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Comportamento

Ela decidiu ser monja por querer liberdade acima do casamento

Paula Maciulevicius | 29/07/2013 07:47
A clausura para ela não seriam quatro paredes e sim uma aliança no dedo. (Fotos: Cleber Gellio)
A clausura para ela não seriam quatro paredes e sim uma aliança no dedo. (Fotos: Cleber Gellio)

Maria do Carmo da Silva até os 20 anos. Nos últimos 28 ela é Madre Maria Benigna Silva. Sorridente e de pulso firme, foi por querer liberdade além do casamento que ela escolheu ser monja. A clausura para ela não seriam quatro paredes e sim uma aliança no dedo. "Gostava muito da liberdade, do coração. Tinha o ciúme, mas eu queria ter essa liberdade, ter a amizade das pessoas. Um belo dia, veio o pensamento na minha cabeça, se eu for para a vida religiosa, vou ser livre. Entrei, estou até hoje e sou livre".

Para quem está mosteiro afora é difícil entender, ela mesmo diz, assim como foi para ela viver o pouco de um relacionamento. Foi por querer todo mundo por igual e não conseguir nutrir um sentimento de amor apenas ao namorado, ela se achou no mosteiro.

Madre Benigna é uma daquelas personagens que você encontra por sorte. O Lado B a viu andando pelo Centro, em um busca de um liquidificador. Mal sabíamos nós que ela se tratava da madre abadessa, a dignidade mais alta concedida à mulher dentro da Igreja Católica. Como ela são apenas três no País. Junto da peculiaridade de quem escolhe a vida enclausurada, o Lado B também quis conhecer um mosteiro. As portas se abriram, mas com inúmeras restrições.

Na sala de visitas, aquele cheiro que já nos remete a uma igreja. Seja pela madeira dos bancos e cadeiras, pelo tapete, ou a associação que se faz logo de cara, ao se deparar com imagens e retratos de santos e do papa João Paulo II. O que nos tempos antigos já foi lugar de mulheres colocadas pelos maridos para que não saíssem, hoje é apenas um reservado mosteiro de clausura para as irmãs, onde para sair é preciso autorização da madre superiora.

Da rotina de rezar ao nascer do dia ao voto de silêncio. A monja que deixou o casamento para ser livre.
Da rotina de rezar ao nascer do dia ao voto de silêncio. A monja que deixou o casamento para ser livre.

Em quase três décadas de mosteiro, a madre explica que realmente é preciso sentir o chamado que vem de Deus para entrar na vida religiosa. Não se trata de uma escolha própria, é você que acaba escolhido.

Nascida numa família muito simples, do interior do Paraná, Maria trabalhou na lavoura dos pais até os 20 anos. O sítio já era um preparo para a vida reservada que o destino lhe preparava. A jovem às vezes passava semanas sem ver outros rostos senão dos irmãos. Nas mãos ela guarda até hoje as cicatrizes da colheita de milho, do arado e puxar burro.

"Eu sabia que tinham as religiosas, mas passava semanas sem ver ninguém. Para você ter uma noção, seis meses antes de eu entrar para o mosteiro é que chegou a energia", conta.

Católica de berço, foi pelo receio da mãe de morrer e deixar a mais nova de cinco irmãos sozinha que ela tentou engatar um namoro. "Minha mãe sempre falava que não queria morrer e me deixar solteira, que queria que eu casasse. Eu falava que não ia casar não, vou ser titia, já que eu já tinha duas irmãs casadas", recorda. Mas no fundo, no fundo, ela deu razão à mãe e arrumou um namorado.

"Namorar para mim era diferente do que era para os outros. Eu queria bem todo mundo e como que eu ia casar assim? Com uma pessoa única?", questionou. Entre as perguntas sem respostas, a justificativa para aquele vazio veio de cima. Ela, que até então, seguia firme em acreditar não ter nascido para um casamento, não suportava a ideia de ter a liberdade tirada. "De querer bem as pessoas, de amá-las. Um casal ama apenas um ao outro, eu não era assim, eu não nasci pra isso", explica.

Quando decidiu entrar para a vida religiosa, achou o caminho da liberdade do amor e de amar a todos. O primeiro mosteiro veio a ser o do Estado do Paraná. Há cinco anos, quando veio a se tornar madre superiora, Benigna passou a tomar conta do mosteiro cisterciense de Campo Grande, localizado na avenida Eduardo Elias Zahran, onde ela e mais 11 monjas vivem reclusas. "A gente ama as pessoas não com palavras, mas com atos", resume.

Da rotina de rezar ao nascer do dia ao voto de silêncio. O Lado B divide a história das monjas de Campo Grande em capítulos. Hoje, encerrou o da madre que trocou o casamento pelo mosteiro.

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