira.

Segundo ela, o momento da perda do pai foi justamente o período onde Dona Maria Sem Troco mais se dedicou aos trabalhos no bar. Contando apenas com a ajuda de uma cunhada, dona Maria tirava dali o sustento dos três filhos que teve de criar, praticamente sozinha. Em 2000, o bar da Dona Maria Sem troco fechava as portas.

Lucia faz questão de guardar como lembrança algumas poucas unidades das notas que restaram. Na época em que a popularidade da mãe começou a aumentar, o apelido até incomodava ela e os irmãos, mas com o passar do tempo eles perceberam a importância dela como parte da história da cidade.

“Quando éramos crianças, nós chegávamos a brigar com quem chamasse ela de Maria Sem Troco. Depois percebemos que não havia problema nenhum, que o apelido era carinhoso e que ela era muito querida. Assim como é até hoje”, avalia.

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Dona Maria atendendo o ex prefeito de Rochedo, Chico Catarino. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dona Maria atendendo o ex prefeito de Rochedo, Chico Catarino. (Foto: Arquivo Pessoal)
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