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Comportamento

Drogas, sexo e brigas familiares mantêm confissão em alta nas igrejas

Às quartas-feiras, dez padres atendem até 700 pessoas em templo da Capital

Aline dos Santos | 29/06/2013 12:13
Com nova roupagem,  o ato de reconciliação com Deus ganha ares de terapia.  (Foto: Marcos Ermínio)
Com nova roupagem, o ato de reconciliação com Deus ganha ares de terapia. (Foto: Marcos Ermínio)

Dependência, questões sexuais e brigas familiares mantêm o sacramento da confissão em alta mesmo em tempos do proibido proibir. Com novos conceitos, como a troca da nomenclatura pecado por dilema, fim das penitências folclóricas e até a abolição do confessionário, o ato de reconciliação com Deus ganha ares de terapia em Campo Grande.

A procura é tão grande que, no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, foi montada uma estrutura diferenciada. Às quartas-feiras, dez padres atendem até 700 pessoas entre 6h e 22h.

Na análise do diretor do Instituto de Teologia, padre Wilson Cardoso de Sá, uma coisa não muda: desde a Idade Média as pessoas associam pecado à sexualidade. “O pessoal conta coisas relacionadas a sexo. Não é só isso. Falam de adultério, mas não falam que maltrataram o empregado”, exemplifica o padre, ordenado há 21 anos.

Neste campo, até pecados em pensamento, como desejar alguém comprometido, levam o cristão a pedir perdão. Segundo o padre, em sentido estrito, pecado quer dizer ruptura com Deus. “É como o adultério, os noivos juram amor e fidelidades. Mas um rompe o pacto, a aliança”, compara.

De acordo com o padre Dirson Gonçalves, da Perpétuo Socorro, a igreja orienta que o católico se confesse pelo menos duas vezes ao ano. “Na preparação para a Páscoa e Natal, respectivamente Quaresma e Advento”, explica. Também durante a missa há o ato penitencial, em que o fiel pode pedir perdão a Deus pelos seus atos. Mas, então, como explicar tamanha procura fora de época?

Para o sacerdote, a reposta são os dilemas humanos. “Muita gente vem atrás de orientação, conselho, questionando o que fazer. São relacionamentos complicados. Casamento, namorados, pais e filhos, filhos e pais”, afirma.
As dificuldades acabam levando para um segundo estágio de problemas: a dependência. “Dependência de drogas, bebidas afetiva, de bens materiais. Para superar a carência que está sentido”, diz.

Outro dilema que atormenta quem procura a confissão é como equilibrar religião e homossexualidade. Neste caso, o padre Dirson evoca a consciência. “A consciência é um sacramento vivo onde Deus está. Só habitamos eu e Deus. Não posso forçar a fazer alguma coisa se você, em sua consciência, já avaliou, estudou”, afirma.

Mil orações – A punição também foi reformulada. Nada de rezar por horas a fio. “A penitência é o ato de se arrepender. Digo para rezar três ave-marias, não como penitência, mas como agradecimento a Deus”, relata o padre Dirson Gonçalves.

O espaço físico para o sacramento também migrou de cabines para o diálogo olho no olho. A orientação é que a confissão seja feita em uma sala que permita a visão de quem está de fora. No comando do instituto que forma os futuros sacerdotes, o padre Wilson Cardoso de Sá enfatiza que é reforçado o ensinamento de que é preciso se colocar à disposição dos fieis, mesmo na rotina de afazeres na administração de uma paróquia.

Também no quesito penitência, ele salienta que a igreja parte para a linha de uma Justiça restaurativa. “Se você fez aborto, nada vai trazer a pessoa de volta, mas vá e ajude uma criança, uma família. Se você roubou R$ 10 mil, devolva os R$ 10 mil. Se você caluniou, vá ao microfone da rádio pedir perdão”, diz.

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