ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 21º

Comportamento

Ele viaja 150 km todas as terças para estudar canto e violão e se tornar famoso

Paula Maciulevicius | 03/07/2014 06:13
Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. Todo esforço ele já está fazendo. (Fotos: Marcelo Victor)
Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. Todo esforço ele já está fazendo. (Fotos: Marcelo Victor)

Toda terça-feira a rotina é a mesma. Sair da cidade de Rio Negro, onde mora, de van, às 5h da manhã, percorrer 150 quilômetros rumo à Capital. Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. O estilo, nada que surpreenda, é o sertanejo universitário, mas o esforço do rapaz é de tirar o chapéu.

A van estaciona em Campo Grande por volta das 7h40, único horário disponível e o compromisso do jovem aqui começa só depois do almoço, às 13h, na aula de canto e violão na escola de música Carlos Gomes. Para fazer hora, ele fica andando por aí, olhando vitrine e o movimento em geral e às vezes só passando vontade. Tem terça que a grana é curta e ele só tem o dinheiro para voltar pra casa.

“Tem dia que eu fico na praça, teve vezes de não ter dinheiro e ficar sem almoçar, quando eu não tinha nada mesmo, só o dinheiro da passagem”, conta. São R$ 25 para ir e outros R$ 25 para voltar. “A gente tem que fazer o que pode, não é?”, indaga.

As aulas de canto e violão acontecem todas às terças. De Rio Negro, o rapaz vem e volta para casa de van.
As aulas de canto e violão acontecem todas às terças. De Rio Negro, o rapaz vem e volta para casa de van.

As aulas, começadas há cinco meses, são para aperfeiçoar a técnica tanto de voz, como de violão. Há três anos a música entrou na vida dele depois que o sonho de ser jogador de futebol ficou distante. O rapaz conta que um tumor ósseo no joelho e a cirurgia o fizeram encerrar o que podia se tornar carreira. Num festival de canção da escola, surgiu a paixão pelas notas musicais.

De imediato, ele formou uma banda junto de amigos e um primo, que não enxerga e toca bateria. Na base da camaradagem, tanto do grupo como de comerciantes da região, o rapaz já faz shows nas cidades ao redor de Rio Negro. De retorno? Só a divulgação do trabalho mesmo, por enquanto ele paga para se apresentar.

“É devagar, não tem estrutura, é na base de pegar carro emprestado, pedir gasolina. Trabalhei um tempo numa loja de antenas parabólicas e meu salário todo era para pagar a música e as despesas dos shows”, explica. “Só o espaço já era suficiente, sabe? Para divulgar mesmo”.

Terminadas as aulas, ele espera até 17h30 para voltar pela mesma van e chegar em casa às 19h. Filho de uma dona de casa e um professor, o pai trabalha como secretário na prefeitura da cidade e ajuda dentro da medida do possível. Desde que começou as aulas, Matheus já tentou morar em Campo Grande, na casa de parentes, a tentativa falhou e ele teve de voltar.

O jeito então foi se adaptar entre idas e vindas. Os 300 quilômetros às terças tem lhe rendido o reconhecimento pelo empenho.

“Esse esforço, ele não está sendo à toa, é o que eu gosto, o que eu sinto prazer. Cada conquista vai valer 100% a pena. Valer a pena ter esperado a van, saído de casa só com o dinheiro da passagem, passar a manhã inteira olhando para o nada. Você começa a se valorizar, não vai ser jogado fora”, resume.

Sobre o sonho de vir para a cidade em busca do sucesso, Matheus diz que a maioria das pessoas procura fazer até onde alcança, sem dar um passo maior que a perna. O dele, por exemplo, é para o aperfeiçoamento musical e conquistar uma oportunidade. Os planos agora são de se mudar para Campo Grande, alugar uma quitinete e arrumar um serviço. “Fora a música, tem que se manter, não é? Procurar um meio de sobreviver”.

O empresário é o pai mesmo e quem sempre deu todo apoio. "Ele sabe que eu gosto e é meu incentivador", descreve. Matheus também compõe e tem duas músicas registradas, uma homenagem à dupla de MS, Munhoz e Mariano e a outra mais romântica. "Dança Munhoz e Mariano, em ritmo de arrocha e a outra é Vou amar você, este é o carro-chefe que eu pretendo gravar", compartilha.

Com o sonho de ser um astro do sertanejo universitário, ele já tem duas músicas registradas.
Com o sonho de ser um astro do sertanejo universitário, ele já tem duas músicas registradas.
Nos siga no Google Notícias