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Comportamento

Em cerimônia pagã, noivos pulam vassoura e voltam a casar em 1 ano

Paula Maciulevicius | 28/11/2013 06:13
Noivos pulam vassoura para varrer o passado da vida de solteiros. (Fotos: Wagner Oliveira)
Noivos pulam vassoura para varrer o passado da vida de solteiros. (Fotos: Wagner Oliveira)

A cerimônia começa com a batida do tambor e varridas, para limpar as energias e mudar a vibração do ambiente. Os sacerdotes que realizam o primeiro casamento pagão aberto ao público são das religiões Druidismo e Wicca e juntaram num mesmo ‘sim’ elementos das duas vertentes para unir Rose e Alessandro.

Antes que o casamento comece, quem acompanha a cerimônia está de olho em cada detalhe. Parte dos convidados não tinha até aquele dia, assistido a um ‘eu vos declaro marido e mulher’ pagão. Ao invés da aliança, o matrimônio é compreendido pelo enlace de mãos, o Handfasting. O casamento pagão é um casamento de iguais que a gente só entende a essência no proclamar dos votos.

A noiva, Rose Borges, é da religião Wicca e juntou os familiares do marido, que são católicos, além de padrinhos evangélicos e ateus. Como qualquer casal, eles estiveram na cerimônia para firmar o compromisso do casamento perante a sociedade e os deuses. A diferença está no plural, a Wicca crê na deusa do sagrado feminino e num deus. O Druidismo é politeísta.

Ele é do Druidismo, ela, da Wicca e juntos foram os sacerdotes do primeiro casamento pagão público.
Ele é do Druidismo, ela, da Wicca e juntos foram os sacerdotes do primeiro casamento pagão público.

Voltando os olhos para o altar, uma garrafa de vinho, incenso, velas e punhal, em volta de um círculo que deve ser consagrado, garantindo a proteção dos noivos. Para isso, a dupla de sacerdotes, Elizabete Bonfim, da Wicca e Hugo Fernandes Gondim do Druidismo, espalha incenso, água e traça o círculo com uso do punhal, marcando a proteção ao redor do altar.

O soar de um sino é o aviso de que os padrinhos, seis de cada lado, podem começar a entrar. Os noivos já estão se vendo neste momento. Porém cada um de um lado. Os dois usam branco. Ela uma coroa de flores na cabeça, porque pela religião, o véu e a grinalda são vistos como submissão.

Rose entra pela direita do altar, Alessandro, pela esquerda. No corredor os olhares se cruzam e juntos, eles fazem o último caminho como solteiros até os sacerdotes. Os sapatos ficam de fora do círculo e antes que se acheguem para a cerimônia começar, cumprimentam e agradecem a presença de cada padrinho. Colocados um ao lado do outro, é hora de pedir permissão aos espíritos ancestrais para que a cerimônia aconteça.

O laço deve permanecer atado para que os caminhos deles jamais se desvencilhem.
O laço deve permanecer atado para que os caminhos deles jamais se desvencilhem.

Perante o altar e os convidados, o futuro casal apela por paz às direções e mundos, guiados pelos sacerdotes, saúdam as direções Leste, Norte, Oste, Sul e a Centralidade. Ritual específico do Druidismo. “Saúdo a direção Leste, de onde provém toda prosperidade e riqueza. Que a paz seja nosso maior bem”, declara Hugo. E assim por diante.

A cerimônia pagã volta a ter semelhanças como as tradicionais quando Elizabete pede bênçãos ao casal para a Deusa do amor divino. “Eu te peço que abençoes este casal, o seu amor e seu casamento pelo tempo em que viverem juntos no amor. Possa cada um desfrutar de uma vida saudável, cheia de alegria, amor, estabilidade e fertilidade”.

A troca de alianças não é tradicional do casamento Druídico e nem Wicca, mas foi adaptada para o ritual. “Como símbolos do amor entre eles, nós purificamos para que ali não fiquem vibrações negativas. No enlace de mãos, havia somente o enlace das mãos dos noivos. Era o símbolo perante a comunidade e deuses de que os dois foram “enlaçados”, explica Hugo. Mas perante a sociedade, é preciso que se troquem alianças. “Que todas as vibrações negativas, impurezas e obstáculos sejam afastados daqui! E que penetre tudo o que é positivo, terno e bom. Abençoamos estas alianças em nome dos deuses e deusas. Assim seja”, declaram os sacerdotes.

Já casados diante da sociedade não pagã, o matrimônio só é selado pelo enlace de mãos. Enquanto lhes são passadas as cordas, nas cores vermelha, amarela e branca, os sacerdotes pedem para que o laço permaneça atado por eles e que seus caminhos jamais se desvencilhem. “Assim seja, assim será, assim o é”.

Daqui um ano, a contar do último domingo, os deuses e deusas esperam o casal para renovar os votos firmados.
Daqui um ano, a contar do último domingo, os deuses e deusas esperam o casal para renovar os votos firmados.

Com as mãos atadas é a hora mais emocionante do casamento. A troca de votos que comprova que homem e mulher, diante do paganismo, são iguais. Noivo e noiva juram as mesmas palavras.

“Não podes possuir-me, pois pertenço a mim mesmo. Mas enquanto nós dois quisermos eu te darei o que é meu, e que posso dar-te. Não podes mandar em mim pois sou livre. Mas te servirei naquilo que for necessário e a maçã que te oferecerei será mais doce. Prometo que teu será o nome que chamarei a noite, e teus olhos para os quais sorrirei pela manhã. Prometo que teu será a primeira parte da minha refeição e o primeiro gole da minha xícara. Prometo-te o meu viver e o meu morrer, entregando cada um igualmente aos teus cuidados. Serei um escudo para suas costas e tu para as minhas. Não te difamarei, nem tu me depreciarás. Respeitar-te-ei acima de tudo e de todos. Este é o meu voto de núpcias a ti. Este é o casamento de iguais.”

Depois dos juramentos, o casal vive por um ano juntos, e se neste tempo decidiam firmar casamento perante a sociedade, outro ritual é feito para confirmar. As religiões pagãs acreditam que o amor é um aspecto que dura enquanto duas pessoas assim desejarem, por serem livres. Assim como existe o rito de casamento, há um de separação, para que as vibrações negativas não fiquem entre as pessoas e a amizade continue.

“Tudo possui um ciclo, contudo o ciclo não é uma roda? Então ele é eterno. Ou seja, tudo deve ser renovado no lugar e momento certos. Na verdade os laços e juramentos devem ser renovados, para sempre se relembrar as palavras ditas. Esta é a função de um ritual, comemorar, rememorar”, completa.

O casamento termina com a declaração feita pelos sacerdotes, que Alessandro e Rose são rei e rainha de si, entre si. E que daqui um ano, a partir desta data, eles são aguardados para renovar os votos que firmaram.

“Pelo poder da Deusa e de seu consorte, eu os declaro marido e mulher pelo tempo que viverem ambos, que vivam juntos no amor. Assim seja”.

Antes de beijar a noiva, o casal pula a vassoura, ritual para que eles tenham uma vida cheia de alegria. “Simbolicamente, as vidas de solteiro são varridas para o passado. A palha representa a família, o cabo é o Grande Espírito e o cipó de amarrar significa o compromisso do casal”, finaliza Elizabete.

Os noivos pulam, saem alegres e tem as vidas passadas varridas. E daqui um ano, a contar do último domingo, os deuses e deusas esperam o casal para renovar os votos firmados.

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