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Comportamento

Em 30 dias e com menos de R$ 1 mil, qualquer um abre igreja em Campo Grande

Elverson Cardozo | 10/06/2014 07:52
Na Calógeras, igreja ainda está com faixa de inauguração. (Foto: Marcelo Victor)
Na Calógeras, igreja ainda está com faixa de inauguração. (Foto: Marcelo Victor)

Já reparou no tanto de igrejas na região central de Campo Grande? Só no trecho percorrido pelo Lado B - Rui Barbosa, 13 de Maio, 14 de Julho e avenida Calógeras -, entre a Mato Grosso e Afonso Pena, são 7, praticamente uma por quarteirão. Uma delas está, inclusive, com faixa de inauguração.

Há quem diga que isso virou negócio, e dos bons. Quem tem uma se defende de críticas assim, sai pela tangente, fala em nome de Deus e jura, de pé junto, que o trabalho é missionário e dá mais dor de cabeça do que se imagina. Evangelizar é tarefa árdua. É preciso ter vocação para atender ao “chamado divino”, pregam.

Pode até ser, mas colocar uma igreja para funcionar não é assim tão difícil. Com cerca de R$ 950,00 – dinheiro empregado na documentação necessária – é possível registrar uma no cartório. O trâmite burocrático demora, em média, 30 dias. E nem é preciso ser pastor.

A informação é do presidente da Clieb (Convenção de Líderes das Igrejas Evangélicas do Brasil), em Campo Grande, Antônio Carlos Ferreira Bittencourt, mais conhecido como bispo Carlos.

A entidade representa mais de 100 igrejas evangélicas na cidade e, entre outros trabalhos, presta assessoria a líderes que querem “cuidar do próprio rebanho”. Existe, segundo ele, duas maneiras de se abrir uma igreja: pelo ministério local ou nacional.

Bispo Carlos explica, no quatro, que existem duas maneiras de abrir uma igreja. (Foto: Marcelo Victor)
Bispo Carlos explica, no quatro, que existem duas maneiras de abrir uma igreja. (Foto: Marcelo Victor)

A primeira, em linhas gerais, permite apenas uma sede e em região pré-determinada. Pelo estatuto, é proibido abrir “filiais”. É um sistema de administração centralizada. A segunda é mais abrangente. Podem ocorrer inaugurações em qualquer lugar do território nacional.

Independente do modelo escolhido, não é necessário ser pastor para abrir uma igreja. No cartório, ninguém exige uma carteirinha do ofício ministerial, diz o bispo. Basta dizer que é líder, apresentar estatuto, fornecer a documentação necessária, pagar as despesas e, pronto, está tudo certo.

Isso é um problema. A lei, que ele considera frouxa neste sentido, da margem a qualquer charlatão. É por isso, avalia, que existem tantas “portinhas” abertas e outras tantas fechadas. Quem age de má-fé acredita que pode lucrar, mas, geralmente, comete em erros comuns de administração e, às vezes, até se enrosca com a justiça. Equipamentos registrados em nomes de pastores é um dos problemas mais comuns.

Abrir igreja é negócio sério, comenta. Tem que saber administrar e, por isso, é importante ser vinculado a uma entidade como a Clieb, ensina. Pastor Paulo Aparecido dos Santos, de 43 anos é ligado à associação, tem carteirinha ministerial e garante que faz um trabalho sério.

Ele tem 7 igrejas em Mato Grosso do Sul, três no interior do Estado (Terenos, Aquidauana e Anastácio) e 4 em Campo Grande. A mais antiga fica no Buriti. Foi aberta há 5 anos. A mais recente está no Tiradentes. As outras estão no bairros Bom Jardim e São Conrado. Todas levam o nome de Igreja Evangélica Pentecostal – Deus proverá curas e milagres.

Cristão há 14 anos, Paulo administra 7 igrejas em MS. (Foto: Marcelo Victor)
Cristão há 14 anos, Paulo administra 7 igrejas em MS. (Foto: Marcelo Victor)

Cristão há 14 anos, Paulo conta que é pastor porque atende a um chamado vocacional, tem uma missão, mas afirma que não é fácil. O início da “obra”, no Buriti, foi difícil. Os cultos aconteciam em uma salinha, sem cadeira, sem nada, com capacidade para 80 pessoas, mas, não raras vezes, só tinha ele pregando em cima do púlpito.

Hoje, com ampliações recentes, o ambiente recebe mais gente e comporta pelo menos 200 membros, mas ainda não tem piso. Para comprar o material, Paulo está organizando um feijoada, cujo entrada é vendida a R$ 10,00. É sempre assim. Eventos beneficentes, doações e o dízimo garantem o dinheiro das despesas.

Mas até isso acontecer, conta, é preciso e orar muito, visitar e evangelizar. A “portinha” do Tiradentes foi a última aberta, há 5 meses. Tem cultos às quartas, sextas e domingos. Poucos aparecem. E quando não vai ninguém, o líder não se intimida. Pega o microfone, aumenta o som e prega como se estivesse falando para uma multidão: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles...”.

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